Moscou e Washington vêm mantendo consultas intensivas sobre as formas de
solucionar a crise síria. Derrubada de líder sírio pode sair de foco
por receio de avanço do EI, mas especialistas não acreditam que EUA vai
desistir de ideia depois de gastos no conflito.
Setembro vem sendo marcado por intensivas consultas entre Moscou e
Washington sobre a questão da Síria. Diplomatas e militares dos dois
países já se encontraram para discutir a prevenção de possíveis
incidentes na região, embora um combate conjunto ao Estado Islâmico (EI)
ainda não esteja nos planos.
As autoridades norte-americanas podem atualmente obter informações
sobre a cooperação entre Moscou e Damasco através do canal de
comunicação restaurado entre os ministérios da Defesa dos Estados Unidos
e da Rússia. No entanto, o destino do presidente sírio Bashar Al-Assad
ainda é motivo de controvérsia entre os países.
Enquanto os Estados Unidos buscam aliados para derrubar Assad, Moscou
insiste que os próprios sírios decidam o destino de seu líder sem
interferência externa.
Gueôrgui Mírski, pesquisador sênior do Instituto de Economia Mundial e
Relações Internacionais da Academia Russa de Ciências (Imemo Ran, na
sigla em russo), aponta, no entanto, mudanças na retórica dos EUA.
“Embora Washington insista na queda de Assad, não estipula prazo para
isso nem descarta a presença dele nas negociações”, disse à Gazeta Russa.
Exemplo disso é a declaração do secretário de Estado dos EUA, John
Kerry, no sábado passado (19). “Estamos prontos para a negociação. Mas e
Assad, estará disposto a negociar? A Rússia está pronta para trazê-lo à
mesa de negociação e encontrar uma saída para a crise?”.
As mudanças do posicionamento dos EUA em relação ao presidente sírio
podem estar relacionadas ao acordo sobre o programa nuclear do Irã,
assinado em julho. “Após o acordo com Teerã, Assad deixou de ser um
aliado do inimigo”, disse Mírski.
Além disso, o pesquisador garante que o principal adversário dos
Estados Unidos na Síria hoje é o EI, e não Assad. “Se os extremistas do
EI chegarem ao poder na Síria, isso será um duro golpe para a segurança
de toda a região. E Obama entrará para a história como o presidente
norte-americano que entregou Damasco aos terroristas.”
Três saídas, uma aposta
Embora cautelosos ao fazer previsões, os especialistas sugerem três
cenários possíveis para o futuro da Síria: um acordo com Assad, um
acordo sem Assad e o prolongamento do conflito.
“O cenário no qual Assad está incluído é o menos provável, porque os
EUA já gastaram muitos recursos em prol de sua deposição e simplesmente
não podem admitir a derrota”, disse à Gazeta Russa Tatiana Tiúkaeva, professora do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou (Mgimo, na sigla em russo).
Opinião semelhante é compartilhada por Mírski. “Para os Estados
Unidos, Assad é um mal menor em comparação com o Estado Islâmico. Porém,
se Obama concordar em deixa-lo no poder, recairá sobre ele uma
avalanche de críticas”, destacou.
Ambos os especialistas concordaram também que seria preferível manter
o regime sírio, porém com afastamento de Assad. “Essa pode ser a melhor
saída, mas sua implementação é dificultada pelo posicionamento de
lideranças regionais da Turquia, da Arábia Saudita e do Qatar”, afirmou
Tiúkaeva. “O mais provável é o prolongamento do conflito.”
Israel em alerta
O reforço da cooperação militar entre Rússia e Síria geraram
desconforto com o governo de Israel. No início da semana, o
primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu viajou para Moscou em
caráter de urgência, acompanhado por chefes das agências de segurança do
país.
Em reunião com Pútin, as partes concordam em criar um grupo
encarregado de desenvolver um mecanismo para coordenar ações nas
“esferas aérea, marítima e eletromagnética” e minimizar os riscos de
colisões acidentais, especialmente no ar, e outros incidentes na Síria.
Da Gazeta Russa
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