Brasil na 2a Grande Guerra
Fonte: Geocities
O instável equilíbrio entre o nazifascismo e as potências democráticas e a eclosão da II Guerra Mundial foram os fatos que dominaram a política externa brasileira durante a era de Vargas. Nesse período, uma vez superada a fase mais negra da Grande Depressão, norte-americanos, alemães e japoneses passaram a disputar cada palmo do mercado internacional. Acentuou-se a hegemonia dos Estados Unidos na América Latina, onde Roosevelt, para enfrentar a concorrência alemã, começou a pôr em prática sua "política de boa vizinhança". Foi essa a época das conferências pan-americanas e da penetração cultural, que tinha em Hollywood sua principal ponta de lança. A influência alemã, contudo, ainda era grande. Em 1938, o comércio teuto-brasileiro superava nosso intercâmbio com os Estados Unidos; ao mesmo tempo, no plano político, os chefes do Estado Novo inclinavam-se cada vez mais para a Itália e a Alemanha. Em 1939, explodia a II Guerra Mundial; após atacar a Polônia, Hitler ocupou a França em 1940 e, no ano seguinte, deu início à invasâo da União Soviética. Procurando manter uma posição eqüidistante, Vargas negociava ao mesmo tempo com norte-americanos e alemães, até que, em setembro de 1940, os Estados Unidos finalmente concordaram em pagar o preço dessa definição, concedendo os empréstimos necessários para a construção de Volta Redonda. Em dezembro de 1941, com o ataque japonês a Pearl Harbor (base norte-americana no Pacífico), a guerra passou a envolver todo o planeta; em janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo; em fevereiro, nossos navios começaram a ser afundados por submarinos alemães. Gigantescas manifestações antinazistas ocorreram em todo o país: indignado, o povo pedia vingança. Demitida a ala germanófila do ministério, a 31 de agosto de 1942 o Brasil, finalmente, declarou guerra às potências do Eixo. Dois anos depois, em 1944, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) desembarcava na Itália, onde iria ajudar os aliados a derrotar o totalitarismo nazista e a restabelecer a democracia na Europa.
Em agosto, os submarinos alemães afundaram, no litoral baiano, seis navios brasileiros, um dos quais levava peregrinos para um Congresso Eucarístico em São Paulo. Se a intenção do Eixo era intimidar o governo e a população brasileira, conseguiu exatamente o oposto: unindo-se em torno da figura de Vargas, a opinião pública mostrava-se cada vez mais simpática aos aliados. Em Vitória, no Espírito Santo, uma grande multidão desfilou com retratos do presidente e depredou estabelecimentos alemães. No Rio, o povo reuniu-se em frente ao Palácio Guanabara aos gritos de "guerra" e "vingança", aclamando Vargas quando este saiu à janela. Manifestações semelhantes ocorreram em Florianópolis, Porto Alegre, Recife, São Paulo e outras capitais. Estimulado por essas demonstrações, a 22 de agosto de 1942, Vargas decretou finalmente o estado de beligerância; a declaração de guerra aos países do Eixo viria nove dias depois, a 31 de agosto, transformando as passeatas de protesto contra o nazi-fascismo em manifestaçóes de apoio a Getúlio, que, mais uma vez, saía fortalecido do episódio.
Exigida havia muito tempo, a declaração de guerra contra o Eixo provocou uma intensa comoção popular; a 2 de setembro de 1942, cerca de 100 000 pessoas saíram às ruas no Rio de Janeiro, comemorando o acontecimento. Coerente com a nova situação, o governo intensificou a repressão aos quinta-colunas e passou a liquidar empresas do inimigo, como o Banco Germânico para a América do Sul e o Banco Alemão Transatlântico. Bases Na verdade, o primeiro pasamericanas so concreto em direção à no Nordeste guerra, após a Conferência dos Chanceleres, havia sido dado em maio, quando representantes do Brasil e dos Estados Unidos firmaram um acordo criando duas comissões mistas - sediadas respectivamente em Washington e no Rio de Janeiro - para coordenar as atividades de defesa do continente. O acordo concedia algumas franquias aos nórte-americanos, como a possibilidade de estacionamento de técnicos e forças policiais em território brasileiro e a permissão para que utilizassem nossas instalações aéreas e navais como ponto de reabastecimento e escala. Ficavam, além disso, autorizados a construir, em solo brasileiro, unidades de alojamento de pessoal militar e depósitos de material bélico. Pelo mesmo documento, o Brasil comprometia-se, ainda, a estabelecer bases para as operações de guerra.
