Em cumprimento do seu programa previamente traçado para o ano de 1933 – relatou a Revista Aérea Condor, número 2, ano V, 1933 – o dirigível GRAF ZEPPELIN já realizou, pontualmente, a sua primeira viagem à América do Sul. Em 6 de maio, à noite, partiu de Friedrichshafen a grande aeronave, que chegou a Recife na tarde de terça-feira dia 9, depois de uma esplendida viagem transatlântica. Logo apos a chegada do dirigível à capital pernambucana, decolou o hidro TIETÊ do Sindicato Condor Ltda, em direção ao sul, tendo voado durante toda a noite.

Com sua chegada ao Rio de Janeiro na manhã do dia 10, quarta-feira, a correspondência vinda da Europa, ainda antes do meio dia, pode ser entregue aos seus destinatários, significando isto que o transporte da Europa Central ao Rio de Janeiro, inteiramente aéreo, via ZEPPELIN-CONDOR, não levou mais de três e meio dias!

Outro hidro da Condor, o TAQUARY, levantou vôo imediatamente após a chegada do TIETÊ, com as malas para as Repúblicas Platinas, conseguindo por uma admirável performance, entregar as malas europeas em Buenos Aires, na manhã do dia seguinte, ou seja na quinta-feira, dia 11, batendo destarte o record de transporte de malas da Europa para a Argentina, com o tempo de 4 dias e meio. No dia 10, o Graf Zeppelin, sob o comando do famoso Dr. Eckener decolou do Recife com destino ao Rio, onde por problemas de neblina no Campo dos Afonsos, resolveu fazer um cruzeiro aéreo por Santos e São Paulo, quando pela primeira vez o povo paulista entusiasticamente admirou o dirigível. Depois do desembarque de passageiros e carga no Rio, o Graf viajou de regresso ao Recife, visitando varias cidades, São Felix, na Bahia e depois as famosas cachoeiras de Paulo Afonso. No outro dia, atracado na Torre do Jiquiá, o dirigível reabasteceu-se de combustível para a nova travessia do Atlântico no dia 13 de maio de 1933, chegando em Friedrichshafen no dia 17 de maio.

Aguardo apreciação dos entusiastas da aviação. Vejam também os sites: www.aeronautas.org.br (Divulgação&Cultura), www.aviacao.brne.info (crônicas).




A chegada do futuro
Fernando Chaves Lins

Parece uma baleia se movendo no ar!
Parece um navio avoando nos ares!
Credo, isso é invenção do cão!
Ô coisa bonita danada!

Viva se Zé Pelim!
Vivaôôô.

(Ascênsio Ferreira)

Essa era a manchete do jornal Diário de Pernambuco noticiando a chegada do dirigível Graf Zeppelin ao Recife no dia 22 de maio de 1930.

foto: Revista Aérea Condor (via Fernando Chaves Lins) - Aproximação do Graf Zeppelin para atracação na Torre do Jiquiá, no Recife, em 1930.

Anoitecia quando se teve a primeira informação do avistamento do CRUZADOR DAS NÚVENS que lentamente se aproximava de Olinda.

- É ele! É ele! Parece uma estrela! Parece uma baleia se movendo no ar! Discutia calorosamente a multidão recifense.

Aos poucos aquele ponto luminoso, depois uma figura fantasmagórica na penumbra que antecedia a noite, ia se delineando principalmente quando os seus faróis de proa e popa começavam a dimensionar a grandiosidade daquela majestosa aeronave há muito esperada e assunto predileto dos pernambucanos entusiasmados pela mais moderna e luxuosa maneira de se viajar, conforme se lia nos "reclames" (publicidade da época) da Companhia Zeppelin:

- "Faça a viagem dos seus sonhos. Vinte membros da tripulação lhe oferecerão um serviço de primeira. Excelente comida, sala de leitura, salão de festas, cabinas confortáveis e espaçosas. E tem mais: você apreciará tranqüilamente as lindas paisagens da costa brasileira e da Europa".

Mudança de rumo

Poucas horas antes chegaram auspiciosa notícia do telégrafo do Campo do Jiquiá, informando que devido ventos contrários retardando a marcha do Graf Zeppelin, seu comandante Hugo Eckener, resolvera desviar o rumo da nave para a cidade do Recife e não mais seguir o destino original, o Rio de Janeiro.

O povo exultou e as autoridades começaram os preparativos oficiais de recepção aos denodados aviadores germânicos, naquele histórico dia decretado feriado municipal pelo prefeito Francisco da Costa Maia e Conselho Municipal do Recife.

