O governo potiguar ganhou um aliado para tentar conter a crise que afeta o sistema penitenciário do estado. Na noite desta terça-feira (25), um dos helicópteros da Secretaria de Segurança Pública do Ceará chegou ao Rio Grande do Norte. A primeira missão foi dar cobertura ao espaço aéreo durante a troca de presos que aconteceu entre a Penitenciária Estadual Desembargador Francisco Pereira da Nóbrega, o Pereirão, que fica em Caicó, na região Seridó, e o Presídio Rogério Coutinho Madruga, em Nísia Floresta, na Grande Natal.

O remanejamento envolveu 193 detentos que fazem parte de facções rivais. Seis presos foram mortos nos últimos dias após confrontos entre membros dos dois grupos. Ainda há os casos de dois presos que foram encontrados enforcados com lençóis, nos quais a polícia não descarta a possiblidade de ambos terem sido assassinados em razão dos conflitos.
Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública do RN, o helicóptero cearense é uma aeronave de maior porte, um EC 145 com dois motores e que é homologado para voos e traslados noturnos. “Ele deve ficar aqui até a próxima semana, que é quando o nosso helicóptero, o Potiguar 1, retorna da manutenção. O serviço está sendo feito em Fortaleza”, explicou o tenente Christiano Couceiro.

O sistema penitenciário potiguar encontra-se em estado de calamidade desde o mês de março. Durante oito dias, detetos se rebelaram e 14 unidades prisionais foram depredadas. Ainda em meio aos motins, ônibus foram incediados nas ruas de Natal. A Secretaria de Segurança Pública acredita que as ordens para os ataques partiram de dentro dos presídios. Juntamente com o decreto, a Força Nacional foi chamada e a situação acabou controlada. Já o atual momento de crise, no entanto, começou no dia 16, quando quatro detentos foram mortos na Cadeia Pública de Caraúbas, na região Oeste do estado. Dois dias depois, um preso foi morto no Presídio Rogério Coutinho Madruga, em Nísia Floresta, na Grande Natal. Na manhã desta segunda-feira (24), no próprio Pereirão, em Caicó, um interno também foi assassinado.
Na Cadeia Pública de Caraúbas foram mortos Antônio Edigleidson de Souza, o Ceará, de 27 anos; Genilson Bezerra de Oliveira, mais conhecido como Assuzinho ou Quinho, de 36 anos; Gledstone Clementino Araújo, chamado de Jacaré, de 36 anos; e João Paulo Silva Dias, o JP, de 38 anos. No Presídio Rogério Coutinho Madruga o preso assassinado foi Emerson Santos da Luz, de 28 anos, mais conhecido como 'Índio'.
Já no Pereirão, foi morto o detento Fábio Júnior da Silva Patrício, 21 anos, natural da cidade de Serra Caiada. À noite, quatro dos cinco pavilhões da unidade foram parcialmente destruídos durante uma rebelião. Na tentativa de vingar a morte do interno, presos quebraram cadeados, arrancaram grades das celas, arrombaram paredes e incendiaram colchões e lençóis. Os pavilhões destruídos estavam sendo reformados e o trabalho já havia entrado na fase de conclusão.

Além destes seis presos mortos em confrontos, a polícia inda investiga a possibilidade de outros dois detentos terem sido assassinados em razão dos conflitos. Ainda na segunda-feira, na madrugada, um preso identificado como Cassiano Henrique Galvão, de 21 anos, foi encontrado enforcado dentro do Presídio Provisório Raimundo Nonato, na Zona Norte de Natal. Na terça (25), o presidiário Denison Barbosa de Oliveira, de 27 anos, foi encontrado morto em uma das nove celas do primeiro andar do Centro de Detenção Provisória do Potengi, também na Zona Norte da capital potiguar. E ele foi encontrado enforcado com um lençol.

Retaliações
Em entrevista ao RN TV 1ª Edição desta terça-feira (25), o secretário Edilson França afirmou que o governo já esperava por retaliações dentro dos presídios após a morte dos quatro detentos na Cadeia Pública de Caraúbas (veja vídeo ao lado). "Nós temos grupos antagônicos evidentemente lutando entre si e desde as primeiras mortes em Caraúbas nós sabíamos que haveria retaliações dentro dos presídios", afirmou.
Facções
Durante 10 meses do ano passado, o Ministério Público do Rio Grande do Norte realizou uma investigação que revelou a existência de duas organizações criminosas responsáveis por ‘ditarem as diretrizes e princípios’ no sistema penitenciário do estado. Estas diretrizes e princípios, segundo o MP, são seguidas pelos integrantes das organizações que articulam crimes dentro e fora dos presídios.

O órgão ministerial aponta ainda que um dos grupos tem forte relação com outros estados da federação. As denúncias feitas apontam a existência de organizações criminosas dentro do sistema penitenciário estadual desde 2003. Na ocasião, "diversas fontes" relataram ao MP a existência de uma facção dando as ordens na Penitenciária João Chaves, na Zona Norte de Natal. Desativada em 2006, a unidade ficou conhecida como ‘Caldeirão do Diabo’.

Alcatraz
No dia 2 de dezembro foi realizada uma operação denominada 'Alcatraz' - uma alusão ao nome da penitenciária americana instalada na ilha de Alcatraz, que no início do século XX recebia os chamados chefões do crime organizado. Em vários presídios do RN, e fora deles também, foram cumpridos 223 mandados de prisão e 97 mandados de busca e apreensão. A operação envolveu o Ministério Público, Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal.

Dos 223 mandados de prisão, 154 foram para investigados já presos, integrantes das duas organizações criminosas. Além do Rio Grande do Norte, as ordens judiciais foram cumpridas também em São Paulo, Paraná e Paraíba. No RN, os mandados foram cumpridos em Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Currais Novos, Caicó, Assu, Parelhas, Lajes, Jucurutu, Jardim do Seridó, Jardim de Piranhas, São Vicente, Acari, Cruzeta e Santa Cruz.

Do G1