A vitória portuguesa deveu-se não só à superioridade táctica dos seus comandantes, mas também ao facto de os holandeses terem entretanto vindo a perder pontos de apoio (fortes) na região, o que reduzia inevitavelmente a capacidade das suas tropas.

Era o dia 18 de abril de 1648. Mais de 4 mil holandeses avançam para o Sul, vindos do Recife. Na passagem, eliminam um pequeno posto inimigo na Barreta. Os poucos sobreviventes acorrem ao Arraial Novo do Bom Jesus 'Quartel-General da resistência pernambucana', onde relatam o incidente.

O comando rebelde ordena a marcha na direção do inimigo. Reunido em Ibura decide: "rumo aos Outeiros Guararapes". Sem tempo sequer para jantar, cerca de 2 mil homens preparam-se para o combate, nutridos pela certeza do improvável: bater uma força material e numericamente superior em batalha decisiva. Partem, lutam e vencem.

Prodígio de criatividade, ousadia e bravura a 1a Batalha dos Guararapes é mais do que um memorável feito militar de nossos antepassados. Neste duelo, em que o Davi caboclo abateu o Golias estrangeiro assentam-se as raízes da Nacionalidade e do Exército brasileiros, que caminham juntos há 350 anos.

Os Holandeses vieram para conquistar e matar os Brasileiros. Massacravam Brasileiros, como no episódio dos Mártires do Rio Grande do Norte, Beatificados pela Igreja Católica recentemente. Os Holandeses se deram mal porque encontraram feroz resistência e foram derrotados e expulsos em uma Guerra que durou de 1624-1625 e de 1630 a 1654.

Foi uma gloriosa e épica página de nossa história. A pior guerra colonial das Américas. Guararapes foi a maior batalha travada nas Américas até o século XIX. Nenhuma batalha internacional na América do Norte até hoje se compara à sua dimensão quantitativa e estratégica, nenhuma batalha das guerras entre franceses e britânicos na América do Norte, nem na guerra da Independência dos Estados Unidos ou nas guerras pelo Texas ou México se compara... Quase 8.000 combatentes tomaram parte na Batalha de Guararapes. Os Holandeses tiveram cerca de mil mortos e muitos mais feridos, sendo derrotados. A Batalha animou a luta pela Restauração em Portugal e no Brasil.

Pela primeira vez na história negros e índios lutaram em igualdade de condições e foram condecorados com a Ordem de Cristo, em ação militar valorosa. A Holanda fundaria o regime dos Afrikaanders racistas no apartheid da África do Sul.


O Exército Brasileiro tem suas raízes fincadas na 1ª Batalha dos Guararapes. Transcorrido em 19 de abril de 1648, nas proximidades do Recife, esse episódio resultou na vitória do " Exército Patriota" integrado por combatentes das três raças formadoras da nacionalidade brasileira sobre as tropas de ocupação do invasor holandês que, há 18 anos, dominava boa parte da Região Nordeste. Em Guararapes, disse o eminente historiador Gilberto Freire, "escreveu-se a sangue o endereço do Brasil: o de ser um Brasil verdadeiramente mestiço, na raça e na cultura". Segundo o Gen Flamarion Barreto em conferência proferida durante a Semana da Pátria de 1966, "O Brasileiro nasceu nos Guararapes".

Consoante essa realidade, O Dia do Exército Brasileiro foi fixado em 19 de abril, consagrando definitivamente a Instituição como herdeira e depositária do legado da Força vitoriosa em Guararapes.

Na oportunidade em que comemoramos os 350 anos desse triunfo, cumpre enaltecer a conduta exemplar dos principais comandantes do " Exército Patriota". Pelo desassombro na luta contra um inimigo mais numeroso e melhor equipado, pela firme liderança que arrastou os comandados à vitória e, finalmente, pelo sentimento de amor ao torrão natal, merecem aqueles valorosos chefes militares ser apontados como paradigma para todas as gerações que vêm constituindo a Força Terrestre Brasileira. São eles: (as imagens correspondem as descrições abaixo com breve biografia)


Mestre-de-Campo General FRANCISCO BARRETO DE MENEZES - Nasceu em 1616, no Peru, à época da união das coroas ibéricas, pois era filho do Comandante português da Praça do Callao. Valoroso militar, foi escolhido para comandar as tropas luso-brasileiras na Insurreição Pernambucana. Chegou ao Brasil em 1647, foi aprisionado, mais logrou evadir-se. "Mestre- de - Campo-General", comandou o "Exército Libertador ou Patriota",, de 25.000 homens, integrado por quatro terços, comandados por Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, vencendo os invasores nas memoráveis Batalhas dos Guararapes, em 1648 e 1649, pelo que recebeu o título de "Restaurador de Pernambuco". Aquele Patriarca foi Governador de Pernambuco e posteriormente, Governador Geral do Brasil, falecendo, em 1668, em Portugal.


Mestre-de-Campo JOÃO FERNANDES VIEIRA (Comandante de Terço) - Nasceu em 1613, em Funchal, Ilha da Madeira, chegando ao Brasil aos 11 anos de idade, tornado-se um rico senhor de engenho em Pernambuco. Liderou a rebelião contra os holandeses, sendo o primeiro signatário do pacto selado pelos patriotas, em 1645, no qual aparece o vocábulo "pátria", pela primeira vez usado em terras brasileiras. Fernandes Vieira comandou o mais forte e adestrado terço do "Exército Patriota" nas duas Batalhas dos Guararapes, sendo aclamado "Chefe Supremo da Revolução" e "Governador da Guerra da Liberdade e da Restauração de Pernambuco". Após a guerra, foi nomeado Governador da Paraíba e, mais tarde, Capitão-General de Angola. Faleceu no Recife em 1681.


Mestre-de-Campo ANDRÉ VIDAL DE NEGREIROS (Comandante de Terço) - Nasceu em 1620, na Vila da Paraíba, PB, tendo participado de todas as fases da Insurreição Pernambucana, quando mobilizou tropas e meios nos sertões nordestinos, sendo considerado um dos melhores soldados de seu tempo. Tomou parte, com grande bravura, em quase todos os combates contra os holandeses, notabilizando-se no comando de um dos Terços do "Exército Patriota", nas duas batalhas dos Guararapes, em 1648 e 1649. Vidal de Negreiros foi encarregado de levar ao rei D.Jõao IV, a notícia da expulsão dos batavos, ocasião em que foi condecorado. Ainda foi Governador-Geral do Maranhão e do Grão-Pará e, posteriormente, de Pernambuco e de Angola. Faleceu em 1660, em Goiana-PE.


Mestre-de-Campo HENRIQUE DIAS (Comandante de Terço) - Nasceu em princípios do século XVII, em Pernambuco, filho de escravos. Grande patriota, apresentou-se voluntário para lutar contra os holandeses, tendo recrutado para a rebelião, um grande efetivo de negros oriundos dos engenhos tomados pelos invasores. Participou de inúmeros combates, com inexcedível bravura, tendo decidido a vitória em Porto Calvo, quando teve a mão esquerda estraçalhada por um tiro de arcabuz: mas ele não abandonou o combate. Nas duas Batalhas dos Guararapes, em 1648 e 1649, foi o comandante de um dos Terços do "Exército Patriota", composto pelos de sua raça, razão por que recebeu o título de "Governador dos crioulos, pretos e mulatos do Brasil". Faleceu no Recife em 1662.


Mestre-de-Campo ANTÔNIO FELIPE CAMARÃO (Comandante de Terço) - Nasceu, o índio Poti, em 1580, em Igapó-RN, batizado com o nome de Antônio, o qual acresceu o de Felipe, em homenagem ao rei de Espanha e "Camarão", tradução do vocábulo "Poti". Deslocou uma tribo de potiguares para Recife, participando de inúmeros combates contra os holandeses. Aquela tribo constituiu um dos Terços do "Exército Patriota" nas Batalhas dos Guararapes: na primeira, sob o comando de Felipe Camarão e, na segunda, ao comando do seu sobrinho, Diogo Camarão, pois ele falecera em agosto de 1648, por ferimentos recebidos em Guararapes, em 19 de abril de 1648. Comendador da Ordem de Cristo, também ganhou a mercê de "Dom" e o título de "Governador de todos os índios do Brasil".