Eram dezoito horas e vinte e oito minutos o momento exato do sobrevôo na catedral de Olinda à procura do Campo do Jiquiá o que fez numa grande curva do norte para oeste e daí virando lentamente contra a direção do vento numa manobra precisa para atracar no mastro do campo de dirigíveis do Jiquiá.

Imediatamente os navios aportados no Recife em conjunto passaram a acionar estridentemente suas sirenes acompanhadas pelo carrilhão do Diário de Pernambuco. Foi o sinal para a maior parte da população da capital se deslocar por todos os meios de transporte para a campina do Jiquiá. Estimou-se que 15 mil pessoas e 2 mil veículos afluíram ao campo de pouso para recepcionar os viajantes do Graf Zeppelin.

- Levei uma surra de maroins - diz Milton da Costa Pinto. Tomei o bonde em Tigipió, saltei no largo da Paz e fiz correndo o resto do percurso até o campo. Nessa corrida perdi o passe. Só entrei por que conhecia um tenente que estava com mais 250 militares do 21º Batalhão de Caçadores procedendo as operações de atracagem.

Por sua vez Samuel de Lima Domingos disse que não conseguiu tomar nenhum bonde, todos completamente lotados. "Tive que ir a pé, quase correndo. Tive sorte, pois fiquei pertinho e como todos emocionados com aquela visão impressionante".

Torre do Jiquiá

Às 19h35m o Graf Zeppeli estava atracado no seu mastro "sem o menor incidente", afirmava o jornal A Notícia.

Defronte à escadinha de desembarque, o sociólogo Gilberto Freyre - chefe de gabinete do Governador Estácio Coimbra - saudou os intrépidos aeronautas, desejando boas vindas e oferecendo os préstimos do governo e do povo pernambucanos para se concretizar de vez o Recife como o primeiro "Portão de entrada" do turismo internacional da América do Sul com a operação transatlântica regular do fabuloso dirigível alemão que naquele momento tornava realidade a antevisão do genial brasileiro Alberto Santos Dumont.

Em resposta, o comandante Hugo Eckener lamentou "incomodar a população recifense com o estrondo dos motores do Graf que também assustara os pássaros e aves nativas da bela cidade que carinhosamente os recebia com tanto entusiasmo".

Em seguida apresentou às autoridades a sua tripulação e passageiros. Eram, o seu imediato capitão Lehmann, dez pilotos e co-pilotos, 3 navegadores, 3 engenheiros, 2 mestres de marcha, 15 mecânicos, 1 rádio-telegrafista e mais 8 tripulantes (fotógrafos, maetre d hotel, cozinheiro e camareiros, totalizando 43. Entre os viajantes, 19 passageiros, destacou o Infante Alfonso de Bourbon da real família imperial espanhola e o representante do governo de Pernambuco naquela travessia pioneira - Professor catedrático da Escola Politécnica , Dr. Vicente Licínio Cardoso - que entrevistado pela imprensa declarou:

- Tem-se um bem estar tão grande que esse gênero de navegação deve ser empregado na cura da neurastenia. Goza-se a velocidade de uma centena de quilômetros sem trepidação, sem enjôo, sem tonturas. E o espetáculo é sempre inédito pelo panorama que se descortina.

Visita dos convidados

No dia seguinte o comandante proporcionou aos seus convidados uma visita ao enorme dirigível que resplandecia aos raios solares como se fosse um charuto de alumínio.

- Trata-se de uma tinta aluminizada sobre tecido de algodão que recobre por completo a estrutura metálica interna do dirigível - esclareceu o comandante respondendo a primeira e geral pergunta dos visitantes.

O comandante utilizava na tradução da sua língua os préstimos de Sofia Trummer De Carli, recepcionista da companhia Zeppelin do Recife, filha do administrador do Campo, Sr. Georg. Junto com os visitantes, a menina Lourdes Godoy - filha do inspetor da Alfândega - foi regiamente presenteada com bombons e chocolate. "Foi a única lembrança que guardei daquele dia histórico!".

Ao embarcar em grupos, a visita se iniciava pela ponte de comando na frente da gôndola, onde existia a sala de comando, dependências para rádio-telegrafia e navegação e cozinha. Na parte intermediaria, um grande salão que servia de sala de visitas ou de jantar, se comunicada com um corredor central ladeado por cinco cabinas de cada lado para dois passageiros cada, totalizando vinte viajantes.

Em cada cabide existia um pequeno lavabo, janela panorâmica, guarda roupa, mezinha e um sofá que à noite se transformava num beliche para os dois passageiros. No final do corredor existiam duas toaletes, uma de cada lado e uma escada central para acesso ao interior da aeronave.

