Em uma entrevista exclusiva Nassif (clique para ler a matéria e acessar ao Blog do Nassif) conversou com o Ministro da Defesa Nelson Jobim que esclareceu a situação do programa FX da Força Aérea Brasileria.
Por: Luiz Nassif
Conversei agora com o Ministro da Defesa Nelson Jobim, sobre as negociações com os franceses da licitação FX – os caças da Força Aérea Brasileira.
Em abril de 2008, Lula mandou reativar o projeto, que tinha sido paralisado devido à crise econômica de 2005. Incumbida de levantar as propostas, a FAB pediu novas informações aos concorrentes. Cinco haviam se apresentado: a Boeing F/A18, a Dassault Rafale, a Eurofighter Typhoon, a Lockeed MArtin F-16, a Saab Gripen e o Sukhoi Su-35.
Em outubro, foram eliminados a Eurofighter, a Lockeed e o Sukhoi. O primeiro, pelo fato de ser um consórcio europeu de vários países, o que dificultaria a transferência de tecnologia. A Lockeed, por não haver informações mais precisas sobre o controle que detinha sobre a tecnologia. E a Sukhoi por não aceitar falar em transferência de tecnologia. Ficaram F18, da Boeing, o novo Gripen NG, que ainda não existe, e o Rafale.
A FAB prosseguiu com os trabalhos e, em outubro de 2008, pediu para as três finalistas a oferta final. Começou a trabalhar, então, em um relatório com os detalhes técnicos das propostas, aspectos individuais dos aviões, preço e custo de manutenção.
As promessas de Sarkozy
Enquanto os trabalhos prosseguiam, surgiram os primeiros sinais da aproximação do presidente francês Nicolas Sarkozy com o presidente Lula. O francês manifestou intenção de se anunciar os termos do acordo militar Brasil-França no dia 7 de Setembro.
Sentindo que a intervenção presidencial poderia lhe ser favorável, a Dassault jogou para cima os preços da proposta. Não seria possível porque o processo ainda não tinha se encerrado.
Na primeira conversa que tiveram, Lula alertou Sarkozy dos problemas em relação aos preços e à transferência de tecnologia. Além disso, os franceses não haviam fixado um mercado para a comercialização dos Rafales brasileiros. Não interessava só comprar tecnologia, mas dispor de um ambiente para a comercialização do produto.
No domingo à noite houve outra reunião, à qual Jobim foi convidado. Participaram vários brasileiros e franceses. Dentre os brasileiros, o Brigadeiro Saito, Comandante da FAB.
Na conversa, Sarkozy disse que garantiria os pleitos brasileiros. A Dassault é uma companhia privada, mas da qual 43% é de propriedade da estatal EDS – que, no entanto, não participa da gestão. Mesmo assim, Sarkozy deu sua palavra. Disse que enquadraria a Dassault para que fizesse oferta competitiva e razoável, e compatível com os valores praticados pela Dassault para as Forças Armadas francesas.
Do lado brasileiro, havia dúvidas sobre esses valores. E se neles estivesse embutido alguma espécie de subsídio cruzado do governo francês à companhia? Decidiu-se então que esses valores seriam o teto, para as negociações.
Sarkozy garantiu também o mercado latino-americano com exclusividade para o Brasil. Em relação ao custo de manutenção, havia dúvidas sobre o custo da hora-vôo apresentado pelos franceses. Avaliações informadas por Saito indicavam que, para um período de 30 anos (período de obsolescência), o cálculo da FAB chegara a valores pedidos muito elevados.
Houve uma discussão a respeito da metodologia de medição. No final, Sarkozy se comprometeu a conversar com a Dassault e assegurar que ofereça um preço fixo por hora-vôo. O teto a ser fixado é aquele pago pelas Forças Armadas francesas. Acima desse valor, ficaria por contad a Dassault.
Finalmente, tratou-se da transferência irrestrita de tecnologia e da compra de dez cargueiros que estão sendo desenvolvidos pela Embraer. A EADS se comprometeu a adquirir e, se necessário, a participar do desenvolvimento com a Embraer.
Os próximos passos
Depois da conversa, Lula manifestação interesse pela opção francesas, atendendo aos requisitos que foram negociados. Mas era só o primeiro passo.
No dia seguinte, Jobim informou o presidente sobre a necessidade de formatar juridicamente o processo.
Está em curso um processo de seleção, substitutivo da licitação. Surgiu o fato novo, nas promessas do governo francês, a serem endossadas pela Dassault.
O próximo passo será definir os procedimentos jurídicos para a formalização do prometido. Em seguida, a nova proposta será comparada às duas outras selecionadas. E será aberta a possibilidade de uma contraproposta por parte de ambas. O procedimento será encerrado com a FAB analisando as três propostas.
A imprensa, especialmente a estrangeira, deu o caso encerrado, diz Jobim, mas isso não aconteceu. Há uma série de caminhos a serem percorridos, como os preços do Rafale, as condições do financiamento francês. Se bate o martelo, o governo brasileiro perde as condições de arrancar mais vantagens da Dassault.
De qualquer modo, espera-se para o final do ano a conclusão das negociações.
NOTA do Blog do Vinna: Essa foi a informação mais sã que eu vi estes dias sobre o FX-2. Está na cara que a negociação segue. O proprio governo sempre disse que o anuncio seria em outubro. A intenção politica SEMPRE FOI o Rafale que tem contra si apenas a questão do preço.
Tanto que essa do Lula de dizer que “Daqui a pouco, vai receber de graça” os caças deixa claro (aliás clarissimo) que a proposta do F-18 é a provavel proposta tecnica eleita. Mas como a questão é politica tambem! A França Apoia o Brasil na ONU e os EUA não.
Interessante ver a nota da Embaixada Americana... Menciona que somente em 5 de setembro saiu a análise feita pelo Congresso dos EUA sobre a venda potencial do F/A-18 Super Hornet ao governo brasileiro sem nenhuma objeção formal (então há informal) à venda proposta.
Apesar disso significar que há aprovação do Governo dos Estados Unidos para transferir ao Brasil as tecnologias avançadas associadas ao F/A-18 Super Hornet, não há nada especifico ou por escrito que o Brasil poderá vender com "liberdade" até mesmo "um parafuso" dessa tecnologia absorvida incorporada a um produto (que pode ser um caça, um avião de transporte, ou mesmo um trem de pouso) a um terceiro sem ingerencia americana.
Ta claro que o governo está querendo conseguir mais uns “bônus” com os americanos que como sempre demoram demais a “abrir a carteira” para o Brasil. Lembra a negociação que o Brasil do J-7 com a china em 1987 (tida como certa) para conseguir os F-5 e Mirage III financiados em meio a moratória do plano cruzado.
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