Em abril de 1945, a 2ª Guerra Mundial chegava às suas
últimas semanas no teatro de operações europeu. Os soldados e aviadores
da Força Expedicionária Brasileira (FEB) enfrentavam na Itália, desde
agosto de 1944, as forças alemãs e italianas. Vencido o duríssimo
inverno de 1944/45 nas geladas encostas dos Apeninos, os aliados retomam
a ofensiva e as tropas brasileiras são lançadas contra as forças
nazistas que dominavam o Monte Castelo, expulsando-as na memorável
jornada de 21 de fevereiro.
Rompida a formidável posição defensiva alemã
conhecida como Linha Gótica, era preciso abrir caminho para prosseguir
em direção à cidade de Bolonha e completar o cerco das forças inimigas.
Em 14 de abril de 1945, inicia-se a nova fase das
operações e toca aos brasileiros a parte mais importante da frente: a
linha de alturas Montese-Montello. Às 13h45 daquele dia, após intensos
fogos da artilharia brasileira, nossos soldados investem sobre a pequena
Montese, bela cidadezinha medieval, com pouco mais de 1200 casas,
localizada na província italiana de Modena.
Os pelotões dos tenentes Ary
Rauen e Iporan Nunes de Oliveira e do aspirante-a-oficial Francisco
Mega, este recém egresso da Academia Militar, são lançados sobre o
lugarejo. Os alemães respondem com fúria e despejam pesado fogo de
morteiros e artilharia sobre os brasileiros. A violenta reação e o
terreno minado transformam a cidadezinha em um inferno de explosões e
mortes, mas nossos pelotões seguem avançando. O tenente Rauen, atingido
na cabeça, é o primeiro a cair.
Um estilhaço de granada derruba o jovem aspirante Mega
que tenta levantar-se, mas volta a cair. Seus homens chocados reúnem-se
em torno de seu comandante que os exorta a prosseguir: "A guerra é lá
adiante...a minha perda nada significa diante do que vocês ainda têm por
fazer...prossigam na luta!" A morte vem encontrá-lo rezando.
O pelotão do tenente Iporan, isolado e com pesadas
baixas, luta casa a casa e avança impetuoso no interior da localidade.
Somente no dia 16 foi possível consolidar a conquista de Montese, após
dois dias de superação e bravura. Foi o mais sangrento combate da FEB em
toda a guerra: perdemos 34 vidas e tivemos 382 feridos. Aprisionamos
107 inimigos.
Naqueles três dias, foram lançadas mais de 12 mil
granadas de artilharia sobre o pequeno povoado, pouco mais de 200 casas
restaram intactas. O heroísmo de nossa gente supera qualquer outro
momento da FEB.
Quem percorre hoje aquela região encantadora, encontra
inúmeros monumentos que expressam a gratidão dos italianos àqueles
bravos brasileiros, cidadãos simples que verdadeiramente amavam nossa
terra e souberam honrá-la além, muito além, de interesses menores.
Este ano a pandemia impediu que se repetisse a
tradicional homenagem promovida anualmente pelos governos da comuna de
Montese e da província de Modena no Largo Brasile, na qual os moradores
se reúnem para depositar flores junto ao monumento ali erigido pelos
locais em honra dos nossos heróis, ao som da brasileiríssima Canção do
Expedicionário, cantada em português pelas crianças montesinas.
Do NH - Por Sergio Etchegoyen
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