Por medida de segurança não foi permitido à entrada dos visitantes no bojo do Zeppelin que, segundo o comandante, constava de dezesseis células de gás presas na estrutura de duralumínio com capacidade de acumular 94 mil metros cúbicos de gás hidrogênio para sustentação de uma carga útil de 30 toneladas do dirigível. A estrutura era constituída de vinte e seis anéis interligados para dar a forma de um fuso arredondado na frente medindo 236 metros de comprimento e 30 de diâmetro no anel maior.

Nos lados dessa estrutura estavam fixados quatro motores de 550 cavalos cada um, sendo dois de cada lado e o quinto no lado de baixo e atrás da gôndola e próximo da cauda onde se localizavam os lemes de direção da aeronave que proporcionavam ao Graf uma velocidade média de 110 Km/h. para uma autonomia de 10 mil quilômetros. Durante sua vida útil o Graf percorreu um milhão e setecentos mil quilômetros em 18 mil horas de vôo em 650 ascensões e 146 travessias oceânicas, sendo 65 redondas para o Jiquiá, no Recife.

Campo de dirigíveis

Os visitantes também conheceram as instalações do Campo de Dirigíveis do Jiquiá administrado pela empresa Herm Soltz e Cia que, além da torre metálica de 16 metros fortemente estaiada por cabos de aço ao piso circular de cimento com dispositivos no topo para fixação do cone do nariz do Zeppelin e plataforma para as operações de atracação e abastecimento de gás, eletricidade e água, contava com uma moderna infra-estrutura para administração e manutenção dos dirigíveis: sala de embarque e despacho de carga e correspondência, dormitório, cantina, posto de assistência médica, loja de venda de selos e charutos ,estação de rádio-telegrafia, fábrica de gás hidrogênio e gasômetro. Em frente ao prédio central tremulavam as bandeiras do Brasil, Alemanha, Pernambuco e do Sindicato Condor Ltda.

No dia 30 de março de 1930 - noticiava o jornal O Globo - embarca para o Brasil o engenheiro Ernest Besch da Companhia Zeppelin que vem tratar da construção de um mastro de aterrissagem, próximo a capital de Pernambuco. Com o apoio do Estado que ofereceu o local, água, luz elétrica e uma equipagem de 200 soldados para a operação de pouso e decolagem e a coordenação do engenheiro Dr. Manoel Marques foi construída a infraestrutura com a torre de atracação na localidade denominada Jiquiá, ao sul da cidade do Recife ao lado oeste da estrada de ferro que liga a capital com o Município de Jaboatão.

O empreiteiro da obra, Carlos de Barros Borba, de tanto se expor no lamaçal da área de construção adoeceu seriamente, com febre alta, provavelmente malária e, durante muito tempo delirava repetindo com freqüência para a família apreensiva:

- Lá vem ele, o Zeppelin!.

Sua filha, Maria José Marques, a quem Carlos prometera uma visita ao Zeppelin, por causa da doença do pai teve que se contentar em assistir de sua casa em Tijipió a passagem do Graf para o pouso. Tão grande e voando baixo a fez correr com mais medo do que alegria e admiração pela nave desconhecida. Ao lado da torre metálica de 16,5 metros e 3,5 toneladas de peso, aproximadamente à 155 metros circulava um trilho para apoio num trole da cauda do dirigível que, assim com o nariz preso no alto da torre se assemelhava a uma biruta comandada pelo vento.

Durante todo o dia 23 de maio o Zeppelin passou por uma completa inspeção e manutenção sendo reabastecido de combustível e gás de sustentação (hidrogênio), víveres e mantimentos para completar o restante da viagem até o Rio de Janeiro.

Rumo ao Rio

Ovacionado pelos presentes, nos primeiros minutos do dia seguinte desligou-se da torre e lentamente dos braços dos soldados ascendendo silenciosamente do Jiquiá com seus motores desligados que somente foram acionados quando o dirigível alcançou alguns metros de altura. De imediato tomou a direção sul em busca da cidade do Rio de Janeiro.

Embarcaram no Recife o comandante Fritz Hammer e o empresário pernambucano Conde Pereira Carneiro, o primeiro diretor da Condor e o outro sócio brasileiro do Sindicato Condor Ltda. - primeira empresa da aviação comercial brasileira - e que juntamente com a Lufthansa e a Delag promoviam esta pioneira viagem transatlântica do Graf Zeppelin, unindo a Europa com a América do Sul.

De regresso do sul novamente o Graf Zeppelin atracou no Jiquiá na tarde do dia 26 de maio, permanecendo no Recife por dois dias quando se abasteceu de combustível e de gêneros de primeira necessidade (galinhas, ovos, biscoito, água mineral, conservas e mil quilos de gelo da Fábrica Fratelli Vita, do Recife), embarcando ainda 16 sacos de correspondência para Nova York e Europa.

