A geopolítica estratégica dos Estados Unidos é ameaça à soberania do Brasil sobre o pré-sal. Esta é a principal conclusão da palestra do professor Raphael Padula, da UFRJ, no seminário “Uma estratégia para o Brasil, um plano para a Petrobras”,
promovido pela Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET) e pelo
Programa de Pós-graduação em Economia Política Internacional da UFRJ,
nesta quarta-feira (23), no Clube de Engenharia (RJ). Segundo Padula, a
geopolítica dos EUA, no século XXI, tem como foco a garantia de acesso a
recursos naturais indispensáveis tanto para eles, como para os aliados.
Entre os 10 maiores importadores de petróleo, apenas China e Índia
podem ser considerados fora do controle estratégico dos EUA. Para o
professor isto explica a importância da “tutela” que garante aos
norte-americanos o apoio dos países aliados na defesa de seus interesses
diretamente ligados às questões neoliberais, de garantia de mercados às
empresas e serviços dos EUA.
Para confirmar seu raciocínio, Padula relatou as mudanças na política
externa dos EUA no século passado, no pós-guerra e depois da dissolução
da União Soviética. O fim da guerra fria levou a maior potência do
planeta a eleger novas ameaças à paz mundial, da qual se julga o grande
defensor, como o narcotráfico e o terrorismo.
Mas os altíssimos níveis de desenvolvimento da China trouxeram um
novo ator ao cenário mundial que, associado ao nacionalismo de Vladmir
Putin, na potência militar da Rússia, fazem frente ao poderio
norte-americano. A China já é o segundo maior consumidor de recursos
naturais do planeta, e tem poucas reservas. A Rússia, além do arsenal
atômico, tem reservas de hidro carburetos indispensáveis, principalmente
à Europa ocidental, grande aliada dos EUA.
Diante deste cenário e coerente com sua geopolítica, os Estados
Unidos reforçam sua política intervencionista de garantir o acesso aos
recursos naturais, tendo seus aliados como parceiros, diante da
fragilidade deles na obtenção destes recursos.
No final da palestra, Padula trouxe esse cenário para a realidade da
América Latina e, principalmente, para o Brasil. Segundo ele, a
estratégia dos EUA é a de impedir o surgimento de potências regionais em
áreas de abundância de recursos naturais. Geograficamente, o Brasil
está estrategicamente localizado, além de possuir um território que
representa mais de 50% do subcontinente sul-americano e com reservas
consideráveis das principais commodities minerais.
Assim, o modelo proposto para a nossa região, segundo Padula,
insere-se dentro da geopolítica dos EUA como países que devem ter suas
Forças Armadas voltadas para o controle de conflitos internos, combate
ao narcotráfico e ao terrorismo, mas incapazes de defender suas riquezas
naturais. Papel que caberia aos Estados Unidos. Além disto, é
necessário impedir o fortalecimento de associações como o Mercosul e a
Unasul, contrapondo isto a políticas apenas de livre comércio.
Raphael Padula demonstrou como o giro na política externa brasileira,
a partir de 2003, até então totalmente favorável aos interesses da
geopolítica dos EUA, passa a incomodar a grande potência. O Brasil
assume seu papel de protagonista em seu entorno estratégico, reforçando o
ideal integrador do Mercosul, além de um espaço de livre comércio e
expandindo suas ações rumo à África ocidental, vizinha do Atlântico sul.
Com a descoberta do pré-sal, as decisões brasileiras sobre a forma de
exploração desta riqueza elevaram as tensões entre diplomáticas entre
Brasil e EUA. O emergente protagonismo do primo pobre do sul incomodou. O
primo rico tratou de reativar a 4ª Frota Naval, específica para o
Atlântico sul; rejeitou a resolução da ONU que garantia o direito
brasileiro nas 200 milhas continentais. E espionou, como revelado no
caso Wikileakes.
Raphael Padula encerrou sua palestra afirmando que os interesses da
geopolítica americana não podem permitir o surgimento de uma potência
regional, detentora de recursos minerais estratégicos e, ao mesmo tempo,
com uma empresa pública eficiente como operadora única da maior reserva
de petróleo descoberta neste século.
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