Há exatamente um ano, a
Boeing começava a viver sua pior crise com o segundo acidente de um
avião do modelo 737 Max em menos de cinco meses. As quedas de um avião
da Lion Air na Indonésia em outubro de 2018 e de um avião da Etiopian
Airlines em 10 de março do ano passado causaram a suspensão de todos os
voos de aviões do modelo no mundo inteiro. Um ano depois, o 737 Max
segue sem uma previsão para retomar os voos.
As investigações apontaram que os dois acidentes tiveram características
semelhantes. Eles foram causados por uma falha de projeto no sistema
MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System, ou sistema de
ampliação de característica de manobra). Nos dois casos, o... - Veja
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Há exatamente um ano, a Boeing começava a viver sua pior crise com o
segundo acidente de um avião do modelo 737 Max em menos de cinco meses.
As quedas de um avião da Lion Air na Indonésia em outubro de 2018 e de
um avião da Etiopian Airlines em 10 de março do ano passado causaram a
suspensão de todos os voos de aviões do modelo no mundo inteiro. Um ano
depois, o 737 Max segue sem uma previsão para retomar os voos.
As
investigações apontaram que os dois acidentes tiveram características
semelhantes. Eles foram causados por uma falha de projeto no sistema
MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System, ou sistema de
ampliação de característica de manobra). Nos dois casos, os pilotos
tiveram de lutar com um avião instável. Com informações erradas de um
dos sensores, o sistema forçava o avião a abaixar o nariz quando ele
deveria subir.
As
primeiras informações sobre as possíveis causas do acidente com o avião
da Ethiopian Airlines já demonstravam que a causa provável era o mesmo
problema que gerou a queda do avião da Lion Air. Com a suspeita,
diversas companhias aéreas ao redor do mundo, inclusive a Gol, decidiram
suspender os voos com aviões do modelo.
Três dias após o segundo
acidente, a própria Boeing emitiu uma recomendação para que todos os
aviões do modelo ficassem em terra até a investigação e solução do
problema.
Quase 800 aviões parados
Um ano depois, os
engenheiros da Boeing ainda não conseguiram encontrar uma solução
definitiva e quase 800 aviões do modelo seguem parados em todo o mundo.
Na época do acidente, 387 aeronaves já haviam sido entregues às
companhias aéreas.
Mesmo com a proibição dos voos, a Boeing
continuou produzindo o modelo. Nesse período, foram fabricados cerca de
400 aviões que ainda não puderam ser entregues. Com os pátios da fábrica
lotados, a Boeing suspendeu também a produção do modelo desde janeiro.
Executivos
da empresa já sinalizaram várias vezes que a volta das operações do
avião estaria próxima. Os prazos, no entanto, nunca foram cumpridos. Na
última quinta-feira (5), o chefe da agência norte-americana de aviação, a
FAA, Stephen Dickson, disse acreditar que um voo de teste de certificação do Boeing 737 Max pode acontecer em breve.
"Estamos
trabalhando nos últimos problemas de revisão e documentação de software
e, em questão de poucas semanas, estaremos vendo um voo de
certificação", disse Dickson em uma conferência de aviação em
Washington.
Projeto "essencialmente falho"
Mas um comitê do Congresso dos EUA disse na sexta-feira (6) que o avião é "essencialmente falho":
"A Boeing cometeu erros e escondeu informações sobre o 737 MAX,
enquanto os organismos reguladores não conseguiram fazer uma supervisão
adequada, levando a uma aeronave essencialmente falha", afirmou o
comitê.
As companhias aéreas não demonstram estar tão confiantes
com um breve retorno do 737 Max. A American Airlines, por exemplo, já
cancelou todos os voos que estavam previstos para operar com o modelo
até 17 de agosto.
O que já foi feito e o que falta fazer
Para
retomar os voos do 737 Max, a Boeing foi obrigada a fazer uma
reprogramação completa do sistema de prevenção de estol (perda de
sustentação) do avião. O sistema entra em ação quando o avião está com
ângulo de ataque (inclinação) muito acentuado e força o nariz para
baixo. A correção deve evitar que o sistema funcione em situações
críticas de voo.
Além disso, foram adicionados novos requisitos de
segurança. A Boeing recomendou a todas as companhias aéreas que operam o
modelo uma revisão geral nos sensores de ângulo de ataque. Um erro de
leitura pode ter colaborado para a falha dos sistemas.
O Max é a
nova versão do modelo mais vendido da história da aviação comercial.
Pilotos que já voavam na versão anterior, a NG (Next Generation),
precisavam apenas de uma rápida adaptação. Com as mudanças nos sistemas,
no entanto, a Boeing decidiu exigir também o treinamento em simulador para a nova versão.
Com isso, o custo para as companhias aéreas ficou maior e pode haver até mesmo uma escassez de equipamentos para atender a todos os pilotos.
Com
a crise gerada, que aponta falhas também dos órgãos reguladores, a nova
certificação do modelo deve ser ainda mais rigorosa. Além da agência
norte-americana, outros órgãos internacionais também prometem analisar
individualmente as mudanças feitas para autorizar os voos do 737 Max
sobre seus territórios. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) já
participa do processo nos Estados Unidos.
O que diz a Boeing?
Procurada
para comentar a situação do modelo um ano após o acidente na Etiópia, a
Boeing afirmou que está auxiliando as investigações e que aguarda as
recomendações do relatório final.
"Continuamos a manifestar nossos
mais sinceros sentimentos às famílias e entes queridos dos passageiros e
tripulantes do voo 302 da Ethiopian Airlines. A Boeing continua
prestando assistência técnica em apoio à investigação, a pedido e sob a
direção do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA
(NTSB), representante oficial dos Estados Unidos. Estamos na expectativa
de analisar todos os detalhes e recomendações formais que serão
incluídas no relatório final do Departamento de Investigação de
Acidentes da Etiópia", afirmou a Boeing, em nota.
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