Regresso

Às 11h30m do dia 28 desligou-se de sua torre e ascendeu vagarosamente com destino aos Estados Unidos da América do Norte. Ao sobrevoar a cidade foi profusamente saudado e fotografado, inclusive sobre a torre do Diário de Pernambuco.

Poucas horas depois, mensagem telegráfica das instalações da Condor, em Natal, informava que o comandante Hugo Eckener havia lançado um ramalhete de flores sobre a estátua do inventor brasileiro Augusto Severo com a seguinte inscrição: "Homenagem da Alemanha ao Brasil, na pessoa do seu filho Augusto Severo", que ao lado do Conde Graf Zeppelin e Santos Dumont contribuíram para tornar realidade o vôo dirigido do "mais-leve-que-o-ar".

Datada de 4 de junho e procedente de Lisboa foi entregue ao governo mensagem telegráfica do comandante Hugo Eckener enfatizando "a mais fidalga acolhida por parte da população e maior apoio a minha empresa por parte das autoridades pernambucanas. Vou sugeri que um futuro Zeppelin passe a se chamar Pernambuco".

Homenagem aos tripulantes

Cinqüenta e um anos depois, patrocinados pelo Aeroporto de Frankfurt, Varig e Governo de Pernambuco - Governador Marco Maciel - desembarcaram no dia 14 de setembro de 1981, no Aeroporto Internacional dos Guararapes sete sobreviventes dos 46 tripulantes do Graf Zeppelin para uma visita sentimental à única TORRE DE ATRACAÇÃO DE DIRIGÍVEIS do mundo, edificada em 1934, em substituição da original, menor, construída pelo governo de Estácio Coimbra em 1930 para atracação do LZ 127 Graf Zeppelin por ocasião da sua primeira visita à América do Sul.

Em emocionada solenidade junto à torre do Jiquiá foi descerrada uma placa comemorativa - por sinal atualmente desaparecida - da visita dos intrépidos pioneiros da primeira travessia do Atlântico Sul, com os seguintes texto:

O GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO AOS 51 ANOS DO PRIMEIRO VÔO DO GRAF ZEPPELIN AO RECIFE, OS TRIPULANTES OSKAR FINK, ERNST FISCHBACH, EUGEN GROEBER, FRITZ GROENTZINGER, RICHARD KOLLMER, MAIER XAVER E OSKAR ROESCH, VOLTAM NUMA VIAGEM SENTIMENTAL E HISTÓRICA AO LOCAL DE POUSO DO DIRIGÍVEL ALEMÃO PROMOVIDA PELO AEROPORTO DE FRANKFURT, VARIG, EMBRATUR E APOIO DO GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO:

APONTOU!
Parece uma baleia se movendo no ar!
Parece um navio avoando nos ares!
Credo, isso é invenção do cão!
Ô coisa bonita danada!
Viva se Zé Pelim!
Vivaôôô.

(parte da poesia de Ascênsio Ferreira)

Dirigíveis em Recife
Zeppelin e Hindenburg
Fonte: Memorial pernambuco
O Zeppelin realizou 63 viagens ao Recife de 1930 a 1936, no século passado. Partia de Friedrischafen, na Alemanha, para o Rio de Janeiro, com escala na capital pernambucana.

Foi substituído pelo Hindenburg, que se incendiou no ano de 1937, em Nova Jérsei (EUA), encerrando a era dos dirigíveis. O Hindenburg atracou duas vezes no Jiquiá.


Foto do Hindenburg, o LZ 129, em seu hangar na Alemanha

O Conde Zeppelin inventou os dirigíveis e conseguira construí-los malgrado a oposição de certos cientistas e técnicos.

O L.Z. 127 era o primeiro balão dirigível a riscar os céus do Brasil, sob o comando do engenheiro Dr. Hugo Eckener.

Era o 117º dirigível construído desde 1900. E suas características eram respeitáveis: 105 metros cúbicos, 230 metros de comprimento, diâmetro 30,50 metros, altura 33,50 metros. Um navio do ar.

O seu volume de gaz daria para iluminar um combustor durante 235 anos. Movido por cinco motores de 265 cavalos, podia desenvolver uma velocidade de 128 quilômetros por hora, sendo a sua velocidade de cruzeiro 117 quilômetros por hora. Tinha força ascensional de 30.000 quilos. Se lotado com 20 passageiros, e bagagem, poderia navegar 10.000 quilômetros sem aterrissar. Sem carga poderia navegar 14.000 quilômetros. Pesava 55 mil quilos. Sua tripulação era de 26 homens. Por ser de duralumínio, e não de madeira, superava, em qualidade, os seus congêneres A cor clara realçava sua majestosa silhueta: com essa cor os raios de sol, refletindo melhor, não aqueciam a câmara de gaz.

Para a viagem ao Brasil o Graf Zeppelin fora dotado de novas hélices que permitiam um aumento de velocidade. De 68 subia para 85 milhas. Cruzaria os ares da península Ibérica e do Atlântico, navegando de Sevilha ao Rio, em 3 ou 4 dias.

O Graf Zeppelin era, mais ou menos, das mesmas dimensões do Akron, o maior dirigível da Marinha Americana. Suas dimensões só iriam ser superadas pelo Hiddenburg, também um dirigível comercial alemão que, tragicamente, explodiu em Nova York, quando fazia a manobra para ser amarrado à torre. O Hiddenburg fez, também, várias viagens ao Rio.

Esse foi o grande navio aéreo, magnífico produto da tecnologia alemã, que veio visitar o Recife a partir de 1930, antes de ser estabelecida a linha regular, por dirigível, que ligava a capital do Brasil a Friedrichafen, Alemanha, duas ou três vezes por mês, trazendo passageiros, a mala postal, carga, inclusive os rolos de filmes dos jornais cinematográficos americanos.

Era preciso ver o Graf Zeppelin navegando sobre a cidade e sobre a Guanabara, como o sol rebrilhando em sua estrutura. Parecia homenagear a maravilhosa beleza paisagística do Rio.

Adaptado da fonte: www.estacio.br



História

Os dirigíveis em Recife
Fonte: Memorial Pernambuco
Anoitecia quando se teve a primeira informação do avistamento do CRUZADOR DAS NUVENS que lentamente se aproximava de Olinda.

- É ele! É ele! Parece uma estrela! Parece uma baleia se movendo no ar! Discutia calorosamente a multidão recifense.

Aos poucos aquele ponto luminoso, depois uma figura fantasmagórica na penumbra que antecedia a noite, ia se delineando principalmente quando os seus faróis de proa e popa começavam a dimensionar a grandiosidade daquela majestosa aeronave há muito esperada e assunto predileto dos pernambucanos entusiasmados pela mais moderna e luxuosa maneira de se viajar, conforme se lia nos "reclames" (publicidade da época) da Companhia Zeppelin:

- "Faça a viagem dos seus sonhos. Vinte membros da tripulação lhe oferecerão um serviço de primeira. Excelente comida, sala de leitura, salão de festas, cabinas confortáveis e espaçosas. E tem mais: você apreciará tranqüilamente as lindas paisagens da costa brasileira e da Europa".

Mudança de rumo

Poucas horas antes chegaram auspiciosa notícia do telégrafo do Campo do Jiquiá, informando que devido ventos contrários retardando a marcha do Graf Zeppelin, seu comandante Hugo Eckener, resolvera desviar o rumo da nave para a cidade do Recife e não mais seguir o destino original, o Rio de Janeiro.

O povo exultou e as autoridades começaram os preparativos oficiais de recepção aos denodados aviadores germânicos, naquele histórico dia decretado feriado municipal pelo prefeito Francisco da Costa Maia e Conselho Municipal do Recife.

Eram dezoito horas e vinte e oito minutos o momento exato do sobrevôo na catedral de Olinda à procura do Campo do Jiquiá o que fez numa grande curva do norte para oeste e daí virando lentamente contra a direção do vento numa manobra precisa para atracar no mastro do campo de dirigíveis do Jiquiá.

Imediatamente os navios aportados no Recife em conjunto passaram a acionar estridentemente suas sirenes acompanhadas pelo carrilhão do Diário de Pernambuco. Foi o sinal para a maior parte da população da capital se deslocar por todos os meios de transporte para a campina do Jiquiá. Estimou-se que 15 mil pessoas e 2 mil veículos afluíram ao campo de pouso para recepcionar os viajantes do Graf Zeppelin.

- Levei uma surra de maruins - diz Milton da Costa Pinto. Tomei o bonde em Tejipió, saltei no largo da Paz e fiz correndo o resto do percurso até o campo. Nessa corrida perdi o passe. Só entrei por que conhecia um tenente que estava com mais 250 militares do 21º Batalhão de Caçadores procedendo as operações de atracagem.

Por sua vez Samuel de Lima Domingos disse que não conseguiu tomar nenhum bonde, todos completamente lotados. "Tive que ir a pé, quase correndo. Tive sorte, pois fiquei pertinho e como todos emocionados com aquela visão impressionante".

