A Guerra Civil espanhola (1936-39) foi o acontecimento mais traumático que ocorreu antes da 2ª Guerra Mundial. Nela estiveram presentes todos os elementos militares e ideológicos que marcaram o século XX.
De um lado se posicionaram as forças do nacionalismo e do fascismo, aliadas as classes e instituições tradicionais da Espanha (O Exército, a Igreja e o Latifúndio) e do outro a Frente Popular que formava o Governo Republicano, representando os sindicatos, os partidos de esquerda e os partidários da democracia.
Para a Direita espanhola tratava-se de uma Cruzada para livrar o país da influência comunista e da franco-maçonaria e restabelecer os valores da Espanha tradicional, autoritária e católica. Para tanto era preciso esmagar a República, que havia sido proclamada em 1931, com a queda da monarquia.
As facções em luta no início do conflito (Verão de 1936); a zona nacionalista está em azul, a republicana em vermelho, e o verde expressa os avanços dos nacionalistas.
Para as Esquerdas era preciso dar um basta ao avanço do fascismo que já havia conquistado Itália (em 1922), a Alemanha (em 1933) e a Áustria (em 1934). Segundo as decisões da Internacional Comunista, de 1935, elas deveriam aproximar-se dos partidos democráticos de classe média e formarem uma Frente Popular para enfrentar a maré de vitorias nazi-fascistas. Desta forma Socialistas, Comunistas (estalinistas e troskistas) Anarquistas e Democratas liberais deveriam unir-se para chegar e inverter a tendência mundial favorável aos regimes direitistas.
A Espanha ainda nos 30 era um anacronismo histórico. Enquanto a Europa ocidental já possuía instituições políticas modernas, no mínimo a um século a Espanha era um oásis tradicionalista, governada pela "trindade reacionária"(O Exército, a igreja católica e o Latifúndio), que tinha sua expressão última na monarquia burbônica de Afonso XIII. Vivia nostálgica do seu passado imperial grandioso, ao ponto de manter um excessivo número de generais e oficiais (1 general para cada 100 soldados, o maior percentual do mundo), em relação às suas reais necessidades.
A igreja, por sua vez, era herdeira do obscurantismo e da intolerância dos tribunais inquisitoriais do santo Oficio, era uma instituição que condenava a modernidade como obra do demônio. E no campo, finalmente, existiam de 2 a 3 milhões de camponeses pobres, los braceros, submetidos às práticas feudais e dominados por uns 50 mil hidalgos, proprietário de metade das terras do país.
Como resultado da grave crise econômica de 1930 (iniciada pela quebra da bolsa de valores de N. Iorque, em 1929), a ditadura do Gen. Primo de Rivera, apoiada pelo caciquismo (sistema eleitoral viciado que sempre dava seus votos ao governo), foi derrubada e, em seguida, caiu também a monarquia. O Rei Afonso XIII foi obrigado a exilar-se e proclamou-se a República em 1931, chamada de "República de trabajadores".
As esquerdas, obedecendo a uma determinação do Comintern (a Internacional Comunista controlada pela URSS), resolveram unir-se aos democratas e liberais radicais num Fronte Popular para ascender ao poder por meio de eleições. As esquerdas espanholas estavam divididas em diversos partidos e organizações, entre as quais:
PSOE (Partido Socialista Obreiro Espanhol) | Socialistas |
PCE (Partido Comunista Espanhol) | Comunistas |
POUM (Partido Obreiro da Unificação Marxista) | Comunistas-trotsquistas |
UGT (União Geral dos Trabalhadores) | Sindical Socialista |
CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) | Sindical Anarquista |
FAI (Federação Anarquista Ibérica) | Anarco-Sindicalista |
Elas aliaram-se com os Republicanos (Ação republicana e Esquerda republicana) e mais alguns partidos autonomistas (Esquerda catalã, os galegos e o Partido Nacional Basco). Essa coligação, venceu as eleições de fevereiro de 1936, dominando 60% das Cortes (O parlamento espanhol), derrotando a Frente Nacional, composta pelos direitistas.
Mas a direta espanhola estava entusiasmada com o sucesso de Hitler (aplastamento das esquerdas na Alemanha, remilitarização da Renânia, etc...) que se somou ao golpe direitista de Dolfuss na Áustria, em 1934. Derrotados nas eleições os direitistas passaram a conspirar com os militares e a contar com o apoio dos regimes fascistas (Portugal, com Oliveira Salazar, Alemanha com Hitler e a Itália de Mussolini). Esperavam que um levante dos quartéis, seguido de um pronunciamento dos generais, derrubariam facilmente a República.
No dia 18 de julho de 1936, o Gen. Francisco Franco insurge o Exército contra o governo republicano. Ocorre que nas principais cidades, como a capital Madri e Barcelona, a capital da Catalunha, o povo saiu as ruas e impediu o sucesso do golpe. Milícias anarquistas e socialistas foram então formadas para resistir o golpe militar.
O país em pouco tempo ficou dividido numa área nacionalista, dominado pelas forças do Gen. Franco e numa área republicana, controlada pelos esquerdistas. Nas áreas republicanas ocorreu então uma radical revolução social. As terras foram coletivizadas, as fábricas dominadas pelos sindicatos, assim como os meios de comunicação. Em algumas localidades, os anarquistas chegaram até a abolir o dinheiro.
Em ambas as zonas matanças eram efetuadas através de fuzilamentos sumários. Padres, militares e proprietários eram as vítimas favoritas dos "incontroláveis", as milícias anarquistas, enquanto que sindicalistas, professores e esquerdistas em geral, eram abatidos pelos militares nacionalistas.
Como o golpe não teve o sucesso esperado, o conflito tornou-se uma guerra civil, com manobras militares clássicas. O lado nacionalista de Franco conseguiu imediato apoio dos nazistas (Divisão Condor, responsável pelo bombardeamento de Madri e de Guernica) e dos fascistas italianos (aviação e tropas de infantaria e blindados) enquanto que Stalin enviou material bélico e assessores militares para o lado republicano.
A pior posição foi tomada pela França e a Inglaterra que optaram pela "Não-Intervenção". Mesmo assim, não foi possível evitar o engajamento de milhares de voluntários esquerdistas e comunistas que vieram de todas as partes (53 nacionalidades) para formar as Brigadas Internacionais (38 mil homens) para lutar pela defesa da República.
Neste dia de Abril, a aviação nazi bombardeou a povoação basca de Guernica,
Picasso imortalizou a brutalidade fascista no quadro com o mesmo nome
Durante três horas, mais precisamente entre as 16:30 e as 19:30, no dia 26 de Abril de 1937, os bombardeiros da Legião Condor, enviada por Hitler para ajudar as tropas do general Franco, na sublevação que originou a Guerra Civil de espanha (1936-1939), massacraram a pequena povoação basca de Guernica soltando 31 toneladas de bombas, muitas delas incendiárias
O bombardeamento custou um número elevado de vidas que segundo os historiadores, varia entre as 100 e 300
Pouco tempo depois da aviação nazi ter destruido esse pequeno povo Basco, Pablo Picasso realizou em 1937 uma pintura que se tornou um dos quadros mais célebres da história, e um grito de horror do pintor espanhol contra a guerra.
Trata-se de uma obra mítica, a preto e branco, que mistura homens e animais com expressões atormentadas, Repare.se como a ausência de outras cores consegue um intenso dramatismo ao compor uma elegía que pretende descrever o caos provocado pela guerra, Um touro, que parece representar a Espanha, uma mãe que chora com o corpo inerte do seu filho nos braços, um soldado destroçado cujo braço conserva um bocado da espada, figuras deformadas, rostos contraídos, pedaços de membros, rodeiam a figura central de um cavalo, desorbitado e retorcido, com um mudo relinche de dor.
Guernica converteu.se no símbolo da barbárie militar e dos horrores de uma Guerra Civil que destruiu a Espanha, causando mais de 500.000 mortos
Situação do fronte em novembro de 1938
A Guerra Civil na Espanha - O fim da guerra
A superioridade militar do Gen. Franco, a unidade que conseguiu impor sobre as direitas, foi fator decisivo na sua vitória sobre a República. Em 1938 suas forças cortam a Espanha em duas partes, isolando a Catalunha do resto do país. Em janeiro de 1939, as tropas do gen. Franco entram em Barcelona e, no dia 28 de março, Madri se rende aos militares depois de ter resistido a poderosos ataques (aéreos, de blindados e de tropas de infantarias), por quase três anos.
As baixas da Guerra Civil oscilam entre 330 a 405 mil mortos, sendo que apenas 1/3 ocorreu na guerra. Meio milhão de prédios foram destruídos parcial ou inteiramente e perdeu-se quase metade do gado espanhol. A renda percapita reduziu-se em 30% e fez com que a Espanha afundasse numa estagnação econômica que se prolongou por quase trinta anos.
Bibliografia
Jackson, Gabriel - La Republica Española y la Guerra Civil, Barcelona, Grilabo, 1977.
Matthews, Herbert - Metade da Espanha morreu, Rio de Janeiro, Civ. Bras., 1975.
Orwell, Georg - Lutando na Espanha, Rio de janeiro, Civ. Bras. 1967.
Thomas, Hugh - A Guerra Civil Espanhola, Rio de Janeiro, Civ. Bras. 1964, 2 vols.
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