Fonte: Cultura Aeronáutica - Por: Thiago Martiusi Moura - Universidade Norte do Paraná/UNOPAR
Desde a desativação dos Dassault Mirage III EBR, a aviação de caça brasileira precisa de uma nova aeronave de combate. Atualmente, o programa de reequipamento de caça da FAB, denominado F-X, tem três concorrentes, mas um favorito parece estar se delineando, em vista dos recentes acordos políticos firmados entre o Brasil e a França, o Dassault Rafale.
O Rafale é um caça desenvolvido pela Dassault Aviation, em parceria com o grupo Thales e a fabricante de motores Snecma. Seu nome em francês significa “rajada” e seu projeto foi iniciado nos anos 80. Desde então passou por aprimoramentos chegando a versão atual Rafale F3, que teve seu desenvolvimento iniciado em 2004. Essa última versão constitui um caça multifuncional com aptidão para combate aéreo, ataque à superfície, ataque naval, reconhecimento e ataque nuclear. Consiste numa aeronave com contornos suaves, de asas baixas em delta com enflechamento composto e canards móveis instalados abaixo do cockpit. As asas possuem elevons em toda a envergadura e slats no bordo de ataque e apresenta freios aerodinâmicos em ambos os lados da fuselagem. Por ser uma aeronave aerodinamicamente instável, está equipada com comandos fly-by-wire, possuindo ainda um pára-quedas de desaceleração instalado embaixo da deriva.
Seu trem de pouso é triciclo, com a perna dianteira equipada com duas rodas e recolhimento para trás, o que facilita seu recolhimento em vôo. Já as pernas principais têm uma roda cada e fechamento sob as asas. Tem altura de 5,34m, comprimento de 15,3m e envergadura de 10,9m. Seu peso vazio é de 9400 kg, baixo para um caça bimotor. A título de comparação, seu peso vazio é apenas 1128 kg superior ao do monomotor F-16. O caça, totalmente carregado e abastecido, tem um peso máximo de decolagem de 21.500 kg, cerca de duas vezes e meia o seu peso vazio.
Outro fator que impressiona é a distância de decolagem de apenas 400 metros quando vazio e 600 metros carregado. Seu teto operacional é de 65.620 ft (20000 m). Sua capacidade de combustível é de 4.500 litros internos e mais 7.500 litros externos. O combustível interno lhe confere uma autonomia aproximada de 3 horas de vôo e tem alcance de 3300 km quando equipado com armamento leve e tanques externos. Porém, seu raio de combate, considerando armamento padrão, 30 minutos de operação e retorno a base é de 1.800 km.
O Rafale é equipado com dois motores turbofan SNECMA M88-2 de 50 KN ou 11250 lbf de empuxo cada e 75 KN ou 17.000 lbf de empuxo com pós-combustão, o que lhe permite voar a Mach 2.0. Esse motor deverá ser substituído futuramente pelo M88-3, que é mais potente e está em fase de desenvolvimento. Um sistema Obogs (geração de oxigênio a bordo) elimina a necessidade de transportar tanques de oxigênio.
A aeronave apresenta contornos melhorados na fuselagem, usa materiais compostos absorventes de ondas de radar (RAM) e um canopy dourado, detalhes que lhe conferem uma grande redução de sua assinatura radar (RCS). O canopy abre para a direita e foi desenvolvido de modo a reduzir os raios ultravioletas advindos do sol sobre o piloto. Esse conjunto de aprimoramentos concede ao caça uma grande redução de peso e o torna mais difícil de ser detectado, possuindo um padrão conhecido como “discret” em referência a sua assinatura radar, menor inclusive que seus concorrentes diretos F/A-18 Super Hornet e JAS-39A Gripen.
Os pilotos utilizam assentos ejetáveis Martin-Baker MK 16F, do tipo zero-zero (zero altitude e zero velocidade), inclinados 29º a fim de aumentar a tolerância dos pilotos à força G. O controle é do tipo HOTAS (Hands On Throttle And Stick) onde o piloto tem todos os principais comandos no manche e na manete, tendo a manete do lado esquerdo e um pequeno manche lateral do lado direito. A suíte de aviônicos de combate, desenvolvido pela fabricante de eletrônicos Thales, dispõe de um “glass cockpit” com um HUD holográfico e grade angular, além de duas grandes MFD (telas planas multifuncionais com comando Touch screen).
O armamento consiste em um canhão de 30 mm GIAT 791B, de cadência de disparo de 2500 tiros por minuto, montado no duto do motor direito e mais uma variada gama de mísseis que podem ser alojados em 14 pontos duros externos. Nas pontas das asas encontram-se dois pontos duros para mísseis ar-ar AAM de curta distância que também servem para os geradores de fumaça utilizados nas apresentações aéreas.
Rafale armado com bombas guiadas
Os AAM de maior relevância são os mísseis buscadores de calor Matra/BAE Dynamics Magic e os Matra/BAE Dynamics Missile d’Interception, de Combat d’Autodefense, que usam tecnologia de busca por calor (MICA IR) e Eletromagnética com buscador ativo de radar (MICA EM). O MICA IR tem capacidade “launch before lock”, que lhes permitem ser lançados antes de “travar” no alvo possibilitando perseguir alvos distantes sem dar aviso prévio de aproximação. Também pode ser equipado com o míssil Matra/BAE Dynamics Meteor BVRAAM, um míssil ar-ar de capacidade além do alcance visual. Pode transportar bombas norte americanas guiadas por laser Paveway e mísseis de cruzeiro Matra/BAE Dynamics Apache de submunição e Scalp de penetração.
O Rafale demonstra ser uma ótima aeronave, com grandes possibilidades de aprimoramentos futuros, ao contrário dos concorrentes, inclusive sendo apto para operações no NAe São Paulo, pois já foi muito utilizado neste navio aeródromo quando o mesmo ainda pertencia a França. É capaz de oferecer ao Brasil grande poder de dissuasão com a integração dos sistemas radar AESA de varredura eletrônica ativa, sistema de autoproteção integrado ao de guerra eletrônica, sistema optrônico do setor frontal e data link que proporciona ao piloto um quadro tático completo e preciso. Tem arquitetura de software aberta com acesso aos códigos-fonte e raio de ação compatível com as dimensões do país, mas insuficiente para combates nos pontos mais distantes do continente sul-americano, fato esse que pode ser sanado com o advento dos futuros motores M88-3.
O Rafale é, portanto, uma opção perfeitamente válida para o reequipamento da Força Aérea Brasileira. Se for fabricado no Brasil, representará uma evolução tecnológica considerável para a nossa indústria aeronáutica. Já está bem claro que a escolha deverá obedecer mais a critérios políticos do que técnicos. O Brasil utiliza, com sucesso, aviões militares europeus há muito tempo, especialmente os franceses. O governo diz que a concorrência F-X ainda não está decidida, mas o Rafale, desde já, é o grande favorito.
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