Segundo estudiosos entrevistados pelo G1, não há risco de guerra na região.Laudo da Interpol mostrou que computadores da guerrilha não foram alterados. Giovana Sanchez Do G1, em São Paulo.

A Venezuela pode sofrer sanções internacionais e perder apoio dos vizinhos latinos caso fique comprovado o elo do presidente Hugo Chávez com a guerrilha colombiana. No entanto, não há perigo iminente de uma guerra na região.

A opinião é do cientista político e professor da FGV (SP) e da PUC-SP Luiz Fernando Abrúcio. Em entrevista ao G1, por telefone, ele disse que ainda não é possível incriminar nenhum país, já que o laudo da Interpol (organização policial internacional), divulgado nesta quinta-feira (15), apenas comprovou que os computadores não haviam sido alterados.

Alguns jornais divulgaram, no entanto, trechos de arquivos que mostravam a relação dos presidentes venezuelano e equatoriano com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).


Leia mais: Interpol diz que não houve manipulação em computadores das Farc


Segundo Abrúcio, o episódio, se confirmado, servirá para os EUA culparem o governo Chávez e continuarem as ações para enfraquecer e desmoralizar o presidente venezuelano.

O especialista explicou ao G1 o papel de cada país no conflito: para ele, a Colômbia tem um problema de soberania, pois parte de seu território é controlado por um grupo guerrilheiro. “O governo e, segundo pesquisas recentes a própria população do país, tem interesse em recuperar esse pedaço da nação controlado pela guerrilha.”

Os Estados Unidos têm uma política voltada para a América Latina centrada essencialmente nas drogas, na imigração e no terrorismo. Diante disso, o governo colombiano é parceiro dos norte-americanos no combate ao narcotráfico. Outro interesse, mas indireto, dos EUA na região seria a desmoralização do presidente Hugo Chávez. O embate entre os dois governos, segundo Abrúcio, se dá principalmente pela questão do petróleo, já que os norte-americanos dependem do produto venezuelano e precisam, para isso, de um oferta segura nos próximos anos.

Vítima

Já o Equador ainda é visto como a grande vítima de todo processo, já que teve o território invadido pela Colômbia durante a incursão de março deste ano, quando os computadores foram encontrados no acampamento guerrilheiro. “O que está se tentando fazer é mostrar que o Equador favorece a ação das Farc em seu território. Mas é uma situação mais difícil de definir”, afirmou Abrúcio.

Entenda o conflito diplomático ocorrido na América Latina


A Venezuela está sendo acusada, pela Colômbia, de ligação direta com a guerrilha. “Se isso for comprovado, acho que a situação ficará muito complicada do ponto de vista do direito internacional. A Venezuela será um governo que financia um movimento que está atacando a soberania de um país vizinho, e isso é indesculpável”, explicou o Abrúcio. Segundo ele, poderia existir a possibilidade de sanções contra o país, “apesar de ser muito cedo afirmar isso”.

Investigação

Logo após divulgar o relatório, a Interpol afirmou que apenas confirmou a integridade dos arquivos, não o conteúdo deles. Para o professor Abrúcio, a investigação deve ser feita de maneira cautelosa e séria, pois só desta maneira poderá ser comprovada alguma denúncia com a gravidade feita pelos governos colombiano e norte-americano. “Os dados têm que se tornarem públicos. Caso contrário, a situação beneficiará o governo de Chávez, que se colocará como vítima de uma chantagem.”

‘Interpol funciona para os Estados Unidos’

Outra visão para o conflito diplomático é apresentada pelo especialista em América Latina e professor de economia da Universidade Federal de Santa Catarina Nildo Ouriques. Ele acredita que essa informação - da ligação dos governos venezuelano e equatoriano com as Farc - não tem credibilidade, pois a Interpol é controlada pelos EUA.

“A divulgação do relatório não foi uma surpresa. Surpresa foi o fato de os computadores terem sobrevivido a um bombardeio que dizimou tudo e ficarem intactos, com os arquivos perfeitos, para a investigação.”

Segundo Ouriques, o episódio fará os países atinos questionarem a credibilidade da Interpol, que trabalha para os Estados Unidos. Ele disse que o objetivo maior norte-americano é impedir um acordo de paz na Colômbia, e por isso não há o reconhecendo das Farc como força legítima beligerante. “Caso houvesse paz na Colômbia, os EUA perderiam o grande aliado na região, pois Uribe está muito ligado com todo o narcotráfico.”

Brasil

De acordo com o especialista Fernando Abrúcio, o Brasil deve esperar para que exista uma confirmação das hipóteses para depois agir. “Acredito que se ficar mesmo comprovado o envolvimento venezuelano com as Farc o Brasil deve condenar a ação.”

Nesta sexta-feira (16), o principal assessor internacional da presidência brasileira, Marco Aurélio Garcia, disse que a Cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que será realizada na próxima semana em Brasília, pode ser uma oportunidade de aproximação entre Colômbia, Equador e Venezuela


Presidente do Equador diz que renuncia se tiver relação com Farc

Declaração vem no mesmo dia em que Caracas reclama de incursão militar colombiana.

Estadão

Enviada especial da BBC Brasil a Lima - O presidente do Equador, Rafael Correa, disse neste sábado que renunciará à Presidência do seu país se for comprovado que seu governo mantêm relações com as Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia (FARC).

A crise na região andina, que envolve os governos da Colômbia, Equador e Venezuela, recobrou forças nesta quinta-feira quando a Interpol emitiu um informe certificando que a polícia colombiana não teria alterado os documentos que, de acordo com o governo da Colômbia, vinculam Correa e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, à guerrilha.

"Se eu tenho a menor relação com as Farc como candidato ou como presidente, coloco à disposição do povo equatoriano e de toda América Latina meu cargo como presidente", afirmou Correa em seu programa semanal de rádio, transmitido a partir de Lima, onde ele participou da 5ª Cúpula da América Latina, Caribe e União Européia.

A crise diplomática teve início no dia 1º de março, quando o Exército colombianorealizou uma incursão militar no Equador para eliminar um acampamento da guerrilha. Na operação, foi morto o que era considerado como o "chanceler" das Farc, Raúl Reyes. Desde então, o governo do Equador rompeu relações diplomáticas com a Colômbia.

"Não estamos falando de dois compadres que brigaram, estamos falando do primeiro bombardeio na história da América Latina com bombas inteligentes a um país irmão. Pela primeira vez na América Latina, um conflito se exporta aos demais países", disse Correa pouco depois, desta vez em entrevista coletiva.

"Aqui, houve um agressor e um agredido, e em vez de pedir perdão, continuou uma campanha midiática irresponsável que nos vinculou às Farc", acrescentou.

Correa disse que não dá importância às conclusões da Interpol.

O governo de Álvaro Uribe diz que nos documentos há registros de que as Farc teriam financiado parte da campanha eleitoral presidencial de 2006. Correa nega. "Jamais foi recebida contribuição ilegal", argumentou.

De acordo com Correa, Álvaro Uribe estaria utilizando os documentos encontrados no computador das Farc para desviar o foco de atenção sobre seu governo, que tem sido relacionado a grupos paramilitares.

Nova incursão militar

Neste fim de semana, a situação se complicou na fronteira entre Colômbia e Venezuela. De acordo com o governo venezuelano, neste sábado, cerca de 60 militares colombianos foram interceptados no estado de Apure e teriam sido "obrigados" a sair.

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela qualificou a incursão como um "ato de provocação". Em uma nota oficial divulgada neste sábado, a chancelaria "exige que o governo colombiano vele pelo fim imediato destas violações do direito internacional, da soberania e da integridade territorial da Venezuela", diz o comunicado.

Álvaro Uribe afirmou neste sábado que "pedirá desculpas" se for comprovado por seu governo o ingresso dos efetivos militares colombianos no país vizinho.

"Vamos pedir ao ministério de Defesa e aos altos comandos militares que olhem cuidadosamente", afirmou Uribe durante entrevista coletiva no Palácio de governo, em Bogotá.

Na quinta-feira, Chávez anunciou que as relações diplomáticas e comerciais com a Colômbia entraram em "profunda revisão", no mesmo dia em que foi anunciado o relatório da Interpol. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.



Terrorismo -Terrorism
DEFESA@NET 16 Maio 2008
Exclusivo DEFESA@NET


AS FARC DESNUDADAS

GenBda R/1 Alvaro de Souza Pinheiro
Especialista em Operações Especiais e Guerra Irregular

Forças de Operações Especiais colombianas capturaram valiosas fontes de informações por ocasião da incursão em território equatoriano que, em 1º de março do corrente ano, resultou na eliminação de uma das mais significativas lideranças das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). À medida que o tempo passa, as autoridades de segurança colombianas tornam públicas algumas dessas informações, possibilitando a elaboração de análises conclusivas, tanto sobre o planejamento e a execução daquela complexa operação especial, “Operación Fénix”, quanto sobre vários aspectos extremamente controvertidos da atuação das FARC no contexto da atual geopolítica latino-americana.

Na madrugada de sábado, 1º de março do corrente ano, uma Força Tarefa Combinada de Operações Especiais da Colômbia executou uma incursão extremamente audaciosa e muito bem sucedida sobre um acampamento localizado na região Norte do Equador, próximo à fronteira com a Colômbia. A “Operação Fênix”, como foi identificada, resultou na eliminação de Luis Edgar Devia Silva, mais conhecido pelo seu codinome, “Raúl Reyes”, que, até então, era considerado como o segundo homem na mais alta hierarquia das FARC.
A ostensiva e assumida violação da soberania equatoriana, que também levou à eliminação de 24 outros irregulares, incluindo um notório ideólogo da organização, Guillermo Enrique Torres, codinome “Julián Conrado”, Liliana Palácios, codinome “Lucia Marin”, amante de “Reyes”, alguns mexicanos, ligados aos cartéis do narcotráfico, e pelo menos um equatoriano, desencadeou uma crise diplomática internacional de graves proporções, principalmente com o Equador e com a Venezuela.

À medida que o tempo passa, além de detalhes do planejamento e execução da “Operação Fênix”, estão emergindo resumos do inventário da inteligência obtida naquele acampamento, recuperada de um laptop do próprio Reyes, bem como de vários hard drives ali apreendidos, propiciando valiosos dados referentes às atividades mais importantes, recentes e atuais das FARC, bem como suas relações com os Governos Venezuelano e Equatoriano.

“Operação Fênix”

Declarações de autoridades de segurança a órgãos de comunicação social colombianos e da mídia internacional enfatizam que a operação especial de incursão em território equatoriano se constituiu no clímax de uma operação de inteligência humana de longa duração, coordenada pela Direción de Inteligência de la Policia Nacional (DIPOL), cujos agentes, operando em conjunto com militares especializados, encontravam-se infiltrados no interior do território equatoriano, desde há um ano, quando obtiveram o dado de que Raúl Reyes estava visitando com freqüência um acampamento situado em região próxima à fronteira Norte do Equador com a Colômbia. Órgãos de comunicação social especializados, como é o caso do JANE’S TERRORISM & SECURITY MONITOR (em sua edição de abril de 2008) divulgaram, dentre outras informações, que a ação direta colombiana foi planejada com uma efetiva participação de agentes da inteligência israelense, dentre os quais, pelo menos 4 deles permaneceram na Colômbia por mais de um ano.

Em meados do mês de fevereiro deste ano, a operação de inteligência cumpriu integralmente seu objetivo, com a localização exata do alvo, em área montanhosa coberta por selva, situada a 1800 metros ao Sul do Rio Putumayo, tendo sido instalado no terreno, um GPS beacon que possibilitou às inteligências colombiana e norte-americana o levantamento preciso das coordenadas daquela base das FARC.

Assim, com o objetivo do ataque oportuna e precisamente localizado, o Destacamento de Operações Especiais (DstOpEsp) colombiano infiltrou, antecipadamente, em território equatoriano, um “Comitê de Recepção”, constituído por Operadores de Forças Especiais, com a finalidade de efetuar um reconhecimento final da área do objetivo, estabelecer uma ação de vigilância aproximada sobre aquela área, atuar como Guias Aéreos Avançados no ataque aéreo planejado, e operar a zona de pouso para helicópteros para a ação de investimento ao objetivo. Concluída a preparação de inteligência, confirmou-se o dia D, como 1º de março. A infiltração do grosso do Escalão de Assalto do DstOpEsp foi efetuada por helicópteros UH-60L, Black Hawk.

Uma esquadrilha de aeronaves de caça A – 29, Super Tucano (fabricadas no Brasil, pela EMBRAER), pertencentes ao Escuadrón de Combate 211 Grifo, da Força Aérea Colombiana (FAC), recebeu luz verde para o desencadeamento da ação ofensiva e decolou da Base Aerea de Tres Esquinas, uma instalação militar conjunta colombiana e norte-americana situada no Sul da Colômbia, aos 25 minutos do dia D. A hora sobre o objetivo (HSO – horário de lançamento do armamento no alvo) da ação de apoio aéreo aproximado desencadeada pelos Super Tucanos foi a 01:00h. Apoiado pelos Guias Aéreos Avançados do Comitê de Recepção, com as bombas de fragmentação guiadas por laser, o ataque aéreo foi magnificamente coroado de êxito.

Conforme posteriormente divulgado, Raúl Reyes sobreviveu ao lançamento das bombas, porém foi vitimado por uma mina terrestre que lhe extirpou o pé direito, quando tentava fugir do acampamento. Imediatamente após o ataque das aeronaves de caça, o Escalão de Assalto investiu em sua ação no objetivo, desembarcando dos helicópteros, em pouso de assalto, diretamente sobre o alvo, eliminando os sobreviventes remanescentes, ao mesmo tempo que um Grupo de Tarefas Especiais resgatava o corpo de Reyes, o seu computador laptop, e o corpo de Julián Conrado, retraindo, em seguida, para território colombiano. Duas horas após a ação no objetivo, os integrantes do Grupo de Tarefas Especiais retornaram à área do acampamento para um resgate complementar de hard drives, bem como de memory sticks.

Tendo em vista neutralizar a aproximação de elementos de combate das FARC que, após a quebra do sigilo da incursão, iniciaram deslocamento para a área do objetivo, as aeronaves de caça colombianas desencadearam sobre eles, quando ainda se encontravam em território colombiano, uma nova ação de apoio aéreo aproximado, fazendo novas baixas na força de guerrilha e possibilitando que o retraimento e a exfiltração de todo o DstOpEsp fossem efetuados, com segurança, ainda durante a madrugada.

As autoridades colombianas, no mesmo ato de divulgação da morte de Reyes, confirmaram que, nesta ação, veio a falecer, morto em combate, o Soldado Carlos Hernández León, enterrado com honras militares, condecorado post-mortem, tendo sua família recebido as condolências oficiais do próprio Presidente Alvaro Uribe. Homenagens póstumas muito bem recebidas por toda a população colombiana. Apesar desta baixa, a operação especial, complexa, tanto no seu planejamento e preparação quanto na sua execução, foi avaliada como um significativo sucesso. O Presidente Uribe, em pronunciamento à Nação, congratulou-se efusivamente com “os destemidos soldados e policiais que executaram a ação”. Anunciou também que duas polpudas gratificações em dinheiro seriam pagas a informantes que possibilitaram dados decisivos para o planejamento e a execução da bem sucedida incursão.

A significativa participação de agências de inteligência estrangeiras no planejamento e na preparação da “Operação Fênix” não minimiza a magnífica demonstração de capacitação operacional das forças de segurança colombianas. E a presença de sistemas de armas dotados de alta tecnologia como as aeronaves Super Tucano que, operadas com competência e alto grau de profissionalismo, introduzem uma significativa vantagem para as forças governamentais no complexo cenário daquele sangrento conflito interno.

Um Golpe Profundo

A eliminação de Raúl Reyes foi universalmente considerada como um golpe profundo nas FARC. Ele pertencia ao chamado “Secretariado de los Siete Miembros”, constituinte do grupo de mais alto nível no sistema de comando e controle da organização. Identificado pelas autoridades colombianas como segundo em comando de Pedro Antonio Marin, codinome “Manuel Marulanda”, também conhecido pela alcunha de “Tiro Fijo”, comandante e fundador das FARC, Reyes era, juntamente com Guillermo Saenz Vargas , codinome “Alfonso Cano” e com Jorge Briceño Suárez, codinome “Mono Jojoy”, um dos três mais poderosos dirigentes das FARC, abaixo de Marulanda. Raúl Reyes, com 59 anos de idade e aparentando muito boa saúde, era considerado o mais provável sucessor do atual comandante.

Reyes destacava-se, na atualidade, pelo trabalho que desenvolvia como chefe de relações internacionais e comunicações, desenvolvendo, com desenvoltura, um trabalho de intensivos contatos com governos estrangeiros, partidos políticos estrangeiros simpatizantes e organizações estrangeiras do crime organizado. Tornou-se famoso como o grande responsável pelo aborto das negociações de paz 1999-2002. Caracterizava-se por possuir um trânsito fácil em todos os escalões das FARC, enquanto os comandantes militares das diversas frentes de combate revolucionárias, em função da pressão exercida pelas ações ofensivas colombianas, mantinham-se cada vez mais isolados entre si.

Sua morte se caracterizou como o mais significativo golpe psicológico sofrido pelas FARC, por ter ele sido o único membro do mais alto comando da organização a ser eliminado pelas forças de segurança, desde a sua fundação nos anos 1960. Essa baixa foi ainda mais sentida pelo fato de apenas alguns dias após, um outro membro do “Secretariado de los Siete Miembros” ter sido assassinado. A 6 de março, um guerrilheiro identificado como Pedro Pablo Montoya, apresentou-se a soldados do Exército Colombiano conduzindo a mão decepada de Manuel Jesús Muñoz, codinome “Ivan Rios”, bem como, seus documentos de identificação e memory sticks. Montoya, que era chefe da segurança de Rios, declarou que o fuzilou e a sua amante, três dias antes, enquanto dormiam, na tentativa de obter a gratificação prometida pela captura ou eliminação dos membros do Secretariado.

O Ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, referiu-se ao assassinato de Rios por um desertor das FARC como uma demonstração inequívoca de que a organização está vivenciando graves conflitos internos. José Obdulio Gaviria, um alto assessor do Presidente Alvaro Uribe, enfatizou em meados de março deste ano que, na atualidade, as FARC estão reduzidas a 4 esparsos grupos armados. Esta declaração é, indiscutivelmente, exagerada. Porém, a muito bem sucedida operação especial de eliminação de Reyes e o assassinato de Rios por um desertor são consideradas evidências claras e significativas de que as FARC perderam a iniciativa e foram colocadas numa situação defensiva extremamente adversa.

As Revelações Digitalizadas

Assessorada por agentes do FBI norte-americano e da INTERPOL, a DIPOL colombiana está engajada na recuperação e no exame dos dados contidos tanto no laptop quanto nos hard drives. O Ministério da Defesa da Colômbia acredita que a tarefa de análise de todos os arquivos, que são da ordem de alguns milhares, demandará semanas de trabalho para sua conclusão. Mas, algumas informações já foram produzidas e divulgadas ao público por diferentes órgãos de comunicação social, com destaque para o jornal diário “El Tiempo”, de Bogotá. E demonstram inequivocamente que o sistema de comando e controle das FARC passa por momentos de grande pressão.

Um e-mail enviado por Raúl Reyes, em 13 de julho de 2007, ao encarregado de sua segurança, Angel Gabriel Losada, codinome “Edgar Tovar”, comandante da Frente 48 das FARC, registra que Alfonso Cano, um dos membros do Secretariado, encontrava-se incomunicável. Cano, uma figura política chave da organização viu-se, nos últimos meses, fortemente perseguido pelas forças de segurança, as quais estiveram muito próximas de capturá-lo na Província de Tolima.

Outra comunicação revela que em 4 de agosto de 2007, um comandante das FARC, que se identifica como “Daniel” envia mensagem a Milton Toncel, codinome “Joaquin Gómez”, militante que veio a substituir Raúl Reyes, após a sua morte, alertando sobre os riscos conseqüentes das operações altamente descentralizadas e simultaneamente desencadeadas, em diferentes áreas, por unidades leves, dotadas de grande mobilidade tática, oportunamente apoiadas por aeronaves de asa fixa e móvel, tanto do Exército quanto da FAC.

Manuel Marulanda, o comandante de mais alto nível, alerta os membros do Secretariado, em outra mensagem, enviada em setembro de 2007, que o emprego das comunicações rádio fosse utilizado o mínimo possível, e sempre em mensagens muito curtas, em função da capacitação das unidades especializadas colombianas de interceptar e localizar os postos das estações em prazos muito curtos.

Este e-mail foi enviado poucos dias antes de um outro ataque aéreo bem sucedido desencadeado por caças A–29 da FAC, que resultou na eliminação de Tomas Medina Caracas, codinome “Negro Acacio”, comandante da Frente 16 das FARC, elemento de contato de Luis Fernando da Costa (vulgo “Fernandinho Beira-Mar”), o mais notório narcotraficante do Brasil. “Beira-Mar” foi capturado, após ter sido ferido, por uma patrulha do Exército Colombiano, em 21 de abril de 2001, na Provincia de Vichada, por ocasião da “Operação Gato Negro”, do Exército Colombiano, quando tentava negociar com o “Negro Acacio” a compra de grande quantidade de cocaína refinada, tendo como parte do pagamento 3 000 fuzis AK-47, Kalashnikov, e 500 000 cartuchos 7,62 mm. Extraditado para o Brasil, “Beira-Mar”cumpre pena numa prisão de segurança máxima.

Manuel Marulanda, que tem sido visto com problemas de saúde já há alguns anos, pode estar perto de encerrar sua carreira como comandante de mais alto nível das FARC. Em mensagem eletrônica enviada aos membros do Secretariado, em 11 de janeiro de 2008, queixa-se das crescentes dificuldades para planejar e executar operações a nível nacional. Devido à situação atual, declara que se encontra homiziado em esconderijo, aguardando um momento propício para a condução de uma “última” operação militar. Há controvérsias com relação à interpretação da palavra “última”, se seria a sua operação final ou a mais recente.

Conexões com Chávez e Correa

De todas as informações até agora tornadas públicas, as mais impactantes são aquelas que abordam as atuais relações das FARC com governos estrangeiros simpatizantes, principalmente com os da Venezuela e do Equador. Mensagens eletrônicas trocadas ao final de 2007 e ao início de 2008 indicam que o Governo de Chávez estava trabalhando no sentido de incrementar a legitimidade política das FARC, além do oferecimento de significativo suporte financeiro.

Num e-mail enviado em 22 de setembro de 2007 aos membros do Secretariado, Marulanda faz referência ao objetivo político de Chávez junto a outros governos estrangeiros para garantir para as FARC o status de “beligerante” ao invés de “terrorista”. Marulanda complementa dizendo que esta intenção auxiliaria, sobremaneira, o projeto geopolítico de Chávez para a América Latina. O comandante maior das FARC conclui a mensagem eletrônica levantando a possibilidade da realização de um encontro futuro com Chávez na localidade de Los Llanos del Yari, região situada no Sudeste da Colômbia.

Numa outra mensagem enviada em janeiro de 2008, Marulanda agradece a Chávez pela sua atuação na liberação de militantes presos em troca de reféns mantidos em cativeiro pelas FARC. Nesta mensagem, Marulanda também agradece a manifestação pública de Chávez em prol da aquisição do status quo de “legítimos beligerantes”, reconhecendo essa atitude como um “gesto revolucionário”. Conclui, oferecendo a Chávez incondicional apoio, no caso de um ato hostil por parte dos EUA contra a Venezuela.

Em outra comunicação ao Secretariado, Manuel Marulanda afirma que é imperativo, no momento atual, que as FARC tenham em Hugo Chávez um “aliado estratégico”. Pondera que embora Chávez não veja possibilidade que as FARC venham a conquistar o poder pela força, em função do atual poder militar do Governo Uribe, e do efetivo apoio cedido por Washington, o Chefe de Governo Venezuelano precisa entender que as FARC são indispensáveis ao grande objetivo de “criar, com apoio das massas, um grande exército revolucionário capaz de derrotar o sistema capitalista e instalar o socialismo”.

Em 28 de fevereiro de 2008, dois dias antes de ser eliminado, Reyes enviou um e-mail ao Secretariado no qual regozija-se da liberação unilateral de quatro “prisioneiros”, três homens e uma mulher. Estes ficaram mantidos em cativeiro por cerca de sete anos e Reyes assinala que “essa liberação nos absolve de muitos pecados”. Estes comentários são interpretados como um indício de que, na atualidade, as FARC estão extremamente desconfortáveis tanto no que se refere à necessidade de gastar recursos valiosos na manutenção de grande número de reféns em cativeiro por tantos anos, quanto no aspecto psicológico dessa controvertida questão. Reyes acrescenta que uma significativa conseqüência negativa nesse tema específico, era a crescente pressão internacional sobre as FARC para a liberação de Ingrid Betancourt, uma antiga candidata presidencial, que possui também a cidadania francesa, mantida presa desde fevereiro de 2002, e que, segundo fontes governamentais colombianas, está com a saúde extremamente debilitada.
Com relação ao oferecimento de suporte material e financeiro às FARC por parte do Governo Venezuelano, este tema sempre foi objeto de inúmeras especulações, porém, nenhuma delas tinha uma evidência claramente comprovada. Entretanto, mensagens eletrônicas específicas envolvendo um outro membro do Secretariado, Luciano Marin, codinome “Ivan Márquez” propicia a revelação de novos dados da maior relevância.

Ivan Márquez teve a oportunidade de encontrar-se com Hugo Chávez em novembro de 2007, por ocasião de uma reunião ostensiva para tratar da liberação de reféns em poder das FARC. Num e-mail destinado aos membros do Secretariado, em 23 de dezembro de 2007, Márquez relata que teve um encontro com Ramón Rodriguez Chacin, Ministro do Interior de Chávez e elemento de contato do Governo Venezuelano com as FARC. Márquez diz que, nesse encontro, Chacin lhe falou sobre a possibilidade de que a Venezuela doasse às FARC um montante de 300 milhões de dólares. Esta oferta é reiterada e ajustada em outro e-mail enviado por Márquez, em 8 de fevereiro de 2008, desta vez citando um encontro com o próprio Hugo Chávez, que passa a ser identificado nas mensagens com o codinome de “Angel”. Chávez propõe auxiliar as FARC doando 250 milhões de dólares que seriam repassados numa transação no mercado negro do câmbio estrangeiro ou pelo repasse de uma imenso suprimento de combustível que seria comercializado pelas FARC, de modo a lhes proporcionar os desejados recursos financeiros.

No dia seguinte, 9 de fevereiro de 2008, Márquez enfatiza, em nova mensagem eletrônica, que Chávez gostaria de agradecer às FARC pelo auxílio de 100 milhões de pesos, recebido quando ele estava prisioneiro. Isto teria acontecido entre 1992 e 1994, quando esta quantia correspondia a cerca de 125 mil dólares. Curiosamente, Márquez também menciona que o Governo Cubano, visto sempre como um incondicional aliado de Chávez, teria manifestado o seu total afastamento dessa questão, em virtude do que seria “a decisão de Chávez de afastar os cubanos de suas negociações com as FARC”.

Em 3 de março de 2008, em entrevista coletiva, o General Oscar Naranjo Trujillo, Diretor da Policia Nacional, ratificou as acusações de que a Venezuela estava suprindo as FARC de recursos financeiros. Em 1 de abril de 2008, o Ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, declara que Caracas havia recebido cópias desses documentos e que os considerava absolutamente ilegítimos, forjados no contexto de uma campanha conduzida pelos EUA com a finalidade de comprometer negativamente Hugo Chávez.

As conexões entre as FARC e o Governo Equatoriano também foram objeto da divulgação de algumas das mensagens eletrônicas. Todos os indícios ratificam que o acampamento-base de Raúl Reyes foi instalado em território equatoriano, com plena aprovação do Governo Rafael Correa.

Em e-mail enviado ao Secretariado, em 18 de janeiro de 2008, Reyes declara ter recebido, recentemente, a visita do Ministro de Segurança do Equador, Gustavo Larrea, que passou a ser identificado nas mensagens pelo codinome “Juan”. Larrea manifestou-lhe a grande simpatia do Presidente Rafael Correa pela causa das FARC, ratificando a posição adotada por Chávez pela imperiosa necessidade de que as FARC fossem internacionalmente reconhecidas como uma “legítima força beligerante”. Larrea também enfatizou, naquela oportunidade, que estaria em condições de “coordenar com as FARC o suprimento às comunidades fronteiriças, e que estaria empenhado em substituir os comandantes militares contrários a qualquer aproximação com aquelas Forças”.

Num outro e-mail, enviado ao Secretariado, em 28 de fevereiro de 2008, Reyes se refere, mais uma vez, ao encontro com Larrea, acrescentando que aquela autoridade estava muito preocupada com “a grande concentração de integrantes de agências de inteligência estrangeiras no interior do território equatoriano; bem como, referiu-se à corrupção como uma das fraquezas do atual Governo Equatoriano”.

A Ponta do Iceberg

Sem dúvida alguma, é possível que muitas das informações obtidas com base nos files do laptop de Raúl Reyes estejam sendo politicamente exploradas e que sua veracidade possa ser questionável, em função da divulgação de desinformação intencional. Entretanto, não resta a menor dúvida de que os colombianos estão de posse de um acervo extremamente valioso de dados que estão lhes proporcionando uma inteligência crucial no desencadeamento de futuras operações contra as FARC, tanto no nível estratégico quanto nos níveis operacional e tático. Operações essas que já estão sendo executadas, embora seus resultados sejam ainda mantidos em sigilo.

As comprovadas colaborações às FARC oriundas da Venezuela e do Equador indicam que esses atuais governos não desejam que Alvaro Uribe obtenha vantagens militares sobre a guerrilha, bem como, rejeitam o elevado e incontestável nível de aprovação política por ele obtido junto à sociedade colombiana.

Por outro lado, alguns indícios são extremamente preocupantes. Autoridades colombianas anunciaram, em 26 de março deste ano, que cerca de 30 Kg de urânio foram apreendidos numa operação desencadeada numa estrada secundária ao Sul de Bogotá. Tal evento fundamenta a hipótese de que as FARC estariam engajadas na concretização de um projeto terrorista universalmente identificado como “bomba suja” (dirty bomb). Confirmada esta hipótese, as autoridades colombianas estariam face a uma ameaça inédita, nos mais de 40 anos de guerra civil, que poderia trazer trágicas conseqüências, sobretudo para a imensa maioria de cidadãos civis não combatentes. Conseqüências essas que poderiam expandir-se pelas nações vizinhas da Colômbia.

Outro indício recente de grande criticabilidade seriam as atuais conexões estabelecidas entre as FARC e a Frente Separatista Basca ETA, uma das mais notórias organizações terroristas da Europa. Em passado recente, ligações com o Irish Republican Army (IRA) foram confirmadas, tendo inclusive dois membros daquela organização terrorista sido condenados em corte de justiça colombiana, após a execução de uma série de atentados a bomba, por eles orientados. Conexões dessa natureza são eminentemente perigosas, levando-se em conta as atuais ligações mantidas pelas FARC no exterior, inclusive com notórias organizações do crime organizado de diferentes países, com destaque para Argentina, Bolívia, Brasil, EUA, México, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela.

A verdade inquestionável é que, desde há algum tempo, as FARC deixaram de se caracterizar como uma típica organização revolucionária marxista-leninista e assumiram um novo papel, o de tornar-se a mais poderosa organização do crime organizado no Hemisfério Ocidental. Organização esta que participa da maior produção de cocaína refinada do mundo, em todas as suas fases, desde a plantação da folha de coca até a distribuição clandestina aos grandes mercados consumidores. Continua aplicando rotineiramente táticas, técnicas e procedimentos tipicamente terroristas, tanto de terrorismo seletivo quanto do indiscriminado, o que as caracterizam, na atualidade, como uma organização narcoterrorista padrão.

Paralelamente ao narcotráfico, controla considerável fatia do contrabando de armas e munições ilícitas, ambas atividades que, através de diferentes conexões no exterior, atingem diretamente o Brasil, com graves repercussões na garantia da lei e da ordem e na segurança pública dos nossos grandes centros urbanos, alguns dos quais já vivenciando cenários típicos de guerrilha e terrorismo urbano.

Nesse contexto, é impositivo que a sociedade brasileira considere como inaceitável o patético discurso de uma parcela estúpida, desinformada e mal-intencionada da esquerda brasileira que entende que apoiar as FARC faz parte de uma estratégia imprescindível para reduzir a influência norte-americana no continente. Dentre várias razões, há que se ter em mente que nossos interesses nacionais vitais, defesa da soberania e manutenção da integridade do patrimônio nacional, já foram, em passado não muito remoto, ameaçados, na Amazônia, por solerte e insidiosa ação armada dessa organização narcoterrorista, inclusive causando baixas entre soldados que guarneciam um dos nossos postos na fronteira.

O Comando Militar da Amazônia, universalmente reconhecido como possuidor dos melhores corpos de tropa de combatentes de selva do mundo, mantendo a sua tradição de elevada capacitação operacional, naquela oportunidade, desencadeou retaliações eficientes e eficazes, cujo efeito dissuasório se faz presente até os dias de hoje. E, apesar das agruras da perversa conjuntura econômico-financeira que atualmente assola nossas Forças Armadas, aquele Grande Comando Operacional altamente especializado permanece vigilante.

E com o indispensável suporte de elementos destacados da Força de Ação Rápida Estratégica (FAR-E), da Flotilha do Amazonas (FLOTAM - Marinha do Brasil) e das unidades aéreas da Força Aérea Brasileira, suas cinco Brigadas de Infantaria de Selva permanecem diuturnamente aprestadas para fazer face a qualquer ameaça que essas forças irregulares narcoterroristas de atuação transnacional possam configurar.

Defesa @ Net

O 12/5 Comentários sobre os Ataques do PCC - Defesa@Net
http://www.defesanet.com.br/dn/08JUN06.htm

O COMBATE AO TERRORISMO - O Antiterrorismo e o Contraterrorismo - 22 março 2004 - Gen BdaR/1 Alvaro Pinheiro - Analista Militar especialista em Guerra irregular
http://www.defesanet.com.br/noticia/terrorismo.htm

NARCOTERRORISMO - O Flagelo do Século XXI © - Gen Bda R/1 Alvaro de Souza Pinheiro - Analista Militar especialista em Guerra irregular http://www.defesanet.com.br/terror/narcoterrorismo.htm

United Nations Office on Drugs and Crime Launches Andean Coca Surveys for Bolivia, Colombia and Peru - Junho 2005
http://www.defesanet.com.br/intel/undoc_andean_coca.htm

Aumenta 3% cultivo de coca en región andina, señala UNODC - Junio 2005
http://www.defesanet.com.br/intel/undoc_andean_coca_esp.htm

UNODC lança relatório global sobre drogas - 2005 http://www.defesanet.com.br/intel/undoc_drugs_2005_p.htm

Video Reportagem sobre o Projeto Nuclear da Venezuela: