A Eletronuclear, subsidiária de energia nuclear da Eletrobras, negocia com as empreiteiras UTC e EBE (Empresa Brasileira de Engenharia) uma solução para os pagamentos em atraso do contrato de montagem de equipamentos da usina nuclear Angra 3 (foto).
As duas empresas continuaram no consórcio chamado Angramon após outras cinco empreiteiras terem desistido do contrato, alegando atrasos no pagamento: Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Techint.
Investigadas pela Operação Lava Jato, essas cinco empreiteiras desistiram do contrato alegando pagamentos atrasados em 135 dias. Somente o contrato de montagem da usina nuclear prevê gastos de R$ 2,9 bilhões.
"O consórcio tem uma clásula de solidariedade. Se alguns saírem, os que permanecem precisam seguir com a obra. Então, existe a negociação com a Eletronuclear", disse o diretor financeiro da Eletrobras, Armando Casado.
Segundo o diretor, o que estaria em negociação seria uma dívida de cerca de R$ 80 milhões referentes aos pagamentos atrasados em menos de 90 dias. Um prazo, portanto, menor do que o alegado pelas empresas que deixaram o consórcio.
Sobre as empresas que anunciaram a desistência da obra, Casado disse que a saída está sendo negociada e que o contrato não chegou a ser suspenso, como anunciado. "A simples manifestação da saída não é suficiente. É preciso uma negociação", disse, sem dar detalhes.
Um dos problemas enfrentados na construção da usina é a liberação de recursos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Segundo fontes, o banco liberou R$ 2,5 bilhões de um financiamento aprovado de R$ 6,146 bilhão.
Casado disse que o contrato com o BNDES exige garantias de 15% do valor financiado. Com problemas financeiros, a empresa teve dificuldades de oferecer as garantias e os valores acabaram represados. A questão estaria sendo negociada com o banco.
Apesar dos problemas, as obras de construção civil de Angra 3 -como a torre do gerador nuclear e os prédios administrativos- continuam em curso. Por isso, a previsão de inauguração da usina em dezembro de 2018 foi mantido.
LAVA JATO
A Eletrobras contratou o escritório de advocacia internacional Hogan Lovells para investigar se houve corrupção em seus projetos. Essas investigações ainda estão em curso na usina nuclear de Angra 3, segundo o diretor.
As empresas contratadas para a montagem de Angra 3 são investigados por suspeitas de pagamento de terem pago R$ 4,7 milhões ao almirante Othon Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear (2007 a 2014). Ele nega.
As supostas propinas teriam sido pagas para que a Eletronuclear não colocasse obstáculos para a união de dois consórcios que venceram a licitação, segundo Ricardo Pessoa, presidente afastado da UTC, que fez um acordo de delação após ter sido preso pela Polícia Federal.
PRIVATIZAÇÃO
A Eletrobras segue com sua intenção de vender o controle da distribuidora de energia de Goiás, a Celg D, até novembro deste ano, disse Casado, que participou nesta quinta-feira (20) de um encontro com investidores na Apimec, no Centro do Rio.
Depois da Celg D, a estatal vai estudar a venda de outras distribuidoras do grupo. A Eletrobras tem participação majoritária em distribuidoras de Alagoas, Piauí, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima.