Tenente Alexandro Prado, piloto do xavante que caiu no litoral cearense
em julho de 2000, pode ter quebrado o pescoço ao acionar o assento
ejetável. A opinião é do especialista em medicina aeroespacial Max
Cosendey Toledo, que na época do acidente era o oficial médico
responsável pelos aviadores do Esquadrão Pacau, sediado na Base Aérea de
Fortaleza. Relevada dias após o desastre, essa hipótese jamais foi
admitida publicamente pela Força Aérea Brasileira (FAB).
O então tenente Max Toledo prestou depoimento no Inquérito Policial
Militar (IMP) instaurado para apurar as causas do acidente com o xavante
4626. Segundo o médico, o piloto provavelmente não conseguiu manter a
postura ideal para a ejeção — com o pescoço esticado — porque a
aeronave girava em alta velocidade. “No momento da ejeção do tenente
Prado, o risco de lesionar a coluna cervical se apresentava
consideravelmente aumentado, já que a ejeção tida com ideal levaria em
conta a postura de hiperextensão do pescoço, o que neste momento seria
praticamente impossível devido ao movimento descendente e giratório da
aeronave no seu próprio eixo”.
O xavante 4626 perdeu a asa
esquerda em pleno voo e caiu no mar a 25 quilômetros da costa. O
copiloto da aeronave, tenente Ricardo Beviláqua, conseguiu ejetar logo
após a ruptura da asa e foi resgatado com vida. O piloto ejetou
instantes depois. Mas, de acordo com tripulantes de outras aeronaves
que participavam do treinamento militar, Alexandro Prado já tocou a
água inconsciente. O corpo dele jamais foi encontrado.
O médico
Max Toledo prestou um novo depoimento em 2004. Desta vez, em um
processo movido contra a União por familiares do tenente falecido. Ele
confirmou a suspeita de que o piloto quebrou o pescoço durante a ejeção.
Mas foi além: forneceu elementos que podem explicar por que Alexandro
Prado só ativou o assento quando o caça já rodopiava fora de controle.
Para entender essa hipótese, é preciso voltar um pouco no tempo:
em março de 2000, quatro meses antes do acidente com o 4626, outro
xavante do Esquadrão Pacau caiu no mar, desta vez no litoral baiano. O
4517 perdeu a potência do motor quando realizava um treinamento
noturno. O copiloto ejetou e foi resgatado com vida. Mas o piloto não
conseguiu ativar o assento: o corpo dele foi encontrado dentro do caça
submerso no dia seguinte.
No depoimento à Justiça, Max Toledo
chamou a atenção para o mecanismo que ativa o assento ejetável do
xavante. O equipamento tem duas alças: uma inferior, entre as pernas do
piloto, e outra sobre a cabeça. De acordo com o médico, o copiloto que
sobreviveu ao desastre na Bahia usou a alça superior.
Depois desse acidente, os aviadores do Esquadrão Pacau teriam sido orientados a adotar o mesmo procedimento.
Mas,
segundo Max Toledo, essa conduta não seria a ideal no caso do xavante
acidentado no litoral cearense. Como estava submetido a uma força
gravitacional extrema e aos movimentos desgovernados do avião, o
tenente Alexandro Prado pode ter tido dificuldade para alcançar o
mecanismo acima da cabeça. “Especula-se, no campo das hipóteses, que o
piloto, seguindo orientação sedimentada após um sinistro ocorrido em
Salvador com o mesmo tipo de aeronave, teria comandado a ejeção através
do punho superior. Nas condições específicas do acidente, em que a
aludida aeronave girava em queda livre sobre o próprio eixo, rodopiando,
(isso) explicaria o retardo na ejeção”.
SOBRE A SÉRIE DE REPORTAGEM
Esta
é a quinta reportagem de uma série sobre o acidente aéreo que matou o
tenente Alexandro Prado no litoral do Ceará, baseada em documentos
sigilosos da Força Aérea Brasileira, a que O POVO teve acesso. As
matérias montam as peças de um quebra-cabeça que envolve burocracia
militar, problemas de manutenção nas aeronaves e risco para os pilotos.
Na próxima e última reportagem, a suspeita de que houve problemas com o
assento ejetável do xavante acidentado.
Por: DANTE ACCIOLYDE BRASÍLIAEspecial para O POVO
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