Torre do Jiquiá

Às 19h35m o Graf Zeppeli estava atracado no seu mastro "sem o menor incidente", afirmava o jornal A Notícia.

Defronte à escadinha de desembarque, o sociólogo Gilberto Freyre - chefe de gabinete do Governador Estácio Coimbra - saudou os intrépidos aeronautas, desejando boas vindas e oferecendo os préstimos do governo e do povo pernambucanos para se concretizar de vez o Recife como o primeiro "Portão de entrada" do turismo internacional da América do Sul com a operação transatlântica regular do fabuloso dirigível alemão que naquele momento tornava realidade a antevisão do genial brasileiro Alberto Santos Dumont.

Em resposta, o comandante Hugo Eckener lamentou "incomodar a população recifense com o estrondo dos motores do Graf que também assustara os pássaros e aves nativas da bela cidade que carinhosamente os recebia com tanto entusiasmo".

Em seguida apresentou às autoridades a sua tripulação e passageiros. Eram, o seu imediato capitão Lehmann, dez pilotos e co-pilotos, 3 navegadores, 3 engenheiros, 2 mestres de marcha, 15 mecânicos, 1 rádio-telegrafista e mais 8 tripulantes (fotógrafos, maetre d hotel, cozinheiro e camareiros, totalizando 43. Entre os viajantes, 19 passageiros, destacou o Infante Alfonso de Bourbon da real família imperial espanhola e o representante do governo de Pernambuco naquela travessia pioneira - Professor catedrático da Escola Politécnica , Dr. Vicente Licínio Cardoso - que entrevistado pela imprensa declarou:

- Tem-se um bem estar tão grande que esse gênero de navegação deve ser empregado na cura da neurastenia. Goza-se a velocidade de uma centena de quilômetros sem trepidação, sem enjôo, sem tonturas. E o espetáculo é sempre inédito pelo panorama que se descortina.

Visita dos convidados

No dia seguinte o comandante proporcionou aos seus convidados uma visita ao enorme dirigível que resplandecia aos raios solares como se fosse um charuto de alumínio.

- Trata-se de uma tinta aluminizada sobre tecido de algodão que recobre por completo a estrutura metálica interna do dirigível - esclareceu o comandante respondendo a primeira e geral pergunta dos visitantes.

O comandante utilizava na tradução da sua língua os préstimos de Sofia Trummer De Carli, recepcionista da companhia Zeppelin do Recife, filha do administrador do Campo, Sr. Georg. Junto com os visitantes, a menina Lourdes Godoy - filha do inspetor da Alfândega - foi regiamente presenteada com bombons e chocolate. "Foi a única lembrança que guardei daquele dia histórico!".

Ao embarcar em grupos, a visita se iniciava pela ponte de comando na frente da gôndola, onde existia a sala de comando, dependências para rádio-telegrafia e navegação e cozinha. Na parte intermediaria, um grande salão que servia de sala de visitas ou de jantar, se comunicada com um corredor central ladeado por cinco cabinas de cada lado para dois passageiros cada, totalizando vinte viajantes.

Em cada cabine existia um pequeno lavabo, janela panorâmica, guarda roupa, mezinha e um sofá que à noite se transformava num beliche para os dois passageiros. No final do corredor existiam duas toaletes, uma de cada lado e uma escada central para acesso ao interior da aeronave.

Por medida de segurança não foi permitido à entrada dos visitantes no bojo do Zeppelin que, segundo o comandante, constava de dezesseis células de gás presas na estrutura de duralumínio com capacidade de acumular 94 mil metros cúbicos de gás hidrogênio para sustentação de uma carga útil de 30 toneladas do dirigível. A estrutura era constituída de vinte e seis anéis interligados para dar a forma de um fuso arredondado na frente medindo 236 metros de comprimento e 30 de diâmetro no anel maior.

Nos lados dessa estrutura estavam fixados quatro motores de 550 cavalos cada um, sendo dois de cada lado e o quinto no lado de baixo e atrás da gôndola e próximo da cauda onde se localizavam os lemes de direção da aeronave que proporcionavam ao Graf uma velocidade média de 110 Km/h. para uma autonomia de 10 mil quilômetros. Durante sua vida útil o Graf percorreu um milhão e setecentos mil quilômetros em 18 mil horas de vôo em 650 ascensões e 146 travessias oceânicas, sendo 65 redondas para o Jiquiá, no Recife.