O principal argumento a justificar a ocupação de nossas bases aeronavais por forças norte-americanas era a iminência de um ataque nazista. Esse argumento, porém, encobria o verdadeiro interesse dos Estados Unidos: utilizar o Nordeste brasileiro como posto avançado em relação ao território africano. Nos termos do acordo, as forças navais brasileiras, que patrulhavam as águas territoriais do Nordeste desde 1940, foram integradas à IV Esquadra dos Estados Unidos, comandada pelo almirante Jonas H. Ingram. Ao mesmo tempo, instalava-se em Recife o Comando do Exército Americano no Atlântico Sul, sob a chefia do general Robert L. Walsh. Em janeiro de 1943, Vargas encontrou-se, em Natal, com o presidente Roosevelt, que acabava de reunir-se com Winston Churchill (primeiro-ministro da Inglaterra) e o general De Gaulle (líder da Resistência francesa) na Conferência de Casablanca. Na conversa, Getúlio procurou deixar claro que, se a partilha do mundo no pós-guerra estava muito além de nossa capacidade militar, o Brasil mantinha a pretensão de ordenar sua política de acordo com seus interesses de desenvolvimento político e econômico. Na verdade, o que o govemo brasileiro reivindicava era a posição de colônia privilegiada, que pagava com lealdade (e com bases no Nordeste) o direito de importação de capitais, tecnologia e armamentos. O que se pretendia, veladamente, era usufruir da aliança com o "Irmão do Norte" para a construção de um subsistema de poder na América Latina.
As primeiras medidas de caráter econômico em função da guerra foram tomadas ainda em setembro de 1939, quando o governo brasileiro criou a Comissão Reguladora do Abastecimento e da Produção, subordinada ao ministério da Agricultura. O novo órgâo tinha por função coordenar a produção e o comércio de gêneros alimentícios, matérias-primas, medicamentos, materiais de construção, combustíveis, lubrificantes e outros artigos fundamentais. Poderia requisitar mercadorias declaradas de necessidade pública pelo governo e promover sua distribuiçâo nos centros de consumo. As infrações às suas decisões eram de competência do Tribunal de Segurança Nacional. No mesmo mês de setembro foi instituída também a Comissão de Defesa Nacional; diretamente subordinada ao presidente da República, a Comissão era dirigida por João Alberto Lins de Barros e cabia-lhe controlar as operações do comércio exterior.
Com o envolvimento direto do Brasil na guerra, o governo extinguiu a Comissão de Defesa Nacional, criando, a 28 de setembro de 1942, a Coordenação de Mobilização Econômica, que reunia poderes muito mais amplos. Incumbido de orientar a produção mineira e agropecuária, o novo órgão deveria ainda coordenar os transportes e o comércio extemo, além de regulamentar o racionamento no âmbito do consumo, a política de preços e o controle do mercado de trabalho. Era, assim, um organismo de planejamento econômico. Seu presidente era João Alberto e do seu conselho consultivo faziam parte João Neves da Fontoura, Roberto Simonsen, Artur Neiva, Euvaldo Lodi e outros. Criado a 3 de maio de 1943, o Serviço de Racionamento procedia ao levantamento das necessidades de consumo, elaborando um cadastro dos consumidores; a seguir, emitia cartões de racionamento para produtos básicos como came, açúcar e pão, cujos preços eram tabelados. Além de raro, o pão distribuído na época, o chamado "pão de guerra", era de péssima qualidade, mistura de farinha de trigo, fubá e farinha de mandioca. A indústria foi igualmente mobilizada.
Em 1943, assinou-se o Convênio Têxtil, que obrigava as empresas do setor a colocar no mercado interno pelo menos 10% do total de sua produção na forma de artigos populares, entregues à Comissão Fiscalizadora e Executiva do Convênio Têxtil, que se encarregava de sua distribuição em áreas de necessidade mais premente. Essa medida permitia que muitos produtos, que haviam escasseado, fossem novamente encontrados no mercado, embora apresentassem um nível de qualidade bastante inferior. Um dos maiores problemas da Coordenação de Mobilização Econômica estava na área de combustíveis, cujas importações eram insuficientes, na medida em que os fomecimentos haviam caído cerca de 60% do volume anterior à guerra. Por outro lado, a crescente demanda do carvão nacional era dificultada pela precariedade de nosso sistema de transportes.
Quanto ao petróleo, a situação era ainda mais delicada, pois não havia recursos para a plena utilização das jazidas descobertas na Bahia. A escassez de gasolina foi suprida pela adaptação de muitos veículos aos aparelhos de gasogênio, que produziam gás proveniente de carvão. Ao mesmo tempo, foi decretado um aumento na porcentagem de álcool a ser adicionado à gasolina. Obrigatória desde 1931, essa porcentagem subiu para 75% durante a guerra. Outro produto que entrou no esforço de mobilização foi a borracha. Respaldado por uma verba dos Estados Unidos, João Alberto deslocou para a Amazônia 50 000 nordestinos, empregando-os na coleta do látex de seringueiras selvagens. Para alcançá-las, era necessário atingir remotas áreas da floresta, construir pistas de aterragens e acampamentos. O acordo de 3 de março de 1942 estabelecia que a United States Rubber Reserve Company compraria a borracha que excedesse o consumo intemo brasileiro, ao preço de 39 centavos de dólar a libra-peso.
A experiência, contudo, estava condenada ao fracasso. Segundo o historiador John W. F. Dulles, "a maior dificuldade encontrada na execução do programa da borracha residia nos obstáculos ao aumento da produção. Os primeiros seringueiros recrutados no Ceará tinham tido, ao chegar à Amazônia, uma experiência tão má quanto a dos seus predecessores, quarenta anos antes. Eram enfumados no porão de um navio, com algum dinheiro, e mandados para a Amazônia, para enfrentar a hostilidade da natureza e dos habitantes locais. Em lugar dos cinqüenta mil trabalhadores programados, João Alberto só pode conseguir doze mil. Recebidos com `bárbaros', estes seringueiros improvisados dormiam em tendas fomecidas pelos Estados Unidos, que chegavam a mandar artistas para entretê-los. Mas poucos chegaram a trabalhar na extração da borracha. Alguns morreram; a maioria retornou ao Ceará, muitos doentes. (... ) Em 1944, a produção alcançou o nível de vinte e nove toneladas (a expectativa dos Estados Unidos era de quarenta mil toneladas), sendo que uma parte desta produção, como já era costume, foi enviada para a Bolívia".
FEB - Força Expedicionária Brasileira
Em fins de 1942, Vargas autorizou os representantes militares brasileiros em Washington a comunicar ao governo norte-americano que o Brasil estava preparado para enviar soldados ao exterior. Meses depois, a 15 de março de 1943, o general Dutra (ministro da Guerra) obtinha do presidente a aprovação para seu plano de formação da Força Expedicionária Brasileira (FEB); Vargas, porém, fazia a ressalva de que o envio de tropas à Europa dependia do "recebimento de material bélico de que necessitamos para o aparelhamento tanto da tropa expedicionária, como da que deve ficar guarnecendo onosso território" - alusão à relutância norteamericana em fornecer ao Brasil o equipamento necessário. Visto com algumas reservas pelo Alto Comando dos Estados Unidos, o plano brasileiro foi finalmente aprovado pelo general Marshall em abril de 1943. Quanto ao preparo de nossas tropas, ficou estabelecido que receberíamos, para treinamento, metade do material correspondente a uma divisão e que as tropas brasileiras, quando chegassem ao front, seriam devidamente equipadas. Em agosto de 1943, Dutra - cujo plano era enviar cinco divisões, num total de 100 000 homens - viajou aos Estados Unidos, a fim de ultimar os preparativos para o embarque das tropas brasileiras. Em Washington foi decidido que o Brasil mandaria 60 000 homens para o Norte da Africa, a partir de meados do ano seguinte. Enquanto se processava, em todo o país, o recrutamento de combatentes para as unidades terrestres e aéreas, oficiais do exército seguiam para os Estados Unidos, onde eram preparados em cursos de emergência do Estado-Maior norte-americano. O comando da Força Expedicionária Brasileira foi entregue ao general João Batista Mascarenhas de Morais, que, no final de 1943, foi à Europa para observar as operações de guerra no Mediterrâneo. A derrota nazista no Norte da África, em novembro de 1942, havia alterado os planos iniciais; o objetivo era agora a Itália. Em julho de 1944, desembarcou em Nápoles o primeiro contingente da Força Expedicionária Brasileira, composto de 5 400 homens e comandado pelo general Euclides Zenóbio da Costa. Em setembro de 1944 partiram mais dois contingentes; o quarto e o quinto escalões viajariam, respectivamente, em novembro de 1944 e em fevereiro de 1945, completando 0 deslocamento de uma divisão, num total de 25 334 homens. Nesse meio tempo, quatrocentos homens da Força Aérea Brasileira, entre os quais o filho mais velho de Getúlio - o tenente Lutero Vargas -, depois de um treinamento no Panamá e nos Estados Unidos, partiram para a Itália em outubro de 1944. Era o I Grupo de Caça que, sob o comando do major Nero Moura, daria apoio às atividades de superfície dos aliados, realizando ataques às instalações e ao sistema de comunicações dos alemães. Oito pilotos brasileiros perderiam a vida nessas operações.
