Um júri federal em São Francisco considerou nesta terça-feira, 20, que o herbicida
Roundup foi "um fator substancial" no câncer de um homem de 70 anos de
idade. Esta é a primeira derrota em nível federal da empresa Bayer, que
absorveu a Monsanto,
a fabricante do herbicida, em uma questão que pode abrir precedente
para milhares de processos semelhantes nos Estados Unidos de pessoas que
alegam que o uso do herbicida lhes causou câncer. A Monsanto já foi
condenada a uma compensação de vários milhões de dólares em outro caso
semelhante que está pendente de recurso. No Brasil, o produto é largamente utilizado.
O novo caso é o de Edwin Hardeman, um morador do norte de São Francisco
(Califórnia) que teve diagnosticado um linfoma não-Hodgkins que ele
atribui ao uso continuado do herbicida Roundup, um dos mais populares do
mundo. O componente do Roundup é o glifosato. De acordo com reguladores
europeus e norte-americanos, não há comprovação de que esse composto
químico cause câncer. A Organização Mundial de Saúde, no entanto, disse em 2015 que "provavelmente" é carcinogênico.
A derrota judicial desta terça-feira é um precedente importante. Nos Estados Unidos
existem 760 ações judiciais em nível federal que estão consolidadas
neste caso de São Francisco. No total, há 11.200 ações no país contra os
fabricantes do Roundup por sua suposta responsabilidade em casos de câncer.
A responsabilidade civil da Monsanto, adquirida pela Bayer no ano
passado, ainda não foi decidida. A pedido da empresa, o julgamento de
São Francisco é realizado em duas partes. Por um lado, o júri deve
determinar se considera comprovada a relação entre o Roundup e o linfoma
não-Hodgkins. Isso foi o que se decidiu nesta terça-feira. O julgamento
continua nesta quarta-feira em uma segunda fase em que deve determinar
qual é a responsabilidade da empresa, isto é, se sabia disso. A Bayer, citando estudos internacionais oficiais, nega que o glifosato cause câncer.
"Estamos confiantes de que as evidências da segunda fase mostrarão
que a conduta da Monsanto foi apropriada e que a empresa não deve ser
responsabilizada pelo câncer do senhor Hardeman", disse a Bayer em um
comunicado.
Em agosto do ano passado, um juiz em São Francisco já estabeleceu um
precedente a esse respeito. A Monsanto foi condenada por um júri a pagar
289 milhões de dólares (1,09 bilhão de reais) de indenização a Dwayne
Johnson, um jardineiro municipal de uma cidade da Califórnia que usou o
Roundup por anos. Johnson, 46 anos, também tem um linfoma não-Hodgkins
incurável e os médicos previram que ele teria pouco tempo de vida. A
decisão concluiu que a Monsanto havia agido com "malícia" e que o
herbicida era responsável pelo câncer incurável de Johnson. A juíza
relevou a suposta má-fé da Monsanto e reduziu a sentença para 78 milhões
de dólares (295 milhões de reais). A empresa está recorrendo.
Em junho de 2018, a Bayer comprou a empresa de agroquímicos da
Monsanto por 66 bilhões de dólares (250 bilhões de reais). A Monsanto já
era uma das empresas com a pior reputação do mundo, a ponto de a Bayer
anunciar que suprimiria a marca. A sentença de Johnson veio apenas dois
meses depois. Nesta quarta-feira, após a decisão do júri no caso de
Hardeman, as ações da Bayer caíram 12% da Bolsa de Valores de Frankfurt e
depois se recuperaram um pouco, até fechar com queda de 9,61% – 63
euros (270 reais) por ação.
Do El Pais
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