Seul acusa Pyongyang de ter ordenado a colocação de minas que mutilaram dois militares sul-coreanos na semana passada.
A tensão constante na fronteira entra as duas Coreias atingiu nos
últimos dias um novo ponto mais sensível, depois de dois militares
sul-coreanos terem ficado feridos com gravidade na explosão de minas
anti-pessoal. O governo do Sul acusa o Norte de ter colocado três minas
na zona desmilitarizada, no lado sul-coreano, e exige um pedido de
desculpas oficial e a condenação dos culpados.
O caso
aconteceu no dia 4 de Agosto, nas imediações da cidade de Paju, onde
estão localizadas várias bases militares sul-coreanas. Num vídeo
divulgado pelo Ministério da Defesa da Coreia do Sul é possível ver o momento de uma das explosões,
que ocorreu junto à vedação que marca o início da zona desmilitarizada –
um dos militares viu serem-lhe amputados ambos os membros inferiores e o
outro ficou sem uma das pernas.
A primeira medida de retaliação por parte do Sul foi o recomeço das
trasmissões de propaganda através de altifalantes, algo que já não
acontecia desde 2004. Através deste sistema, muito contestado pelo
governo de Pyongyang, as autoridades sul-coreanas fazem chegar a
cidadãos norte-coreanos notícias sobre o que se passa do outro lado
fronteira – e também, neste caso, a condenação do ataque que mutilou os
dois sargentos.
Até ao momento não é conhecida qualquer reacção
oficial por parte da Coreia do Norte, mas a Presidente da Coreia do Sul,
Park Geun-hye, disse esta terça-feira que vai "manter a pressão" sobre o
regime de Pyongyang, sem especificar medidas. Apesar disso, salientou
Park, o seu governo "vai manter os esforços para o reatamento do diálogo
com a Coreia do Norte".
As declarações da chefe de Estado
sul-coreana foram proferidas ao lado do ministro dos Negócios
Estrangeiros do Reino Unido, Philip Hammond, que está de visita ao
país, e que também condenou o caso: "Condenamos este ataque não
provocado. E os norte-coreanos devem ser responsabilizados pela violação
do armistício", afirmou o responsável.
A explosão das minas anti-pessoal junto à zona desmilitarizada foi o
caso mais grave entre as duas Coreias desde 2010, quando quatro
sul-coreanos (dois militares e dois civis) morreram num ataque da
artilharia norte-coreana contra a ilha de Yeonpyeong, no seguimento de
exercícios navais no Sul – as autoridades de Pyongyang disseram que
responderam a fogo disparado contra as suas águas territoriais. Meses
antes, no mesmo ano, a corveta da Marinha sul-coreana Cheonan afundou-se,
morrendo 46 pessoas – uma investigação internacional, que contou com
especialistas dos EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Suécia concluiu
que o navio foi afundado por um torpedo norte-coreano, mas o regime de
Pyongyang negou sempre essa acusação, e a China e a Rússia também
contestaram as conclusões da investigação.
Muitos activistas
sul-coreanos têm exigido uma reacção mais forte por parte de Seul – e,
num raro momento de consenso, o partido no governo e a oposição
aprovaram por unanimidade uma declaração a condenar o incidente da
semana passada.
O ministro da Defesa, Han Min-koo, garantiu que as Forças Armadas
sul-coreanas vão responder com "confiança, resolução e sem hesitação" a
quaisquer "provocações" por parte do Norte. "As mais recentes acções do
inimigo constituem uma clara provocação e violação do acordo de
armistício e do pacto de não-agressão entre o Sul e o Norte", afirmou o
responsável – apesar de ainda estarem tecnicamente em guerra, as duas
Coreias assinaram um armistício em 1953 e um pacto de não-agressão em
1991.
As autoridades sul-coreanas dizem ter a certeza de que as
minas foram colocadas pela Coreia do Norte, entre 22 de Julho e 4 de
Agosto, período que decorreu entre as duas vistorias militares àquela
área. Em conferência de imprensa, o
major-general Koo Hong-mo especificou que se tratava de minas ATM-74,
que consistem em barras de TNT colocadas numa caixa de madeira.
Estima-se
que as duas Coreias tenham colocado várias centenas de milhares de
minas ao longo da fronteira, durante a guerra e nas décadas que se
seguiram, e muitas delas são arrastadas quando as fortes chuvadas
provocam deslizamentos de terras, principalmente do Norte para o Sul –
segundo um relatório de 2011, pelo menos 116 civis sul-coreanos morreram
em explosões de minas em Gangwon, na fronteira com a Coreia do Norte.
Do Publico
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