BRA tenta voltar como companhia de vôos fretados
Roberta Campassi de São Paulo - Valor online
A companhia aérea BRA, inoperante desde novembro do ano passado, vai elaborar um outro plano de recuperação judicial como uma das poucas alternativas para evitar a falência. A idéia foi proposta pela administração da empresa e aprovada ontem pelos credores, que deverão avaliar a proposta dentro de um mês.
O novo plano estabelecerá que a BRA volte às origens e seja uma companhia aérea de vôos fretados ("charters") - nos mesmos moldes em que a empresa operou entre 1999, quando foi criada, e 2005, ano em que passou a ter vôos regulares. Em comparação com a proposta de recuperação anterior, o modelo de fretamentos exigirá "um aporte de capital menor para a retomada das atividades da BRA, bem como a utilização de um menor número de aeronaves inicialmente", diz a ata da assembléia de credores que aconteceu ontem de manhã, em São Paulo.
O plano anterior previa a operação de vôos regulares em mercados regionais, com aeronaves da Embraer 195 que foram encomendadas pela BRA no ano passado. Contudo, para que isso ocorresse, era necessária a entrada de um novo investidor disposto a aportar cerca de R$ 50 milhões na companhia - sem contar os recursos necessários para a aquisição dos aviões. A administração da BRA contratou a consultoria Rosenberg & Associados para buscar interessados, mas nenhuma negociação avançou. No último mês, houve conversas entre a BRA e a Union National, instituição financeira que cobra R$ 34 milhões da empresa aérea e demonstrou interesse em assumir a companhia. Na semana passada, porém, a Union desistiu oficialmente do negócio.
Na avaliação de dois profissionais da Rosenberg que preferiram não ser identificados, são duas as razões do desinteresse de potenciais investidores: a incerteza em relação à capacidade de a BRA se recuperar e quitar dívidas que somam perto de R$ 250 milhões; e as dificuldades do setor aéreo geradas pela alta dos preços do petróleo e pelo aumento da concorrência no Brasil diante da criação da Azul Linhas aéreas, do empresário americano David Neeleman.
A falta de investidores e, portanto, da possibilidade de a BRA dar prosseguimento aos seus planos, levou a companhia a estudar um pedido de auto-falência na semana passada. "Foi o que nos restou, a primeira idéia que surgiu antes que se pensasse num novo plano de recuperação", afirma Joel Thomaz Bastos, do escritório Felsberg e Associados, contratado da BRA. "Enquanto houver alguma luz, vamos tentar. Se os credores não aprovarem um novo plano, não terá feito diferença pedir a falência ou trinta dias mais tarde", diz.
Segundo Bastos, a proposta que projeta uma BRA com vôos fretados deve ficar pronta por volta do dia 10 de agosto. Ela deverá ser distribuída aos credores para que eles tenham tempo de avaliá-la. No dia 28 do mesmo mês, deverá ser apreciada em assembléia. Os investimentos previstos no novo plano serão infinitamente menores do que no anterior. "Arrisco dizer que será em torno de um décimo dos R$ 50 milhões", diz Bastos. Danilo Amaral, vice-presidente da BRA que está à frente da gestão da companhia, foi procurado, mas não retornou o pedido de entrevista do Valor.
O novo plano deverá manter o item que determina que os credores financeiros, representantes da maioria, troquem suas dívidas por debêntures conversíveis em ações da BRA, conforme a ata da assembléia de ontem.
Ainda não está claro, porém, se a nova proposta de recuperação vai manter o item do antigo plano que determinava que os atuais acionistas da BRA façam um aporte de cerca de R$ 35 milhões na empresa para quitar dívidas trabalhistas e ficais. Os irmãos Walter e Humberto Folegatti, detentores de 58% do capital, injetariam R$ 20 milhões por meio da transferência de três imóveis. A Brazilian Air Partners (BAP), união de sete fundos de participação que detém os outros 42%, injetaria R$ 15 milhões. A BAP é formada pelos fundos Gávea, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, Darby, Millenium, HBK, Development Capital, Goldman Sachs e Bank of America.
A BRA entrou em crise financeira no segundo semestre do ano passado e suspendeu todos os seus vôos em sete de novembro, de forma a prejudicar 70 mil passageiros. No dia 30 do mesmo mês, a empresa entrou em recuperação judicial. O caso surpreendeu porque, menos de um ano antes do colapso, a companhia aérea havia recebido investimentos de R$ 180 milhões da BAP. Quando parou de voar, a BRA tinha 1,1 mil funcionários, 3,5% do mercado aéreo doméstico e 5,8% do mercado internacional.
Além da BRA, outras duas companhias aéreas estão em recuperação judicial. A Nordeste, antiga Varig, ainda precisa completar o quadro de credores para deixar o processo. A Vasp, por sua vez, enfrenta sérias dificuldades para dar andamento ao seu plano. Na última assembléia, ocorrida em 17 de julho, a maioria dos credores votou pela falência da companhia. O juiz do caso, Alexandre Alves Lazzarini, da 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de São Paulo, ainda deve se pronunciar sobre o pedido. Ele também cuida do processo da BRA. Na segunda quinzena de agosto, termina o prazo de dois anos para que a Vasp coloque seu plano de recuperação em prática. Com nenhuma etapa do plano cumprida, a falência é tida como caminho mais provável.
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