Campo de dirigíveis

Os visitantes também conheceram as instalações do Campo de Dirigíveis do Jiquiá administrado pela empresa Herm Soltz e Cia que, além da torre metálica de 16 metros fortemente estaiada por cabos de aço ao piso circular de cimento com dispositivos no topo para fixação do cone do nariz do Zeppelin e plataforma para as operações de atracação e abastecimento de gás, eletricidade e água, contava com uma moderna infra-estrutura para administração e manutenção dos dirigíveis: sala de embarque e despacho de carga e correspondência, dormitório, cantina, posto de assistência médica, loja de venda de selos e charutos ,estação de rádio-telegrafia, fábrica de gás hidrogênio e gasômetro. Em frente ao prédio central tremulavam as bandeiras do Brasil, Alemanha, Pernambuco e do Sindicato Condor Ltda.

No dia 30 de março de 1930 - noticiava o jornal O Globo - embarca para o Brasil o engenheiro Ernest Besch da Companhia Zeppelin que vem tratar da construção de um mastro de aterrissagem, próximo a capital de Pernambuco. Com o apoio do Estado que ofereceu o local, água, luz elétrica e uma equipagem de 200 soldados para a operação de pouso e decolagem e a coordenação do engenheiro Dr. Manoel Marques foi construída a infraestrutura com a torre de atracação na localidade denominada Jiquiá, ao sul da cidade do Recife ao lado oeste da estrada de ferro que liga a capital com o Município de Jaboatão.

O empreiteiro da obra, Carlos de Barros Borba, de tanto se expor no lamaçal da área de construção adoeceu seriamente, com febre alta, provavelmente malária e, durante muito tempo delirava repetindo com freqüência para a família apreensiva:

- Lá vem ele, o Zeppelin!.

Sua filha, Maria José Marques, a quem Carlos prometera uma visita ao Zeppelin, por causa da doença do pai teve que se contentar em assistir de sua casa em Tijipió a passagem do Graf para o pouso. Tão grande e voando baixo a fez correr com mais medo do que alegria e admiração pela nave desconhecida. Ao lado da torre metálica de 16,5 metros e 3,5 toneladas de peso, aproximadamente à 155 metros circulava um trilho para apoio num trole da cauda do dirigível que, assim com o nariz preso no alto da torre se assemelhava a uma biruta comandada pelo vento.

Durante todo o dia 23 de maio o Zeppelin passou por uma completa inspeção e manutenção sendo reabastecido de combustível e gás de sustentação (hidrogênio), víveres e mantimentos para completar o restante da viagem até o Rio de Janeiro.

Rumo ao Rio

Ovacionado pelos presentes, nos primeiros minutos do dia seguinte desligou-se da torre e lentamente dos braços dos soldados ascendendo silenciosamente do Jiquiá com seus motores desligados que somente foram acionados quando o dirigível alcançou alguns metros de altura. De imediato tomou a direção sul em busca da cidade do Rio de Janeiro.

Embarcaram no Recife o comandante Fritz Hammer e o empresário pernambucano Conde Pereira Carneiro, o primeiro diretor da Condor e o outro sócio brasileiro do Sindicato Condor Ltda. - primeira empresa da aviação comercial brasileira - e que juntamente com a Lufthansa e a Delag promoviam esta pioneira viagem transatlântica do Graf Zeppelin, unindo a Europa com a América do Sul.

De regresso do sul novamente o Graf Zeppelin atracou no Jiquiá na tarde do dia 26 de maio, permanecendo no Recife por dois dias quando se abasteceu de combustível e de gêneros de primeira necessidade (galinhas, ovos, biscoito, água mineral, conservas e mil quilos de gelo da Fábrica Fratelli Vita, do Recife), embarcando ainda 16 sacos de correspondência para Nova York e Europa.

Regresso

Às 11h30m do dia 28 desligou-se de sua torre e ascendeu vagarosamente com destino aos Estados Unidos da América do Norte. Ao sobrevoar a cidade foi profusamente saudado e fotografado, inclusive sobre a torre do Diário de Pernambuco.

Poucas horas depois, mensagem telegráfica das instalações da Condor, em Natal, informava que o comandante Hugo Eckener havia lançado um ramalhete de flores sobre a estátua do inventor brasileiro Augusto Severo com a seguinte inscrição: "Homenagem da Alemanha ao Brasil, na pessoa do seu filho Augusto Severo", que ao lado do Conde Graf Zeppelin e Santos Dumont contribuíram para tornar realidade o vôo dirigido do "mais-leve-que-o-ar".

Datada de 4 de junho e procedente de Lisboa foi entregue ao governo mensagem telegráfica do comandante Hugo Eckener enfatizando "a mais fidalga acolhida por parte da população e maior apoio a minha empresa por parte das autoridades pernambucanas. Vou sugeri que um futuro Zeppelin passe a se chamar Pernambuco".




