Por uns momentos, na segunda-feira, na chatice que costuma ser a
discurseira na abertura da assembleia geral da ONU (o Brasil tem a honra
de iniciar todo ano a verborragia), imperava o clima de alta tensão da
Guerra Fria.
O presidente americano Barack Obama falou. Logo depois, foi a vez do
presidente russo Vladimir Putin (que deu as caras na ONU depois de 10
anos). E mais tarde, os dois tiveram uma reunião bilateral. Para Obama, o
“tirano” Bashar Assad deve sair do poder. Para Putin, o “presidente
legítimo” da Síria deve ficar. Ele é parte de uma espécie de cruzada
contra o terror do Estado Islâmico. Santo Putin.
A Rússia de hoje nem de longe pode se comparar ao império soviético,
dos tempos em que Nikita Khrushchev batia o sapato durante a assembleia
geral da ONU. No entanto, o clima de alta ansiedade engrandece nosso
homem em Moscou. Seu timing sírio é impecável.
Antes de aparecer na ONU, Putin anunciou o envio de soldados, aviões,
tanques e artilharia para a Síria, em uma reentrada no Grande Jogo do
Oriente Médio (não que a Rússia tenha completamente partido). Fica claro
o empenho para exercer influência e dissipar a ideia de que Putin seja
um pária internacional apesar de sua desastrosa e abjeta intervenção na
Ucrânia.
Síria é um rolo no qual perdemos o fio da meada e no desolado jargão
não existem boas soluções. Na verdade, nem existem más soluções para
resolver o drama. No entanto, sobre Putin não devemos perder o fio da
meada. Na constatação afiada de Anne Applebaum (a quem costumo recorrer
para decifrar nosso homem em Moscou), a reentrada síria de Putin
basicamente é parte de sua jogada para permanecer no poder.
A bandeira de legitimidade de Putin por 15 anos foi a seguinte: eu
não sou democrata, mas garanto estabilidade, crescimento econômico e
melhores condições de vida para todos. No entanto, com a queda dos
preços do petróleo e sanções internacionais, devido à intervenção na
Ucrânia, não dá mais para desfraldar a velha bandeira.
A nova é a seguinte: eu não sou um democrata e a economia pode estar
afundando, mas a Rússia gloriosamente recupera seu lugar na arena
mundial. E tem mais: a alternativa ao autoritarismo não é democracia, é o
caos.
A rigor, Putin não tem músculos militares para projetar efetiva
influência no Oriente Médio. E não poderá fazer na Síria o que faz na
Ucrânia. Não vou negar que ele tenha um papel a exercer. Afinal, Putin é
intimamente ligado a uma das milícias que operam na guerra civil síria,
a de Assad, atrai o Iraque para sua órbita de influência e está afinado
com o Irã, o grande patrono do ditador sírio.
O essencial, eu reitero, é doméstico. Na agitprop de Putin, a
Europa é frouxa, os EUA são decadentes e qualquer mudança primaveril
(no mundo árabe ou em outra parte) resulta em caos. A alta ansiedade é
se Obama rechaça os acenos de Putin, qual é o plano sírio?
Os americanos simplesmente não têm um plano S para a Síria e hoje se
mostram resignados que Assad tenha aliados e sobrevida, enquanto
Washington não tem quem apoiar na guerra civil. A atuação de Obama nos
últimos quatro anos foi um fiasco estratégico e humanitário, abrindo
espaço para o jogo de Putin.
De Veja - Autor: Caio Blinder
2 Comentários
Os norteamericanos sempre apoiaram Nuriegas, Bin Lades, ditaduras latino-americanas (exceto Cuba, é lógico, pois não atendem, ainda, seus interesses, exceto a Província de Guantánamo), governos Não Democráticos Árabes, Africanos e Asiáticos... mas a lógica no Inconsciente Social (Erich From) é que o "xerife", na verdade o Império, segue sabotando "países amigos", invadindo mesmo sem aprovação da própria ONU, espionando e sequestrando cidadãos... que o digam Eduard Snowden, Jimmy Hoffa, etc...
Ora o governo constituido da Aráqbia Saudita é tão constituido quanto o da Siria, porque Putin não deveria manter a manutenção de Assad, quem está sendo atacado por várias facções que disputam, a bala, o poder ?!...
Miguel Junior.
Os norteamericanos sempre apoiaram Nuriegas, Bin Lades, ditaduras latino-americanas (exceto Cuba, é lógico, pois não atendem, ainda, seus interesses, exceto a Província de Guantánamo), governos Não Democráticos Árabes, Africanos e Asiáticos... mas a lógica no Inconsciente Social (Erich From) é que o "xerife", na verdade o Império, segue sabotando "países amigos", invadindo mesmo sem aprovação da própria ONU, espionando e sequestrando cidadãos... que o digam Eduard Snowden, Jimmy Hoffa, etc...
Ora o governo constituido da Aráqbia Saudita é tão constituido quanto o da Siria, porque Putin não deveria manter a manutenção de Assad, quem está sendo atacado por várias facções que disputam, a bala, o poder ?!...
Miguel Junior.