Cerco a Escola em Beslan - Como foi... (passo a passo)

Fonte: BBC

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O Impasse

Sexta-feira, 3 de setembro. O cerco à escola Número 1 de Beslan entra em seu terceiro dia. Os separatistas chechenos mantêm mais de mil reféns, entre crianças e adultos.

Eles haviam ocupado a escola na quarta-feira e obrigado todos a permanecer no ginásio esportivo.

Os contatos com os sequestradores são retomados na manhã de sexta-feira. Até então, eles haviam se negado a permitir a entrega de comida aos reféns.

Por volta das 8h50 eles autorizam a entrada de funcionários dos serviços de emergência para retirar os corpos de reféns mortos.




As condições na escola

Os reféns foram espremidos dentro de um pequeno ginásio, pouco mais que uma quadra de basquete.

Foram obrigados a ficar no centro da quadra, rodeados por minas e bombas conectadas por cabos.

Bombas foram coladas com fitas adesivas às paredes e penduradas no teto. Dois artefatos maiores foram colocados nas redes das cestas de basquete.

De tempos em tempos, os sequestradores disparam suas armas para amedrontar os reféns. Colocam também crianças perto das janelas, servindo como escudos humanos.

À medida que a temperatura aumenta dentro do ginásio, muitos reféns começam a desmaiar. Eles tiram as roupas para tentar se refrescar, e bebem a própria urina para evitar desidratação.

Os investigadores acreditam que as armas tenham sido escondidas no interior do ginásio semanas antes do ataque.




A Explosão

Pouco antes das 9h (horário GMT), o serviço de emergência entra na escola para retirar os corpos de cerca de 15 reféns mortos.

Minutos mais tarde, são ouvidos tiros e explosões. Por volta das 9h15, um grupo de reféns de diferentes idades consegue escapar.

Ainda não está claro em que ordem se deram os acontecimentos. Testemunhas dizem que uma das bombas presas nas paredes do ginásio explodiu. Isso teria se seguido de uma grande explosão, que fez o telhado ceder e os reféns começaram a correr.

Os rebeldes atiraram neles enquanto fugiam. As tropas russas do lado de fora começaram a responder fogo.



A entrada das tropas

As forças especiais invadem a escola. O cordão de isolamento, porém, é desrespeitado por parentes dos reféns, muitos armados, que se misturam às tropas correndo na direção do edifício.

Os presidente russo, Vladimir Putin, afirmou depois que a decisão de invadir não foi planejada, mas tomada após os sequestradores começarem a atirar nas crianças.

As 10h05, os comandantes russos anunciam que seus soldados têm quase total controle da escola, mas o tiroteio continua.

Às 10h40, três blindados com soldados se aproximam da escola. Explosões são ouvidas – as forces especiais abrem rombos nos muros para permitir a fuga dos reféns.

Por volta do meio-dia, especialistas começam a desarmar as minas no pátio e no interior da escola.




A saída dos reféns

Enquanto os soldados entram na escola, crianças seminuas e ensanguentadas correm para fora. Outras são carregadas por adultos.

Aqueles que não estavam gravemente feridos, procuravam desperadamente por água. Os primeiros-socorros são dados num hospital de campanha montado nas proximidades.

Ambulâncias e veículos civis guiados por soldados são usados para levar os feridos a vários hospitais.

Mais tarde, centenas de corpos, muitos deles de crianças, são encontrados entre os destroços no ginásio da escola.




O fim do cerco

Na confusão da invasão a escola, um grupo de rebeldes consegue fugir. Aparentemente, eles teriam se misturado aos reféns e familiares.

Alguns dos sequestradores foram para o sul e acabaram cercados e mortos pelas forças especiais.

Três outros teriam se dirigido ao subsolo da escola, onde continuaram a disparar contra os soldados até serem capturados vivos na noite de sexta.

No sábado, as forças de segurança russas disseram que 27 militantes morreram na escola. Ainda há versões contraditórias sobre se algum deles continua foragido.




Depois da tragédia

A dimensão da tragédia começou a ficar mais clara no sábado.

Cavando entre os destroços no ginásio incendiado, os serviços de emergência recuperaram os corpos de centenas de adultos e crianças. Muitos estavam tão queimados que não podiam ser identificados.

As dificuldades de identificação e o fato de que as vítimas foram levadas a hospitais tão distantes quanto Moscou significam que centenas de pessoas ainda não sabiam até esta segunda-feira se os seus parentes morreram ou não.

Conclusão:

Após o banho de sangue em Beslan, as forças de segurança russas continuam sendo criticadas pela desastrosa operação de resgate dos reféns.

Um integrante da comissão parlamentar russa que investiga o cerco de setembro de 2004 afirmou que granadas lançadas pelas forças russas provavelmente levaram ao grande número de mortos no ginásio da escola, onde mais de mil pessoas estavam sendo mantidas reféns por separatistas chechenos.

As conclusões de Yuri Savelyev - um especialista de armas e explosivos - contradizem a versão oficial de que bombas plantadas pelos seqüestradores foram detonadas momentos antes do confronto armado entre os chechenos e as forças russas.

"A maioria dos reféns falou sobre explosões em uma parte totalmente diferente do ginásio daquele ao qual se referiu a investigação oficial", afirmou Savelyev.

Falta de esperança

As afirmações voltam a reacender especulações de que o Kremlin teria encoberto detalhes do cerco.

Muitos parentes de vítimas dizem que perderam todas as esperanças de que as autoridades algum dia contem toda a verdade a respeito do espisódio que chocou o mundo.

O único seqüestrador detido vivo, Nurpashi Kulayev, foi condenado à prisão perpétua em maio, mas seu julgamento deve ajudar pouco no esclarecimento do desenrolar dos acontecimentos.

Os procuradores que participaram do julgamento de Kulayev disseram que 32 homens armados chegaram à Escola Número Um em um caminhão do Exército, carregando consigo todas suas armas e explosivos caseiros.

Após longas negociações, as forças especiais não tiveram escolha e invadiram o ginásio quando uma das bombas acidentalmente explodiu e tiros foram ouvidos no local.

Os procuradores afirmaram ainda que os comandantes da operação tomaram todas as precauções possíveis para salvar as vidas dos reféns, mas muitas pessoas morreram quando o teto do ginásio desabou, após ser atingido pelas explosões das bombas detonadas pelos seqüestradores.

Kulayev - que foi considerado culpado por assassinato e terrorismo - foi o único seqüestrador que conseguiu fugir, de acordo com os procuradores.

Versões contraditórias

Vários parentes de vítimas fizeram objeções às principais hipóteses dos procuradores.

Eles disseram que várias armas foram escondidas embaixo do chão do ginásio antes do cerco.

Eles também dizem que mais de 32 homens armados participaram do cerco e que alguns deles conseguiram escapar.

O depoimento de Kulayev - que negou ser culpado das nove acusações contra ele - também contém contradições em relação à versão dos procuradores.

O carpinteiro checheno de 25 anos disse que a primeira explosão ocorreu após um atirador russo matar um dos seqüestradores, que estava segurando um detonador.

Vários sobreviventes disseram que momentos antes da primeira explosão eles viram um dos homens responsáveis pelo detonador cair da cadeira.


EM VIDEO:











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Veja como foi o cerco à escola em Beslan

Fonte: UOL

(Reuters) - Homens armados pró-Chechênia entraram em uma escola em Beslan, na Rússia, há um ano, fazendo mais de 1.200 reféns -- crianças, professores e pais -- no primeiro dia do ano escolar.

Confira os principais fatos sobre a tragédia que se seguiu ao cerco à escola:

-- O grupo rebelde, que os investigadores afirmaram contar com 30 pessoas no local, foi até a pequena cidade nas regiões muçulmanas da Chechênia e Inguchétia, no dia 1o. de setembro de 2004, tendo passado por algumas das estradas mais bem patrulhadas da Rússia.

-- Os homens armados mataram a maioria dos homens que capturaram na escola Número 1 e jogaram seus corpos pelas janelas. Eles agruparam as mulheres e crianças no ginásio de esportes, onde os reféns ficaram sentados e rodeados por explosivos.

-- Os rebeldes afirmaram que iriam libertar os reféns se as tropas russas se retirassem da Chechênia. Autoridades russas se recusaram a atender as exigências ou divulgá-las.

-- O impasse acabou em uma sangrenta ação no dia 3 de setembro, após uma explosão no ginásio, que continua sem explicação. Um total de 331 pessoas -- 186 delas crianças -- morreram devido à explosão e ao tiroteio e fogo decorrentes do incidente.

-- Nenhuma autoridade importante foi punida por não conseguir evitar a tragédia. Um checheno, Nurpashi Kulayev, sobreviveu ao cerco e está sendo julgado por terrorismo na cidade próxima de Vladikavkaz. Ele nega a acusação, dizendo que foi sequestrado pelo grupo rebelde e que estava na escola contra sua vontade.

(Por Oliver Bullough, em Beslan)