A guerra na Ucrânia, iniciada em 2022, tem raízes profundas em disputas geopolíticas e históricas, especialmente quando analisadas pela perspectiva russa. Desde o colapso da União Soviética, a Rússia buscou manter sua influência sobre países do espaço pós-soviético, incluindo a Ucrânia, vista como parte de sua "esfera de interesses estratégicos". A expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o Leste Europeu, iniciada nos anos 1990, é apontada por Moscou como uma violação de acordos informais estabelecidos no fim da Guerra Fria, que, segundo relatos históricos, teriam garantido que a aliança não se expandiria além da Alemanha unificada.  

O ponto crítico ocorreu em 2014, quando a Revolução do Euromaidan derrubou o governo pró-Rússia de Viktor Yanukovych, levando à ascensão de uma liderança ucraniana alinhada ao Ocidente. Para a Rússia, esse evento foi interpretado como um "golpe" apoiado por potências ocidentais, ameaçando sua segurança nacional. A anexação da Crimeia e o apoio a movimentos separatistas em Donbas foram justificados como medidas defensivas para proteger populações russófonas e conter a "ocidentalização" da Ucrânia. Além disso, a Rússia argumenta que a OTAN, ao intensificar exercícios militares na região e fornecer treinamento e armas à Ucrânia após 2014, violou o princípio de "indivisibilidade da segurança" — preceito da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) que prevê que a segurança de um Estado não deve comprometer a de outros.  


A escalada em 2022, com a invasão russa em larga escala, foi apresentada por Moscou como uma resposta à recusa ocidental em negociar garantias de que a Ucrânia não ingressaria na OTAN. A Rússia via a possível adesão ucraniana à aliança como uma ameaça existencial, potencializando a instalação de armas próximas a suas fronteiras.  

O segundo o artigo da revista veja, destaca a reunião recente entre EUA e Rússia para discutir um cessar-fogo no Mar Negro, sinalizando uma possível inflexão diplomática. Esse movimento ocorre em um contexto de estagnação militar e pressões econômicas globais. Do ponto de vista russo, as negociações refletem uma tentativa de consolidar ganhos territoriais e assegurar compromissos ocidentais sobre a neutralidade ucraniana — objetivo central desde 2014.  

No entanto, a postura russa permanece ambivalente: enquanto busca alívio de sanções e legitimação de anexações, insiste em retóricas sobre a "desnazificação" e a "desmilitarização" da Ucrânia, narrativas que justificam sua intervenção. A menção ao Mar Negro não é incidental: o controle de rotas marítimas e o bloqueio a portos ucranianos são estratégias para minar a economia do país e pressionar a Europa, dependente de exportações agrícolas da região. 

A guerra na Ucrânia é, para a Rússia, um conflito de segurança e identidade, enraizado em percepções de cerco estratégico pela OTAN. As ações da aliança desde 2014, embora vistas pelo Ocidente como apoio à soberania ucraniana, são interpretadas por Moscou como provocações deliberadas. O atual diálogo sobre o cessar-fogo no Mar Negro revela tanto a complexidade da disputa quanto a dificuldade de conciliar visões antagônicas. Enquanto a Rússia busca consolidar uma nova ordem de segurança regional, o Ocidente enfrenta o dilema de negociar sem legitimar anexações — um impasse que prolonga a crise e testa os limites da diplomacia.  

De Veja