Israel admitiu
recentemente que, em 6 de setembro de 2007, oito caças israelenses F-15
executaram ataques aéreos ultrassecretos à instalação Al-Khubar, na
região de Deir ez-Zor, a 300 km a noroeste de Damasco, e destruíram um
reator nuclear que estava em desenvolvimento há anos e programado para
entrar em comissionamento no fim de 2007.
O
ex-general Amos Yadlin, que na época era o chefe da inteligência
militar israelense, relatou à imprensa que a "operação de inteligência,
executada em território sírio em 2006, comprovou a existência de um
projeto de reator nuclear de plutônio, que tinha um único objetivo – a
criação de uma bomba atômica".
"A questão ímpar para nós em 2006 era: de quanto tempo dispomos antes do
carregamento do reator com combustível nuclear. A resposta que
encontramos era de seis a sete meses. Em seguida, houve o planejamento
secreto da operação, que tinha dois objetivos, destruir o reator e
escapar da guerra. Os dois objetivos foram alcançados", disse o general.
Não está muito claro o motivo de Israel ter revelado essa operação
ultrassecreta somente agora. A resposta foi dada pelo ministro da
Inteligência de Israel, Yisrael Katz, em uma mensagem de congratulações
ao então primeiro-ministro do país Ehud Olmert relativa à "decisão de
destruir o reator nuclear na Síria há 11 anos".
"O sucesso da operação faz com que entendam que
Israel nunca permitirá armas nucleares àqueles que ameaçam sua
existência […] Síria ontem, Irã hoje", exclamou.
A República Islâmica do Irã, inimiga eterna do Estado judeu, tem
causado muita preocupação a Israel. Ainda antes da revolução islâmica
iraniana, seu futuro líder e criador da República Islâmica do Irã,
Khomeini, colocou Israel em segundo lugar na lista de inimigos, em
primeiro lugar estavam os EUA. Depois de 1979, o antissionismo se tornou
o principal inimigo político da República Islâmica do Irã. A tese que
se repetia em Teerã sobre a necessidade de apagar as entidades sionistas
do mapa, não melhorou a situação política em Tel Aviv. O programa
nuclear da República Islâmica do Irã, expandindo-se rapidamente sem
nenhum controle internacional durante várias décadas, foi o propulsor de
um grande aumento de confrontos entre Israel e Irã, que quase se
converteu em guerra em 2010-2011.
O acordo nuclear ou Plano de Ação Conjunta Global (JCPO, sigla em
inglês) assinado em julho de 2005, tendo como signatários os cinco
membros permanentes da ONU, amenizou a tensão temporariamente.
A situação piorou novamente depois da guerra civil na Síria e a
intensificação das atividades militares e políticas do Irã nesse país.
Israel está preocupado com o aumento da influência de Teerã sobre o
regime de Bashar Assad, os reforços das posições militares e a expansão
da presença militar da República Islâmica do Irã em território sírio,
principalmente perto da fronteira síria-israelense, e a presença dos
xiitas na Síria.
Sinalizando as ambições atuais do Irã, o ministro da Defesa israelense,
Avigdor Lieberman, observou que a "motivação de nossos inimigos tem
aumentado nos últimos anos, no entanto, com isso aumentou a potência das
Forças de Defesa de Israel […] essa equação deve ser entendida por
todos no Oriente Médio".
Não há nenhuma dúvida que Israel tem aumentado seu potencial militar nos últimos anos.
Depois do início do conflito sírio, Israel realizou cem ataques
aéreos a instalações na Síria, que supostamente estavam vinculadas às
atividades da República Islâmica do Irã e ações militares xiitas do
grupo libanês Hezbollah, o qual é apoiado pelo governo iraniano.
De acordo com o jornal Al-Jazira, do Kuwait, que declara ter fontes
confiáveis, inclusive do comando da força militar norte-americana no
Oriente Médio, dois caças-bombardeiros da Força Aérea de Israel, ao
atravessarem despercebidos o Iraque e a Síria, invadiram recentemente o
espaço aéreo iraniano. Israel não confirmou nem refutou essa mensagem
oficialmente. Ao mesmo tempo, especialistas militares duvidam da
veracidade dessa ação israelense. No entanto, nota-se que entre 4 e 15
de março, Israel realizou exercícios militares batizados de Juniper
Cobra, juntamente com os EUA.
Em geral, pode ser constatado que a situação ao
redor do Irã está ficando cada vez mais tensa devido às atividades da
República Islâmica do Irã na Síria e o destino do Plano de Ação Conjunta
Global.
Em decorrência do fato, houve uma mudança na administração do
presidente norte-americano, Donald Trump. Segundo a imprensa, Trump está
formando um gabinete militar anti-iraniano. Como é de conhecimento
geral, Trump é um ferrenho opositor ao Plano de Ação Conjunto Global e
ameaça romper o acordo nuclear em maio. Seu novo conselheiro de
segurança nacional, John Bolton, que escreveu a matéria intitulada "Para
parar bomba iraniana, deve-se bombardear o Irã", aconselhou ataques
preventivos e "mudança de regime".
Mike Pompeo, novo secretário de Estado dos EUA, classifica o Irã como
"governo severo e policial", "teocracia despótica" e "vanguarda do
império destrutivo, que expande seu poder e influência no Oriente
Médio", o qual tem de ser combatido.
Trump não apenas faz a reconstrução de sua administração, mas também
restaura as relações com seus aliados do Oriente Médio, envolvendo-os em
atividades anti-iranianas. E não é difícil de fazer isso com base na
cronologia de Tel Aviv e Riad sobre Teerã.
Segundo a imprensa, o governante árabe favorito de Trump é o príncipe
herdeiro da Arábia Saudita Mohammad bin Salman, de 32 anos de idade,
que chama o líder da República Islâmica do Irã de "Hitler do Oriente
Médio". Os sauditas também se opõem ao Plano de Ação Conjunto Global. O
príncipe Salman já disse várias vezes que, se não for feito de tudo para
impedir o Irã de criar arma nuclear, seu país se tornará uma potência
nuclear "o mais rápido possível".
"Se os esforços contínuos da Arábia Saudita de
conter geopoliticamente o Irã e seu programa nuclear não forem
bem-sucedidos, provavelmente isso resultará em guerra daqui a 10 a 15
anos", afirmou o príncipe.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, também demostra
posição rígida em relação ao Irã ao denominar o acordo nuclear como uma
ameaça à sobrevivência de Israel, e afirma que o Irã é "a maior ameaça
para todo o mundo".
Não há dúvida de que o reconhecimento oficial da ação de Israel na
destruição do reator nuclear na Síria em 2007 é um sinal da determinação
de Tel Aviv de impedir a consolidação das posições de Teerã na região e
a criação de condições para a produção de uma arma nuclear, como já foi
confirmado pelo general Yadlin.
"Este é um sinal de que, quando se trata de
interesse de maior importância e ameaça séria à existência de Israel,
Israel irá agir – mesmo que sozinho", disse.
Entretanto, aparentemente Israel não terá que agir sozinho. Uma
coalização anti-iraniana já foi criada, a qual outros inimigos da
República Islâmica do Irã estão prontos a aderir.
E uma pergunta importante: haverá um confronto real? A maioria dos
analistas acredita ser pouco provável que aconteça uma guerra de grande
escala contra o Irã por muitas razões. Contudo, o mais importante que é
que tanto Jerusalém como Teerã não querem "guerra fria". Não por acaso, o
vice-ministro das Relações Exteriores da República Islâmica do Irã,
Abbas Araghchi, declarou recentemente que a presença do Irã na Síria não
significa o prenúncio de um novo confronto contra Israel, mas o combate
ao terrorismo.
Do Sputnik
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