Uma vez na Itália, os efetivos brasileiros foram engajados ao V Exército norte-americano, comandado pelo general Mark Clark. Seu objetivo era romper a chamada Linha Gótica, que marcava os limites das tropas nazi-fascistas, situada entre a região de Massa-La Spezia, no mar Tirreno, e Rímini, no Adriático. O batismo de fogo dos soldados da FEB deu-se a 16 de setembro de 1944, quando o I e o II Batalhões do VI Regimento de Infantaria tomaram Massarosa e, dois dias depois, Camaiore, pondo cerco a Monte Prano, que caiu após oito dias de luta intensa. A seguir, tropas brasileiras foram deslocadas para o vale do rio Serchio, onde tentaram, sem êxito, conquistar Castelnuovo di Garfagnana, em mãos dos alemães. Como o marechal Alexander, comandantechefe dos aliados na Itália, pretendia conquistar Ravena e Bolonha "antes do Natal", Mark Clark concentrou forças brasileiras no vale do Reno.
Em novembro de 1944, o quartel-general da FEB estava alojado em Porreta Terme, cabendo-Ihe coordenar a difícil missão de tomar Monte Castelo aos alemães. Solidamente instalados na região montanhosa, estes fustigavam continuamente nossas tropas com fogo de artilharia pesada. A 24 e 25 de novembro, uma força-tarefa norte-americana, apoiada por um batalhão da FEB, tentou, sem sucesso, tomar a posição. No dia 29, as tropas brasileiras fizeram, sozinhas, uma nova tentativa, igualmente frustrada. Ao iniciar-se o invemo, a luta arrefeceu, voltando a encarniçar-se em fevereiro de 1945. Enquanto os americanos travavam furiosa batalha em Monte Della Torraccia, os brasileiros combatiam em Monte Castelo. No dia 20 de fevereiro, a bandeira norte-americana tremulava em Belvedere, próximo à posição cobiçada. No dia seguinte, o I Regimento de Infantaria da FEB, sob o comando do coronel Caiado de Castro, lançou-se ao ataque final contra o baluarte alemâo. Ao fim de doze horas de intenso combate, Monte Castelo era nosso. Novas vitórias marcaram a campanha de nossos pracinhas em terras italianas: Castelnuovo, a 5 de março; Montese, a 14 de abril; e Zocca, a 20 de abril. Na planície do Pó, os soldados da Força Expedicionária tomaram ainda Marano e Vignola. Em seguida dirigiram-se para noroeste, onde, nas proximidades de Parma, conseguiram a rendição de toda uma divisão alemã. Logo depois, as tropas do IV Corpo do Exército Aliado entravam em Milão, onde, num posto de gasolina, os corpos de Mussolini e sua amante tinham sido pendurados de cabeça para baixo pelos guerrilheiros da Resistência. Em sua marcha para o norte, as forças da FEB tomaram Alessandria (30 de abril), a 60 quilômetros de Turim. Dois dias depois, a 2 de maio de 1945, rendiam-se todas as tropas nazistas estacionadas na Itália.
Coberta de glórias, a Força Expedicionária Brasileira retornou ao Brasil em várias etapas. A 18 de julho, os 4 931 homens componentes do primeiro escalão desfilaram pela avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, perante milhares de pessoas. Terminava a epopéia dos soldados brasileiros em operações de guerra. De origem humilde, recrutados muitos deles nas favelas, haviam se portado com bravura, deixando 465 mortos em solo italiano. Esse valor foi reconhecido pelo próprio inimigo: num túmulo em Castelnuovo, onde enterraram três pracinhas brasileiros, os alemães escreveram: "3 Tapfere [valentes] - Brasil 24/1/1945". Inscrição semelhante foi encontrada em uma tumba de Montese: "Drei brasilianische Helden" (três heróis brasileiros). Mas a atitude de respeito era mútua: no cemitério de Pistóia, ao lado dos brasileiros mortos, repousam para sempre quarenta bravos alemães.
