FOLHA - SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dos momentos de maior tensão no depoimento da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ocorreu logo no início. Ela reagiu duramente à intervenção do líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), que citou uma entrevista em que a ministra admitiu ter mentido sob tortura, quando estava presa pela ditadura militar, e insinuou que ela poderia mentir novamente.

A ministra respondeu à provocação de Agripino de forma emocionada e foi aplaudida pelos senadores governistas que lotavam o plenário onde foi tomado o depoimento dela à Comissão de Infra-Estrutura.

Agripino leu trechos de uma entrevista feita em 2003 e publicada pela Folha em 2005. "A prisão é uma coisa em que a gente se encontra com os limites da gente. É isso que é muito duro. Nos depoimentos a gente mentia feito doido. Mentia muito, mas muito", disse, reproduzindo as frases de Dilma. E comentou: "Mentia para sobreviver. Era o regime de exceção, condenável por todos nós".

O líder do DEM tentou justificar que também lutou contra a ditadura, quando, no começo dos anos 80, deixou o PDS (partido ligado aos militares) para apoiar a candidatura de Tancredo Neves (PMDB) no Colégio Eleitoral, em 1985.

Agripino Maia comparou a montagem do dossiê do governo FHC ao regime ditatorial, quando o Estado utilizou seus instrumentos para perseguir adversários políticos.

"O dossiê é a volta do regime de exceção para colocar pessoas contra parede. É a República policialesca. É ela que originou o dossiê" disse.

Dilma, emocionada, foi enfática ao relembrar que foi torturada. "Eu tinha 19 anos. Eu fiquei três anos na cadeia. E eu fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para interrogador compromete a vida dos seus iguais."

Dilma disse ainda ter orgulho de ter mentido. "Eu me orgulho muito de ter mentido, senador. Porque mentir na tortura não é fácil. Na tortura, quem tem coragem e dignidade fala mentira", afirmou. "Isso faz íntegra a minha biografia que eu tenho imenso orgulho."

A ministra aproveitou para provocar o senador. "E eu acredito, senador, que nós estávamos em momentos diferentes da nossa vida em 70", disse.

Nos anos 70, Dilma pertencia à Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-P). Na mesma época, Agripino não tinha cargo público, mas sua família era ligada à Arena, partido oficial dos militares. Ele é formado em engenharia e disse que trabalhava na área. Que passou a ter ligação com política pouco antes de ser nomeado pelo governo militar para a Prefeitura de Natal em 1979.

No depoimento, parte da oposição amenizou as críticas sobre o dossiê poupando a ministra de ouvir perguntas constrangedoras. O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, por exemplo, não questionou a ministra sobre o dossiê.

A maior parte dos questionamentos, até mesmo da oposição, foi sobre obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Sobre isso, a ministra ouviu as críticas mais duras, todas rebatidas ponto a ponto.