A Embraer ganhou, mas não levou tudo que previa na disputa com a Boeing após a tentativa frustrada de unir as duas companhias em 2018. Um acordo de arbitragem prevê que a norte-americana pague US$ 150 milhões à brasileira para encerrar a disputa.

O mercado financeiro previa uma indenização maior – em valores próximos do dobro do acertado – para a companhia de São José dos Campos. Por isso, as ações da Embraer despencam na B3. Às 12h45, os papéis da empresa brasileira perdiam 5,03%, e eram negociados a R$ 49,32.

Em comunicado enviado aos investidores, a Embraer informa que o acordo celebrado entre as partes prevê de que a Boeing pague US$ 150 milhões – cerca de R$ 825 milhões pela atual cotação da moeda – para a brasileira. O valor é bruto, e está sujeito ao pagamento de impostos no Brasil.

Com esse acordo – chamado de “collar agreement”, diz a Embraer, foram concluídos “os procedimentos de arbitragem pendentes” entre as duas empresas.

Por se tratar de um acordo na instância da arbitragem, não há previsão de que as partes possam recorrer da decisão.

Em nota, a Boeing informa que está satisfeita com o fim do caso e que segue normalmente no mercado brasileiro.

“Estamos satisfeitos por ter concluído o processo de arbitragem com a Embraer. De forma mais ampla, temos orgulho de nossos mais de 90 anos de parceria com o Brasil e esperamos continuar contribuindo para a indústria aeroespacial brasileira”, cita a norte-americana.

O plano de fusão

A ideia de juntar Boeing e Embraer foi divulgada no fim de 2018, quando as duas companhias anunciaram a criação de uma nova empresa que teria 80% das ações de posse dos americanos e 20% com os brasileiros.

A proposta foi divulgada e dependia de uma série de aprovações, inclusive dos investidores e dependia do aval de Washington e Brasília.

Menos de dois anos depois, porém, os planos mudaram profundamente. Em meio ao início do impacto da pandemia de Covid-19, a Boeing anunciou que desistia do negócio porque a Embraer não teria cumprido condições previstas no acordo.

Com a divergência entre os sócios, o tema foi para uma câmara de arbitragem nos Estados Unidos – exatamente como previa o contrato.

 

 

Da CNN

 

 

 

 


 

A Boeing pagará à Embraer (EMBR3) um valor bruto de US$ 150 milhões (equivalentes a R$ 835,1 milhões, com base na cotação da última sexta-feira de R$ 5,5672 na venda) relacionado ao processo de arbitragem referente à rescisão do acordo de fusão de aviação comercial em abril de 2020.

O acordo marca a conclusão de um longo processo de arbitragem iniciado depois que a empresa norte-americana abortou um acordo de US$ 4,2 bilhões para comprar as operações de fabricação de jatos comerciais da Embraer em meio à pandemia de Covid-19.

Mesmo após a realização do acordo, os papéis da companhia fecharam em queda de 5,30%, cotados a R$ 49,18. Afinal, por que o mercado considerou o acordo tão negativo?

Para o Itaú BBA, as expectativas do mercado pareciam mais altas, considerando valores entre US$ 250-300 milhões e, por isso, a reação negativa para os papéis era esperada. Mesmo assim, ainda há fatores para apostar na ação, de acordo com os analistas. A Embraer pode se beneficiar de novos pedidos comerciais e de defesa e da melhoria na rentabilidade e potencial de alta para margem (de acordo com o apresentado no guidance, as orientações para 2024 fornecidas pela empresa). O BBA também cita como fator de otimismo o fluxo positivo de investidores internacionais, que antes não cobriam a ação, e o ambiente competitivo mais favorável. As principais concorrentes, Airbus e a própria Boeing, enfrentam desafios de entrega há algum tempo. Assim, a expectativa do BBA é que o momentum da companhia continue, o que justifica a recomendação outperform (performance acima da média, similar à compra), com preço alvo de US$ 40,00 para os ADRs (American Depositary Receipts) da Embraer.

O Bradesco BBI também avalia que a indenização veio abaixo da expectativa do mercado de US$ 300 milhões. O banco, contudo, não esperava nenhuma reação importante do mercado porque o valor líquido a ser recebido pela Embraer deve ser de US$ 85 milhões (US$ 0,49/ERJ) ajustado para PIS/Cofins (9,25%) e impostos de renda (34%).

O banco também cita que a diferença em relação ao consenso de mercado representa um impacto menor de 1% no valor de mercado da companhia e continua a prever que a Embraer zerará as perdas acumuladas no patrimônio líquido no segundo semestre de 2024, o que permitiria à empresa retomar a distribuição de dividendos em 2025.

O BBI mantém classificação de equivalente à compra para os ADRs da Embraer, com um preço-alvo de US$ 40,00.

O BTG Pactual também aponta que o acordo foi abaixo das expectativas, mas que “é melhor do que nenhum acordo”.

“O fato de a arbitragem ter sido conduzida em sigilo deixou o mercado sem informações claras sobre o valor potencial de reembolso, levando a uma ampla gama de expectativas, com uma média de US$200 a US$ 300 milhões. Esse intervalo estava alinhado com os US$ 241 milhões de despesas que a Embraer teve para separar e reintegrar sua divisão de aviação comercial após o fracasso do acordo com a Boeing. Assim, o valor de US$ 150 milhões está abaixo dessa expectativa implícita. No entanto, como muitos investidores, não havíamos incluído nenhum pagamento em nosso modelo, então qualquer pagamento deve ser considerado um upside”, avaliou o banco. 

Para os analistas do BTG, a arbitragem foi apenas um dos eventos que os investidores estão acompanhando na Embraer. Outros fatores importantes incluem o sucesso das campanhas comerciais, participação em feiras aéreas e anúncios de parcerias, entre outros. “Acreditamos que o setor de aviação oferece um ambiente positivo em todos os seus principais segmentos: (i) o segmento comercial está se beneficiando da falta de capacidade de fabricação, ajudando a Embraer a ganhar terreno globalmente; (ii) o segmento executivo tem um recorde de pedidos em carteira; (iii) no segmento de defesa, o foco é a promoção da aeronave militar KC-390; e (iv) o segmento de serviços e suporte deve acelerar o crescimento com a abertura de uma nova unidade de manutenção pela OGMA em Portugal”, aponta o banco. A Embraer está negociando a um desconto de 23% em relação aos seus principais pares globais, o que os leva a manter nossa visão otimista sobre a empresa.

Do Infomoney