O ZEPPELIN EM RECIFE.


Fonte: DO PERNAMBUCO DE A/Z --ALGO DE SAUDADES---


-O dirigível alemão, que media 235 metros de comprimento, chegou a uma velocidade espantosa para uma aeronave do seu porte: 110 quilômetros por hora. Sua missão era estabelecer o tempo que os dirigíveis levariam para se deslocar da Europa Central até o Brasil, a fim de determinar sua viabilidade econômica como transporte de cargas.

-E, quando o "Graf Zeppelin" atracou no Recife, o sucesso foi comemorado: a travessia do Atlântico foi feita em tempo recorde (três dias) e a cidade, local do primeiro pouso, parou diante do espetáculo.
-Tudo aconteceu numa quinta-feira, 22 de maio de 1930, ao mesmo tempo em que no Rio de Janeiro o Congresso Nacional proclamava eleito o presidente da República, Júlio Prestes. Mas os jornais de Pernambuco só estamparam em suas primeiras páginas um único assunto: a chegada do dirigível, ocorrida exatamente às 18h35m.

-A recepção ao Zeppelin, que havia deixado a base de Friedrichshaven, na Alemanha, às 17h do dia 18 de maio, foi minunciosamente preparada pelas autoridades governamentais.

--O prefeito do Recife decretou feriado municipal. O governador de Pernambuco, Estácio Coimbra, sancionou um extenso decreto estabelecendo como os recifenses deveriam se comportar no dia da chegada do "grande navio aéreo", decreto este que regulamentava até mesmo "o tráfego de veículos e pedestres na cidade".

- Para atender a multidão que pagou três mil contos de réis pelo acesso ao Campo do Jiquiá, construído especialmente para o pouso, a Great Western colocou vários trens extras, e 1.010 policiais trabalharam no local.

-O grande interesse pela chegada do "Graf Zeppelin" ao Recife tinha uma justificativa: aquela era a primeira vez que o dirigível atracava não só no Brasil, como também na América do Sul.

-Além disso, o dirigível, criado no final do século anterior pelo engenheiro alemão Ferdinand von Zeppelin, era o que havia de mais avançado em tecnologia de grandes aeronaves mais leves do que o ar. Equipado com cinco motores Maybach de 530 HP cada, tinha capacidade para transportar nove toneladas de carga, 20 passageiros e 26 tripulantes.

-Os Zeppelins eram aeróstatas dirigíveis, de tipo rígido, e, entre 1904 e 1914, foram construídos na Alemanha 25 aparelhos de grande porte, o que deu àquele país a liderança mundial na tecnologia de aeronaves mais leves do que o ar.

-O exército e a marinha alemães compraram alguns desses dirigíveis e os outros foram usados por empresas aéreas para transporte a longas distâncias. Dois ficaram mundialmente famosos: o "Hindenburg", concluído em 1936, e o "Graf Zeppelin", que fez a primeira viagem ao Brasil.

-Os dirigíveis alemães eram considerados tão confortáveis quanto um transatlântico. Sua carcaça era de alumínio, em forma de cilindro, revestida interiormente de um tecido de seda envernizada, onde ficavam os camarotes da tripulação e as instalações para passageiros e cargas.

-Suas dimensões variavam de acordo com a capacidade de transporte do aparelho que era cheio de bolsões de hidrogênio, altamente inflamável. O gás, menos denso que a atmosfera, permitia ao dirigível se deslocar sem consumir combustível.

-O dirigível que veio ao Recife tinha 235 metros de comprimento, 33,5 metros de altura e 30,5 metros de diâmetro. Sua força de elevação era de 129 toneladas e as instalações para passageiros eram compostas de dez camarotes com duas camas cada, sala de jantar e de recreio e banheiros.

-Voava a uma altura de 150 a 200 metros, com velocidade máxima de 130 km/hora. Depois do primeiro pouso, o "Graf Zeppelin" fez várias viagens ligando o Brasil à Europa, passando quinzenalmente pelo Recife.

-Como as mais de cem aeronaves do seu tipo que na década de 1930 circulavam por várias partes do mundo, o "Graf Zeppelin" foi retirado de uso depois que o "Hindenbrg", atingido por um raio, explodiu no ar, em maio de 1937, nos Estados Unidos, matando 37 pessoas.

-Estava encerrada a carreira do grande dirigível que, ao pousar no Recife, foi assim aclamado pelo Jornal Pequeno: "Ninguém mais tem dúvida de que ele será, no futuro, o meio preferido, principalmente pela segurança, para o comércio entre os povos dos continentes".