Foram esses vultos da nossa História que cravaram as fundações do Exército Brasileiro no solo sagrado de Guararapes. Assim, constitui imperativo de elevado teor cívico-militar alça-los à condição de Patriarcas da Instituição, uma vez que são os mais remotos ancestrais dos homens e das mulheres que hoje envergam o uniforme verde-oliva, sendo dignos, portanto de figurar, em galeria, ao lado dos insignes Patronos da Força.




Pelo menos 500 holandeses morrem na refrega, pelo que a batalha foi determinante para o espirito dos portugueses e foi determinante para o futuro da presença holandesa no Brasil. Embora ainda tentassem no ano seguinte uma expedição semelhante, ela também não teve sucesso, tendo resultado numa derrota ainda mais esmagadora, que acabaria por selar o fim do periodo holandês no nordeste brasileiro.


É de especial importância, além da resistência demonstrada pelas forças portuguesas - na sua esmagadora maioria constituídas por portugueses nascidos no Brasil - realçar a importância do apoio dos escravos e dos índios autóctones, cujo apoio foi conseguido, às custas do comportamento inamistoso dos funcionários da companhia holandesa das Índias para com os residentes na região.

Para mais informações sobre a Batalha dos Guararapes:

01 - COELHO, Duarte de Albuquerque . Memórias diárias da guerra do Brasil: 1630-1638. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981. 395p. il. (Coleção Recife, v. 12)

Prefácio intitulado, Uma crônica da Guerra Pernambucana em nova edição (p. 9-12)

02 - MELLO, Evaldo Cabral de Olinda restaurada: guerra e açúcar no Nordeste, 1630-1654. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1975. 390p.

03 - MELLO, José Antonio Gonçalves de . Tempo dos flamengos: influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do Norte do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947. 335p. il. (Documentos brasileiros, 54) Inclui bibliografia e índice. 2a ed. Recife: Governo do Estado de Pernambuco, 1978. 292p. (Coleção Pernambucana, 15).

3a ed. Aumentada. Recife: FUNDAJ, Ed. Massangana, 1987. 294p. il. (estudos e pesquisas, 50). Inclui bibliografia e índice onomástico. Editado em convênio com o Instituto Nacional do Livro.

04 - SALVADOR, Frei Manuel Calado do . Valeroso Lucideno e triunfo da liberdade.

4 a. ed. Recife: FUNDARPE, 1985. 2v. il. (Coleção pernambucana, 2 a. fase, 13). Inclui índice.

Prefácio intitulado O valeroso Lucideno (p. XXI-XXXIV).

05 - SANTIAGO, Diogo Lopes . História da Guerra de Pernambuco e feitos memoráveis do mestre de campo João Fernandes Vieira, herói digno da eterna memória, primeiro aclamador da guerra. Recife: FUNDARPE. Diretoria de Assuntos Culturais, 1984. 596p. il. (Coleção pernambucana, 2a fase, v. 1). Inclui índice.

Estudo introdutório intitulado, A edição integral da história da Guerra de Pernambuco (p. 1-5).

06 - BENTO, Cláudio Moreira. As batalhas dos Guararapes; descrição e análise militar. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, 1971. 2v. (1v de mapas). Conteúdo. � p.1. Texto. � p.2. Esboços Topográficos. Inclui bibliografia.

Pernambuco � História � Domínio Holandês. I. Título

981.34 (C.D.D).......................................................PeR-UF

981.34 (C.D.U).......................................................BC-71-538

07 - SOUZA JÚNIOR, Antônio de, maj . Do Recôncavo aos Guararapes ou História resumida das guerras holandesas ao norte do Brasil. 1a. ed. (Edição comemorativa do tri-centenário da 2a Batalha dos Guararapes) Rio de Janeiro Biblioteca Militar, 1948.


Fonte: Exercito Brasileiro - Diagramação By Vinna