Queda de subsídios abre mercado para o etanol brasileiro nos EUA


Após um ano conturbado, com queda na produção e preços em alta, a indústria brasileira de etanol termina o ano com uma grande vitória: a abertura do mercado americano para o biocombustível. O Congresso dos Estados Unidos entrou em recesso ontem e não prorrogou a tarifa de importação e o subsídio para o etanol de milho, vigentes até 31 de dezembro.

Isso significa que, a partir de 1º de janeiro, o combustível do Brasil terá acesso livre nos EUA pela primeira vez em mais de três décadas. Além disso, é o primeiro passo para transformar o etanol numa commodity internacional. 'Significa uma importante vitória para o País', comemora o presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank. Entre os americanos, porém, o fim das barreiras foi encarada com ironia, especialmente por causa do recente aumento das exportações de etanol para o Brasil.

A decisão de ontem é resultado de um longo trabalho de convencimento sobre os benefícios do etanol produzido com a cana-de-açúcar. Até agora, para entrar nos Estados Unidos, o combustível brasileiro tinha duas alternativas. Uma era seguir via Caribe, onde o etanol era processado e exportado, sem nenhuma barreira. Outra era pagar US$ 0,54 de tarifa para cada galão exportado aos americanos.

Isso sem contar os subsídios que os distribuidores recebiam para garantir a competitividade do etanol do milho (US$ 0,45 por galão misturado à gasolina). A política, adotada em 1979 pelo governo de Jimmy Carter, custou US$ 6 bilhões aos cofres públicos americanos por ano e, na atual fase de pressão pelo ajuste fiscal, tornou-se injustificável.

No Brasil, apesar de comemorada, a decisão ainda vai demorar para surtir efeito positivo. Nos últimos anos, a queda das tarifas e dos subsídios americanos era a notícia mais aguardada pelos produtores brasileiros, que mantinham representantes permanentes no Congresso americano. Mas a notícia pegou o setor num momento de baixo astral, com a produção interna em queda por falta de investimentos, baixa produtividade e quebra da safra. Só no etanol hidratado o recuo foi de 29%.

Jank acredita, no entanto, que o fim das barreiras pode ser o combustível que o setor precisava para dar a volta por cima e iniciar um novo ciclo de investimentos. Segundo ele, até 2020, o País precisará injetar R$ 156 bilhões para construir 120 novas unidades. Os números pressupõem o aumento das exportações de 1,5 bilhão para 13,5 bilhões de litros de etanol para os Estados Unidos (que representa 10% do consumo americano).

Mas parece que os americanos não estão preocupados com o avanço do etanol brasileiro, considerado pelos Estados Unidos como um biocombustível avançado (que reduz 90% de emissões comparado à gasolina). A Associação de Combustíveis Renováveis (RFA) informou que o produtor americano está preparado para o fim dos benefícios. Nas últimas semanas, entretanto, a entidade reforçara a pressão no Congresso em favor da prorrogação das benesses, sob o pretexto de o Brasil estar se preparando para elevar para 20% o imposto de importação do etanol a partir de 2012.

'A indústria de etanol dos EUA está preparada para o fim do crédito tributário e da tarifa. Haverá um período curto de ajuste, mas a indústria vai crescer, de qualquer maneira. O incentivo tributário não é mais necessário como era antes', afirmou Matt Hartwig, diretor de Relações Públicas da RFA. Ao se referir ao Brasil, Hartwig indiretamente acentuou o fato de o País ter se tornado, ao longo de 2011, um importador de etanol dos EUA e de já não ameaçar, com seus embarques, a produção americana.

Como Iowa, um dos principais produtores de milho, será o palco do primeiro embate entre os pré-candidatos republicanos, em 3 de janeiro, a questão ganhou contorno eleitoral. O líder nas pesquisas de opinião, Newt Gingrich, declarou apoio ao benefícios ao etanol. Seu principal concorrente e favorito do establishment republicano, Mitt Romney, havia indicado ser inevitável o fim dos benefícios.

Fonte: Estadão

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