Fonte: Gazeta Mercantil

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 7)(Júlio Ottoboni e Reuters)

São José dos Campos (SP) e, 13 de Maio de 2008 - Apesar de ter constituído uma joint venture com a Embraer, a Embraer-Harbin, o governo da China busca alternativas para suprir seu mercado interno de aeronaves regionais sem depender das grandes companhias estrangeiras do setor. Depois de protelar o anúncio de sua nova empresa por mais de dois anos, devido ao insucessos de seu jato ARJ-21, os chineses comunicaram oficialmente a criação da Companhia de Aviões Comerciais da China no último domingo.

A empresa nasce de um consórcio que investiu US$ 2,3 bilhões ( 19 bilhões de iuans). Cerca de 30% do controle ficará com a Comissão de Supervisão e Administração de Recursos. Participam da empreitada o governo municipal de Xangai, onde o avião regional ARJ-21 está sendo desenvolvido, e duas fábricas estatais, AVIC I e AVIC II. O projeto do jato para 90 lugares tenta decolar desde 2006 e ainda não conseguiu atingir a fase de testes, programada para este ano.

Como os chineses não submetem seus aviões à homologação de órgãos aeronáuticos internacionais, o uso da família do ARJ-21 será interna. O ARJ21, que terá capacidade para entre 70 e 110 passageiros, terá motores relativamente grandes e pesados para seu tamanho para permitir que seja operado nos aeroportos de altitude elevada do oeste da China. E seus concorrentes diretos seriam os jatos 190/195 da Embraer e os da Bombardier.

No projeto chinês consta o jato ARJ-21-700 para 90 passageiros, ARJ-21-900 para 105 lugares, o avião de carga ARJ21-F Cargo e uma versão executiva , o ARJ-21B. O novo avião já recebeu encomendas de algumas empresas chinesas, entre elas a Shandong Airlines ,com 10 unidades, a Shenzhen Financial Leasing, com 20 aparelhos, e Shanghai Airlines com outros 5 aviões. Segundo o governo chinês, há um total de 181 pedidos para o ARJ21, todos de empresas chinesas.

O ARJ21-700, apesar de algumas semelhantes com o jato regional brasileiro e produzido na China, o ERJ-145, será apresentado ao mundo como sendo 100% de tecnologia local. Os planos futuros visam construir aviões de grande porte até 2020, quando entrará no segmento atualmente ocupado por aparelhos da Boeing e da Airbus - as duas gigantes do setor aeronáutico.

Os especialistas calculam que a China terá em 2015 um volume aproximado de 650 milhões de passageiros de 650 milhões e precisará de 3 mil aparelhos até 2025. Os estudos da Airbus confirmam esses números, pois a companhia européia detém 35% do mercado regional do país e suas expectativas é conseguir pelo menos 50% até 2011. Algo próximo ao que a Boeing quer ter em 2015.

Entretanto, os chineses esperam ocupar esse segmento com suas próprias aeronaves, dificultando ao máximo a entrada de aviões de médio porte da Embraer, Bombardier e os grandes produzidos pela Airbus e Boeing. Mas muitos analistas expressaram ceticismo quanto às perspectivas comerciais de um avião de grande porte desenhado e construído inteiramente na China, devido à limitada experiência do país com aeronaves.

Prova disto é a General Electric e a Parker Hannifin ainda fornecem equipamentos para o avião. O projeto não é a primeira tentativa da China de desenvolver um avião comercial de passageiros. Houve acordos com a McDonnell Douglas e a Airbus que não foram adiante. "Eles podem estabelecer uma presença nos negócios nos próximos 10 a 20 anos se financiarem o projeto com dinheiro do governo e gradualmente oferecerem fatias ao setor privado", afirmou Richard Aboulafia, analista de aviação do Teal Group.

ARJ-21 em Video: