Em tempos de F-4, F-104, Kfir, FX, Flanker, FX-2, PAK-FA, Rafale, F-16, dentre outros... Várias histórias circulam e circularam ao logo dos anos acerca das aeronaves que viriam a equipar a FAB. Neste sentindo procurando em meus arquivos achei essa materia muito interessante de sobre a possibilidade da FAB vir a ser equipada com MiG-21 produzido na China (F-7m Airguard) com aviônicos ocidentais.

A noticia circulou numa época pós plano cruzado em que o país havia declarado moratória ao FMI e estava sem financiamnto externo. O boato (muito sério na época segundo alguns) acabou funcionando como uma forma de facilitarem (financiarem) a venda de mirage III usados da França e a compra dos F-5 "Aggressor" de estoques da USAF.

Quem acredita que o MiG-21 venha a voar no Brasil?

Paulo F. Laux

Revista Voar Ano 5 - No. 54 – 1987 - pág. 4 e 5.

Muita gente aposta que isso não passa de um respeitável blefe ou de uma inteligente jogada política dos militares brasileiros para força o Governo Norte Americano a facilitar a venda de caças F-5 que a FAB tanto deseja, mas ninguém quer ou lhe permite vender. E uma hipótese válida que, entretanto, também pode não ser bem assim, transformando-se numa inquietante realidade. A Força Aérea Brasileira vir a operar caças de projeto russos, e posteriormente construídos na Republica Popular da China, é uma perspectiva que, no mínimo, esta tirando o sono de muita gente.

O fato é que o assunto não só desembarcou do emaranhado do noticiário diário com a naturalidade esperada, em boa parte graças a fontes internacionais, como a Agência noticiosa Nova China, por exemplo.

Precisamente desta fonte partiu, não faz muito tempo, um considerável reforço noticioso, ao se anunciar a perspectiva de o Brasil vir a comprar aviões de combate tipo F-7M Airguard, versão moderna do caça Jianjiji, que a China Air Technologies Import and Export Corporation (CATIC) construiu a partir dos anos 60, depois do rompimento de relações com a União Soviética. O modelo original copiado pelos chineses era nada mais, nada menos do que o caça de superioridade aérea MiG 21, nascido nas pranchetas da equipe do general Artem l. Mikoyan e do matemático Gurevich (dai a sigla "MiG"), após estudos do comportamento em combate aéreo do MiG 15, na Guerra da Coréia.

O F-7M que a China quer ver voando no Brasil é um avião leve, de apoio tático, alcançando velocidade de até 2.175 quilômetros por hora, e que pode percorrer 2.230 quilômetros sem necessidade de ser reabastecido. Seus tanques internos armazenam 2.340 litros de querosene, além de 490 litros extras que ficam em cada tanque externo e alijável.

Segundo ainda a fonte oficial de noticias da RPC, as negociações governamentais estão em andamento, e em franco progresso, acrescentando tratar-se de um projeto de cooperação entre os dois países.

Seja como for, desenvolver um negócio complexo como este - afinal, toda a estrutura operacional da aviação brasileira apoia-se em equipamentos, ferramental etc. de padrões ocidentais - há de se convir que não é tarefa para um final de semana. E o Ministério da Aeronáutica esta muito consciente disso.

Por enquanto, o que existe: de mais concreto é um parecer favorável da comissão técnica do Comando Geral de Apoio, que estudou o assunto depois que pilotos brasileiros experimentaram o aparelho chinês, constatando a sua robustez, maneabilidade a poder de fogo (canhões de 30 mm, bombas a laser, foguetes ar-ar, ar-terra e mísseis ar-ar). De negativo foram apontados os aviônicos que equipavam o avião demonstrador, já ultrapassados no tempo; a vida útil da turbina Wopen WP-7B (6.200 kg da empuxo), versão chinesa da soviética Tumansky R-11, que deve ser trocada a cada 600 horas de vôo, após duas revisões de 200 horas.

O contra-ataque chinês veio fulminante: uma nova versão do F-7 “especialmente" preparada para o Brasil, incorporando inúmeras modificações, como a instalação de um visor de combate Head-Up Display (HUD), de 32 funções de desempenho e acoplado a um computador, ambos ocidentais, nivelando o painel chinês ao do respeitadíssimo caça F-16 dos norte-americanos.

Quanto à vida útil da turbina, diz-se que teria sido oferecida para cada aeronave adquirida uma turbina a mais, além de material de manutenção, peças de reposição suficientes para três anos etc., repassados para a Cia. Eletromecânica de Aviação (CELMA), para a manutenção ser feita no próprio país. De resto, argumentaram que uma turbina Wopen trabalha 600 horas e custa US$ 600 mil, enquanto uma Atar 9C, francesa (dos Mirage, por exemplo) tem uma vida de 900 horas, mas custa quase USS 3 milhões de dólares.

Mas se o assunto em si é nebuloso, tratado a boca pequena e portas fechadas, das quantidades e cifras envolvidas então nem se fala. Algumas fontes têm falado em 30 aviões, ao preço total de US$ 160 milhões. Uma verdadeira pechincha em termos unitários - pouco mais de US$ 5 milhões cada, incluída a assistência técnica e treinamento – se for considerado que um único F-16 já foi oferecido ao Brasil por US$ 25 milhões. Exatamente cinco vezes mais do que o caca chinês. Outras fontes vão mais longe: garantem que não seriam 30, mas 110 os caça envolvidos na transação, hipótese em que o “pacote” saltaria para USS 600 milhões, aproximadamente.

Especulações ou exageros a parte, na verdade estas negociações têm se mostrado muito mais como a ponta de um volumoso iceberg econômico do que uma simples operação de compra e venda. Preconceitos ideológicos, o Ministro da Aeronáutica, brigadeiro Octavio Moreira Lima, reiteradamente tem dito não existirem.

Ainda recentemente um experiente executivo internacional observava numa entrevista concedida que, ao contrario dos ocidentais, os asiáticos tem todo o tempo do mundo para concluir um negócio e quando negociam estão pensando mais longe, buscando iniciar uma relação duradoura. Neste caso em particular, sabe-se que os chineses aceitam que os brasileiros enviem em troca dos seus aviões, locomotivas, vagões, caminhões, radares para aeroportos, computadores, equipamentos agrícolas e... aviões, muitos aviões, principalmente dos modelos Tucano e Brasília. Nem mesmo a instalação de uma linha de montagem destes aviões em território chinês é uma hipótese descartada. Neste caso, esta compra aparentemente esdrúxula começaria a fazer sentido e representaria o inicio de um longo e proveitoso comércio de portas abertas com a maior população deste planeta. Um verdadeiro negocio da China, onde o tempo de vida de uma turbina ou o simples formato de uma ferramenta representariam pouco mais do que o incomodo causado por um cisco no olho de um doente de câncer. E um caso para se pensar. Muito.

Reprodução da matéria veiculada na Revista Voar e assinada pelo excelente Paulo F. Laux

Ficha Técnica

Jianjiji-7 (F-7M)

Envergadura: 7,15m

Comprimento: 13,94 m

Altura: 4,10m

Área alar: 23,00 rn2

Peso vazio: 5.275 kg

Peso máxima decolagem: 7.531kg

Velocidade Máxima (entre 12.500 e 18.500 m): 2.175 km/h

Velocidade para pouso: 300/320 km/h

Razão de subida (nível do mar): 10.000m/min

Teto máximo operacional: 18.700 m

Distância para decolagem: 700/950 m

Distância para pouso (com uso de pára-quedas do freio): 600/900 m.

Alcance máximo: 2.230 km


MIG-21 em Video: