Avibrás entra com pedido de recuperação judicial

Dívidas de R$ 500 milhões com governo e fornecedores provocam[br]crise no maior grupo nacional do setor de equipamentos de defesa

Roberto Godoy - Estadão

A Avibrás Aeroespacial, maior grupo empresarial do setor nacional de equipamentos de defesa, apresentou ontem às 15h30 um pedido de recuperação judicial. O valor estimado do processo é de R$ 500 milhões, envolvendo dívidas com a União, o Banco do Brasil, a Previdência, o sistema tributário, a Financiadora de Projetos (Finep), fornecedores diversos e uma trading internacional.

A empresa demitiu 350 funcionários, mas, segundo o presidente Sami Hassuani, "está preservando um núcleo multiplicador de 600 colaboradores". A crise da Avibrás ocorre a pouco menos de dois meses do lançamento da Estratégia Nacional de Defesa, um plano do governo para revitalizar a indústria especializada, reequipar as Forças Armadas e estabelecer a política do Brasil nessa área.

A recuperação judicial, estrutura que substituiu o instituto da concordata, está sendo solicitada no momento em que a carteira da Avibrás guarda um rico contrato de exportação no valor de R$ 500 milhões - o mesmo do passivo acumulado - assinado com um cliente da Ásia. A companhia mantém negociações estimadas em cerca de R$ 4,8 bilhões para fornecer sistemas de emprego militar para as forças de cinco países do Oriente Médio e Ásia.

A formalização do compromisso de exportação completará um ano em agosto. Para ser operacionalizado, o contrato depende apenas das garantias do governo federal - que, em busca da base legal adequada, mantém o negócio pendente desde setembro do ano passado.

Os ministros da Defesa, Nelson Jobim, das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do Desenvolvimento, Miguel Jorge, trocaram intensa correspondência interna sobre o assunto com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que pediu rapidez aos técnicos do setor. O chanceler Amorim despachou pelo menos três mensagens oficiais ao governo-cliente que não é revelado pela Avibrás.

A ação foi protocolada na 7ª Vara Cível de São José dos Campos pelo advogado do grupo, Nelson Marcondes Machado. Depois do deferimento e da apresentação dos documentos iniciais, a corporação terá o prazo definido para apresentar um plano de reestruturação.

"Nosso objetivo final é reabilitar e perpetuar a Avibrás", defende Sami Hassuani. Para ele, "as indústrias brasileiras de Defesa só sobreviverão se puderem ser exportadoras".

Em janeiro, o fundador e presidente da empresa, João Verdi de Carvalho Leite, desapareceu, em companhia da mulher, Sonia Brasil, depois que o helicóptero que pilotava caiu entre Angra dos Reis e São José dos Campos.

Em 1990 a Avibrás Aeroespacialentrou em concordata, depois de tomar um calote de seu então cliente principal, o Iraque. O regime especial terminou em 1992.

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Avibrás tem queda de receita mas diminui prejuízo em 2007

Do Valor OnLine

SAO PAULO - A Avibrás Indústria Aeroespacial fechou 2007 com prejuízo de R$ 46,1 milhões, comparado a uma perda de R$ 68,9 milhões no ano anterior. A receita líquida de vendas caiu de R$ 53,9 milhões, em 2006, para R$ 49,8 milhões, no ano passado. A empresa tinha R$ 103 mil no caixa, comparado a R$ 3,9 milhões em 2006.


Em abril de 2007, a empresa incorporou ao capital social uma reserva de reavaliação, fazendo com que o capital passasse de R$ 159,2 milhões para R$ 1,8 bilhão. Na seqüência, houve uma redução do capital social, na mesma proporção dos prejuízos acumulados até 31 de dezembro de 2006, no montante de R$ 545,4 milhões. A nova lei das sociedades anônimas, em vigor a partir deste ano, proíbe as reavaliações de ativos.


O balanço da Avibrás, publicado hoje, é assinado por Sami Youssef Hassuani, no cargo de diretor-presidente em exercício. João Verdi Carvalho Leite, presidente e fundador da companhia, está desaparecido desde 23 de janeiro deste ano, quando o helicóptero que pilotova caiu na região de Caraguatatuba (SP).


(Nelson Niero | Valor Econômico, para o Valor Online)