A Embraer e Boeing
 anunciaram, nesta quinta-feira, dia 5, a assinatura de um memorando de 
entendimento para a formação de uma joint venture contemplando os 
negócios e serviços de aviação
 comercial da fabricante brasileira. Em comunicado conjunto divulgado 
nesta manhã, as duas empresas afirmam que o acordo propõe uma parceria 
que contemple serviços de aviação comercial da Embraer, alinhada com as 
operações de desenvolvimento comercial, produção, marketing e serviços 
de suporte da Boeing. Nos termos do acordo, a Boeing deterá 80% da 
propriedade da joint venture e a Embraer, os 20% restantes. A área de 
Defesa fica fora desta nova empresa. O governo brasileiro,
 que detém a chamada golden share, ação preferencial com direito a vetar
 decisões da Embraer atualmente, perde essa prerrogativa diante da nova 
empresa, informou a assessoria da Boeing. Ela só valeria para a área de 
negócios ligados a defesa da companhia que nasceu em 1969. A extinção 
dessa ação preferencial brasileira já estava em debate no Tribunal de Contas da União.
 Segundo edição de hoje do jornal Valor, o TCU deve autorizar a venda da
 golden share, tanto da Embraer, como de outras em negócios onde o 
Governo tem essa preferência.
A nova empresa formada junto com a Boeing é avaliada em 4,75 bilhões 
de dólares. A Boeing pagará 3,8 bilhões de dólares pelos 80% de 
propriedade na joint venture. A americana deterá o controle operacional e
 de gestão da nova empresa, que responderá diretamente ao diretor 
executivo da Boeing, Dennis Muilenburg. A expectativa é que a parceria 
gere sinergia anual de custos estimada de cerca de 150 milhões de 
dólares – antes de impostos – até o terceiro ano. A joint venture vai 
funcionar na sede da Embraer, na cidade de São José dos Campos, a 100 
quilômetros da capital paulista, incluindo um presidente e CEO.
O Governo brasileiro deu aval para o anúncio nesta quarta, depois de meses de negociação. Em dezembro, o presidente Michel Temer chegou a dizer que o Brasil não podia negociar
 “soberania e interesse nacional.” “No entender deste Governo, soberania
 é inegociável”, disse Temer, que completou na sequência. “Agora, todo o
 restante, que seja bom para a empresa, que ajude a melhorar a empresa, 
seja de quem for, ele é muito bem-vindo”. O que chama a atenção é o fato
 de que, inicialmente, o negócio parece melhor para a Boeing do que para
 a Embraer, e um dos poucos exemplos de inteligência de mercado e 
excelência do Brasil quando se trata de negócios com emprego de alta tecnologia.
Mas, se a sede da joint venture efetivamente permanecer no Brasil, a 
nova parceria pode inclusive ampliar as exportações brasileiras para o 
exterior, avalia José Augusto Castro, da Associação de Comércio Exterior
 do Brasil (AEB). “Teoricamente, deve expandir as exportações do Brasil.
 A Boeing é americana, que é o maior mercado importador de aviões do 
mundo. Isso só fortalece a empresa e evita que alguém, no futuro, 
coloque barreiras contra a Embraer. A princípio, é positivo, lembrando 
que só saberemos realmente daqui a quatro ou cinco anos, pois o que está
 sendo vendido hoje foi negociado anos atrás", afirma Castro.
Por ora, a proposta apresentada nesta quinta é que a joint venture se
 torne um dos centros de excelência da Boeing para o desenvolvimento de 
projetos, a fabricação e manutenção de aeronaves comerciais de 
passageiros e será totalmente integrada à cadeia geral de produção e 
fornecimento da americana, que passará a oferecer os aviões que são a 
especialidade da Embraer: aeronaves menores de passageiros para aviação 
regional. Segundo o comunicado, o plano é construir aviões de 70 a mais 
de 450 assentos, além de aviões de carga. As empresas também devem criar
 outra joint venture para promoção e desenvolvimento de novos mercados e
 aplicações para produtos e serviços de defesa, em especial o avião 
multimissão KC-390, a partir de oportunidades identificadas em conjunto.
Fundada em 1969, a Embraer é um dos poucos exemplos nacionais em que a coordenação do trabalho de inteligência da academia (Instituto Tecnológico de Aeronáutica,
 no caso), governo e iniciativa privada são capazes de criar empresas de
 ponta. Privatizada nos anos 1990, hoje ela representa um setor 
econômico de manufaturados, em contraposição à presença maciça das 
commodities na pauta de exportação. É a terceira do mundo na fabricação 
de jatos comerciais. Emprega 18.000 pessoas e está entre as maiores 
exportadoras do país, que ajudam a equilibrar a balança comercial e as 
contas públicas.
A finalização dos detalhes financeiros e operacionais da parceria 
estratégica e a negociação dos acordos definitivos da transação devem 
continuar nos próximos meses. Uma vez executados estes acordos 
definitivos de transação, a parceria estará, então, sujeita a aprovações
 regulatórias e de acionistas, incluindo a aprovação do governo 
brasileiro, bem como outras condições habituais pertinentes à conclusão 
de uma transação deste tipo. Caso as aprovações ocorram no tempo 
previsto, a expectativa é que a transação seja fechada até o final de 
2019, ou seja, entre 12 a 18 meses após a execução dos acordos 
definitivos.
Do El Pais

0 Comentários