Os Estados Unidos ameaçaram militarmente a Rússia caso Moscou torne
operacional um novo modelo de míssil com capacidade de carregar ogivas
nucleares.
A inusual ameaça, bravata ou não, foi feita pela embaixadora
americana junto à Otan (aliança militar ocidental) nesta terça (2). Se o
sistema ficar operacional, disse Kay Bailey Hutchinson, “os EUA então
examinar a capacidade de anular um míssil que possa atingir algum de
nossos países”.
Ela se referia a um novo míssil de cruzeiro desenvolvido pela Rússia,
o 9M729. O governo americano afirma que a arma fere o Tratado de Forças
Nucleares Intermediárias, um dos mais importantes para colocar o fim da
Guerra Fria.
O tratado, de 1987, baniu todos os mísseis de cruzeiro com alcance
entre 500 e 5.500 km. Esse tipo de míssil viaja a velocidades subsônicas
e de forma “inteligente”, desviando de obstáculos e muito próximo do
solo, o que o torna difícil de ser detectado por defesas inimigas.
“Contra-medidas [americanas] seriam eliminar os mísseis que estão
sendo desenvolvidos em violação ao tratado. Eles estão avisados”, disse
ela, emulando a agressividade dos comunicados de seu chefe, o presidente
Donald Trump.
Como ninguém espera que Washington resolva bombardear posições de
lançamento de mísseis russos sem provocar a Terceira Guerra Mundial com
isso, a ameaça deve ser lida como mais um movimento para colocar pressão
sobre Moscou. Com isso, Trump afaga a Otan, a quem já chamou de
obsoleta e de quem cobra maior participação na composição orçamentária
da defesa europeia.
Nesta quarta (3) haverá uma reunião de cúpula dos ministros responsáveis pela defesa dos 28 países integrantes da Otan. A Rússia, que sempre negou que seu míssil infrinja o acordo de 1987, não fez nenhum comentário sobre a fala da embaixadora, ocorrida a repórteres em Bruxelas.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a aliança
considera que o governo de Vladimir Putin não deu garantias de que seu
novo míssil não tem as capacidades temidas.
O tratado de 1987 olhava para um teatro de operações europeus em caso de guerra entre o Ocidente e a então União Soviética. Eliminou assim 800 ogivas americanos e 1.800 soviéticas até 1991.
A questão toda é que o texto proíbe versões terrestres. Os russos já testaram a nova arma lançada de navios e aviões, tecnicamente respeitando o tratado. Ele tem 2.000 km de alcance e, segundo reportagem do The New York Times no ano passado, já tem dois batalhões operacionais –que poderiam usar lançadores usado pelo míssil balístico Iskander, que é permitido, para enganar os europeus.
Em simultâneo, a representante dos Estados Unidos na NATO, Kay Bailey
Hutchison, disse que a Rússia deve interromper a construção de novos
mísseis que possam transportar ogivas nucleares.
A responsável
avisou Moscovo de que os Estados Unidos podem eliminar o novo sistema de
mísseis caso se torne operacional, porque "poderiam alcançar qualquer"
dos países aliados, "na Europa e América".
A NATO argumenta que o
novo sistema 9M729 compromete o Tratado de Forças Nucleares de Alcance
Intermediário (INF), assinado em 1987 pelos então líderes da União
Soviética, Mikhail Gorbatchev, e dos Estados Unidos, Ronald Reagan.
Este
pacto, assinado ainda em período de Guerra fria, prevê a eliminação de
todos os mísseis de cruzeiro com um alcance de entre 500 e 5.500 quilômetros.
"A Rússia não forneceu respostas credíveis sobre
este novo míssil. Todos os aliados estão de acordo que a avaliação mais
plausível é que a Rússia está a violar o tratado. É urgente que a Rússia
responda a estas preocupações de forma transparente", assinalou o
secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, no quartel-general da
Aliança em Bruxelas.
Durante esta conferência de imprensa, que
antecede a reunião dos ministros aliados agendada para quarta e
quinta-feira na capital belga, Stoltenberg reiterou a preocupação
emitida pelos Estados Unidos, que acusam Moscovo de desrespeitar o INF.
O
ex-primeiro-ministro social-democrata norueguês considerou que este
tratado "é uma pedra angular da segurança europeia", e "é importante
garantir que seja cumprido pela Rússia".
Stoltenberg acrescentou que, segundo os Estados Unidos, a Rússia "já começou a distribuir [por diversas bases] este míssil".
"Partilharam
as informações conosco, mas não vou fornecer detalhes. Apenas dizer
que estamos extremamente preocupados", afirmou.
"Agora este
tratado está em perigo pelas ações da Rússia. Após anos de negociações, a
Rússia reconheceu recentemente a existência de um novo sistema de
mísseis designado 9M729. (...) É urgente que a Rússia responda a estas
preocupações de forma substancial e transparente", concluiu.
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