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Folha de São Paulo

É CORRETA a decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de conceder licença prévia para a construção da usina nuclear de Angra 3. As fortes emoções que o tema desperta e o excesso de segredo com que os militares costumavam conduzir projetos nessa área já prejudicaram demais a exploração dessa matriz energética. Passa da hora de abordar a questão de forma racional e desapaixonada.

Num cálculo puramente pragmático, é interessante para o Brasil investir em usinas nucleares. O país já despendeu R$ 1,5 bilhão em equipamentos e estudos prévios relacionados a Angra 3. Nos cálculos da Eletronuclear, com mais R$ 7,3 bilhões, a usina poderia ficar pronta em cinco anos e meio. Assim, a planta entraria em operação em 2014, quando o país decerto precisará dos 1.350 megawatts (MW) que ela terá capacidade de gerar.

Centrais atômicas exigem investimentos iniciais altos, mas que tendem a ser compensados por um baixo custo de operação -exatamente o contrário do que ocorre com a matriz térmica.

De resto, o mundo inteiro está repensando as objeções contra a energia nuclear. Por não queimar combustíveis fósseis, é uma forma de geração relativamente limpa no que diz respeito ao aquecimento global. Em 2007, operavam em 31 países 439 centrais, com potência de mais de 370 mil MW. Havia ainda cerca de três dezenas em construção.

O principal argumento contra a utilização dessa matriz é o da segurança. Ainda estão vivos na memória coletiva os relatos sobre o desastre de Tchernobil, em 1986. Tal acidente, contudo, contribuiu para que as usinas ficassem menos perigosas, ao tornar mais rígidos os itens de segurança internacionalmente exigidos.

A maior preocupação relativa a plantas atômicas diz respeito à disposição do lixo radiativo. No caso de Angra 1 e 2, a cada ano e meio o combustível nuclear é trocado. Os rejeitos vêm sendo acondicionados em piscinas de resfriamento dentro das próprias usinas -solução provisória e tecnicamente condenável.

Fez muito bem, portanto, o Ibama ao destacar entre as 65 condições que a Eletronuclear precisa cumprir para obter a licença de instalação de Angra 3 a criação de um depósito definitivo para o lixo atômico. A exigência é mais necessária quando se considera que o Brasil planeja construir outras 4 a 8 centrais nucleares nas próximas décadas.

Espera-se agora que os técnicos da estatal apresentem uma proposta detalhada o mais breve possível. O tema é naturalmente polêmico e deverá enfrentar forte resistência das comunidades próximas ao local do depósito.

O desenvolvimento do país, porém, exige a expansão das matrizes energéticas. É preciso equacionar corretamente todos os prós e contras para tomar a melhor decisão possível.