Americanos, ultrapassados pelos russos no golfo
Fonte: Area Militar
A possibilidade de venda de armas por parte da Rússia à Arábia Saudita, embora comentada desde há bastante tempo, sempre foi considerada como pouco provável.
Entre as principais razões apontadas para tornar pouco provável a possibilidade do estabelecimento de relacionamentos militares entre os dois países estavam o extremo conservadorismo do regime saudita e as relações especiais que aquele país tem estabelecido com os Estados Unidos desde o fim da II guerra mundial.
No entanto, algo mudou no reino semi-secreto da família Saud. As relações especiais com os Estados Unidos parecem não ser o que eram e a família real saudita prepara-se para assinar com a Rússia um acordo de cooperação militar cujo valor se eleva a 4.000 milhões de dólares (EUR 2.600 milhões, R$ 6.6 bilhões).
A Arábia Saudita, vai comprar à Rússia armamentos de vários tipos, de entre os quais os mais importantes serão uma centena de helicópteros de transporte do tipo Mi-17 e helicópteros de ataque do tipo Mi-35.
Mais curiosa ainda é a provável venda por parte da Arábia Saudita à Rússia de 150 tanques T-90S (a versão mais recente) que deverão servir para substituir parte dos M60 que a Arábia Saudita ainda tem em serviço e se forem de facto incorporados vão operas conjuntamente com os M1-A1 Abrams, parte dos quais estão na situação de reserva operacional.
Além destes helicópteros e tanques, os sauditas também deverão adquirir vários sistemas de defesa anti-aérea do tipo BUK-M1/M2 e algumas centenas de veículos de combate de infantaria do tipo BMP-3.
A cada vez maior probabilidade de a Arábia Saudita vir a adquirir equipamentos russos tem várias interpretações que mudam conforma a origem dos analistas.
Os russos preferem afirmar que a aquisição se trata de um reconhecimento da qualidade dos equipamentos russos. A Arábia Saudita afinal, pode dar-se ao luxo de adquirir os mais caros e sofisticados equipamentos que existirem no mercado.
Já a ocidente as coisas não são vistas da mesma maneira. Nos Estados Unidos, as pressões por parte de Israel sempre que se trata de vender materiais e equipamentos sensíveis à Arábia Saudita, é sempre um lobby a vencer e um lobby extremamente poderoso, muitas vezes intransponível.
Esta dificuldade, juntamente com o enorme peso e influência que a Arábia Saudita ganha com o aumento do preço do petróleo podem influenciar a decisão.
Mas há outras possibilidades muito menos claras e que mergulham no mundo secreto e complexo do mercado internacional de armas.
Recentemente na Grã-bretanha, a venda à Arábia Saudita de aeronaves Typhoon-II, que serão fabricadas na Grã Bretanha, foi alvo de uma inspeção por parte das autoridades britânicas aos responsáveis sauditas teve que ser cancelada por ordem do então primeiro-ministro Blair.
Mais recentemente os tribunais britânicos voltaram à carga e o negócio de venda de caças voltou a ser posto em causa.
A Arábia Saudita, ao voltar-se para a Rússia, também mostra aos países europeus, que se insistirem em investigar as alegações de corrupção por parte de membros proeminentes da família real saudita, podem enfrentar uma mudança de fornecedor.
Na Arábia Saudita, como no resto do mundo, sabe-se que não existe na Rússia um sistema judicial capaz de investigar qualquer caso de corrupção e que na Rússia, o segredo continua a ser a alma do negócio. O secretismo dos russos encaixa perfeitamente nas exigências sauditas.
A aquisição por parte da Arábia Saudita de equipamentos russos não é uma novidade no golfo. Países como o Irão e o Iraque já eram clientes da antiga União Soviética. O Koweit, também adquiriu veículos blindados soviéticos. Os Emirados Árabes adquiriram uma grande quantidade de veículos BMP-3.
Com a adição da monarquia saudita a lista de clientes russos, os norte-americanos são claramente ultrapassados no mercado de armas dos países do golfo, onde apenas mantêm alguma importância no que respeita à venda de aeronaves de asa fixa, mas mesmo aí foram ultrapassados pelos fabricantes europeus.
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