Agosto de 1942: A declaração
Carnificina no mar do Nordeste leva o país a declarar guerra contra o Eixo - Um único submarino alemão afunda cinco embarcações e vitima quase 600 pessoas - Ataques realizaram-se em curtíssimo intervalo de tempo |
Retaliação popular: um restaurante de comida alemã é depredado no Rio de Janeiro (1942)
Voraz, o U-507 não se contentaria com o notável estrago. Algumas horas depois, a embarcação tedesca se aproximaria do Araraquara, que também saíra de Salvador em direção ao Norte do país. Às 21h03, lançou dois torpedos que afundaram o mercante de 4.871 toneladas em cinco minutos. Das 142 pessoas a bordo, 131 perderam a vida. Sete horas depois do segundo ataque, o U-507, que ainda perambulava pela região, assaltou o Aníbal Benévolo. Às 4 horas da manhã do dia 16, dois torpedos - um na popa, outro na casa de máquinas - meteram no fundo o pequeno navio de 1.905 toneladas. Todos os 83 passageiros, a maioria deles recolhidos às suas cabines, morreram; de 71 tripulantes, só quatro sobreviveram.
Em menos de oito horas, o U-507, brinquedo assassino de Adolf Hitler, afundara três embarcações brasileiras e matara 541 homens. O país ainda se comovia com a tragédia causada pelos pérfidos ataques quando o submarino voltou à carga. No dia 17, próximo à cidade de Vitória, o Itagiba foi atingido às 10h45. O Arará, que se dirigia de Salvador para Santos, e parou a fim de socorrer o colega, acabou tornando-se a quinta vítima dos petardos tedescos. Os 36 mortos do Itagiba e os 20 do Arará fizeram a conta das baixas brasileiras rasparem nas seis centenas. Ficava difícil esconder o desejo de revanche.
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Apesar de oficialmente neutro na refrega, o Brasil já se bandeara para o lado dos Aliados desde 1941, quando o chefe da República abriu espaço para bases aéreas e navais no Nordeste brasileiro. Em dezembro, Natal recebia uma parte do esquadrão naval VP-52; além disso, a 3º Força-Tarefa americana passou a ser lotada no Brasil, contando com uma esquadra equipada para atacar submarinos e navios mercantes rompedores de bloqueio do Eixo, que tentavam trocar mercadorias com o Japão.
A postura passiva, contudo, já não era suficiente para acalmar a traumatizada opinião pública e manter a soberania do país. Getúlio Vargas não teve escolha senão reconhecer o conflito entre o Brasil e as potências do Eixo. Em resposta aos apelos da sociedade, finalmente o Brasil anunciou, em 22 de agosto de 1942, o estado de beligerância - que, porém, duraria pouco. Em 31 de agosto de 1942, com a declaração do estado de guerra, o Brasil ingressava na mais internacional das batalhas da História.
Fonte: Revista Veja |
Força Expedicionária Brasileira embarca para a Itália - Primeiro batalhão no 'front' conta com 5.000 homens - Cérebro do corpo militar nacional é general Mascarenhas de Moraes, que também já está na área do Mediterrâneo |
No teatro de operações: soldados brasileiros combatendo em trincheira, no 'front' italiano
O embarque do 1º Escalão verde-amarelo, sob o comando do general Zenóbio da Costa, no navio norte-americano General Mann encerra uma longa espera dos brasileiros para finalmente engajarem-se na batalha contra Itália, Alemanha e Japão. Quando, em dezembro de 1942, Getúlio Vargas anunciou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados e à simples expedição de contingentes simbólicos ao front, muitos duvidaram.
O primeiro passo oficial para a concretização dos planos do presidente aconteceu em 9 de agosto de 1943. Pela Portaria Ministerial 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a FEB, constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários.
A 1ª DIE, comandada por um general-de-divisão, deveria compreender: um quartel-general constituído de estado-maior geral, estado-maior especial e tropa especial; uma infantaria divisionária comandada por um general-de-brigada e composta de três regimentos de infantaria; uma artilharia divisionária comandada por um general-de-brigada e composta de quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 e um de calibre 155); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à observação; um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão - na verdade, de comunicações. A tropa especial, além de um próprio comando, deveria incluir o comando do quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia do quartel-general, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e uma banda de música.
Ainda em agosto, o general João Batista Mascarenhas de Moraes, comandante da 2ª Região Militar, foi convidado pelo ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, para chefiar uma das divisões da FEB. Em seguida, o ministro partiu para os Estados Unidos carregando uma carta de Vargas ao presidente Franklin Roosevelt, em que Getúlio manisfestava o desejo do Brasil de participar das batalhas ativamente.
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Além de lidar com a dificuldade de adaptação dos soldados à nova doutrina, o general Mascarenhas de Moraes teve de vencer diversos obstáculos para tirar a FEB do papel. Um deles dizia respeito à seleção do contingente da tropa, sem critérios físicos ou intelectuais. O material disponível aos expedicionários também era precário. E, como se não bastasse, figurões do governo, simpáticos aos países do Eixo, trabalhavam contra a formação do agrupamento verde-amarelo.
No final de 1943, porém, decidiu-se que o Brasil mandaria um corpo militar para o teatro de operações do Mediterrâneo. Chefiando a recém-criada Comissão Militar Brasileira, na qual oficiais norte-americanos também tomaram parte, Mascarenhas de Moraes viajou à Itália e à África para observar os combates na região; antes de retornar, foi oficialmente nomeado chefe da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária.
Estava quase tudo pronto. Em 15 de maio de 1944, com a instalação do Estado-Maior Especial, que planejaria e executaria o embarque da 1ª DIE, ficou claro que não haveria mais volta. Na madrugada de 30 de junho para 1º de julho, finalmente, a promessa de Getúlio Vargas se cumpriu. O general Mascarenhas de Moraes e alguns oficiais de seu Estado-Maior embarcaram ao lado dos homens do 1º Escalão, que totalizava 5.075 homens - divididos entre um regimento de infantaria, um grupo de artilharia, uma companhia de engenharia e indivíduos ligados aos setores de manutenção, reconhecimento, saúde, comunicações, polícia, justiça, Banco do Brasil e correio. Todos os militares ostentam no ombro o brasão da Força Expedicionária Brasileira, cuja heráldica traz uma cobra, logo abaixo da inscrição "Brasil". O ofídio em questão, é claro, está fumando.
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Trechos de 'A Cobra Fumou', de Vinícuius Reis (BSB Cinema) |
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1º Grupo de Caça da FAB desembarca na Itália para participar do teatro de operações - Preparação para o combate incluiu treinamento nos Estados Unidos e no Panamá - Brasileiros ficam subordinados a americanos |
Aprovados com louvor: caças com pilotos brasileiros durante fase de treinamento nos EUA
Agora, os aviadores brasileiros poderão realmente sentar a dita cuja nos inimigos do Eixo, em pleno céu mediterrâneo. No dia 6 de outubro de 1944, o 1º Grupo de Aviação de Caça desembarcou no Porto de Livorno, na Itália, duas semanas após deixar o porto de Norfolk, na Virgínia. Subordinados operacionalmente à 12ª Força Aerotática da Aeronáutica estadunidense, os verde-amarelos esperam ter oportunidades de colocar em prática no Teatro de Operações do Mediterrâneo o que aprenderam durante meses e meses de treinamentos e missões independentes.
Antes de Long Island, o Grupo de Caça, fundado em 18 de dezembro de 1943, participou de um período de aperfeiçoamento em Orlando, na Flórida. Lá, seu comandante, o major aviador Nero Moura, e mais 32 homens-chave do agrupamento familiarizaram-se com os caças Curtiss P-40 Flying Tiger e adaptaram-se às normas da Escola de Tática Aérea americana. Em março, essa equipe partiu para Aguadulce, no Panamá, onde o restante do 1º Corpo, que deixara o Brasil alguns dias antes, já o esperava. Naquele país da América Central, o major aviador foi promovido ao posto de tenente-coronel aviador.
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Durante a viagem no navio USAT Colombie para a Itália, onde agora o 1º Grupo de Caça enfrentará os aviões da combalida porém respeitável Wehrmacht germânica, o capitão aviador Fortunato Câmara de Oliveira, comandante da Esquadrilha Azul, elaborou o emblema do grupo. Um atlético avestruz de quepe - ovelha negra entre seus pares, por justamente jamais esconder a cabeça diante dos perigos e ameaças. A nação brasileira confia que, sob a bênção da corajosa ave pescoçuda, os homens do tenente-coronel aviador Nero Moura incendeiem as divisões tedescas na Itália.
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Trechos de 'Senta a Pua!', de Erik de Castro (BSB Cinema) |
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