A maior batalha da Avibras
Fabricante de equipamentos de defesa entra em recuperação judicial.
Como sairá dessa?


RICARDO OSMAN - Isto é dinheiro


CLAUDIO VIEIRA/VALE PARAIBANO

A AVIBRAS AEROESPACIAL, fabricante de equipamentos de defesa, entre estes os sistemas de alta tecnologia de lançamento de foguetes, sofreu um duro golpe em janeiro deste ano: o helicóptero no qual viajavam seu fundador e presidente, João Verdi de Carvalho Leite, e sua mulher, Sônia, desapareceu sobre o mar depois de decolar de Angra dos Reis, no litoral fluminense, para São José dos Campos, sede da companhia. Equipes de resgate não encontraram os corpos até hoje. Sem seu principal comandante, a Avibras, que já enfrentava turbulência, não teve fôlego para vencer dificuldades. E, na segunda-feira 14, reconheceu a gravidade do golpe: a empresa entrou com pedido de recuperação judicial para tentar sobreviver a dívidas que chegam a R$ 500 milhões com a União, o Banco do Brasil, a Previdência, fornecedores e uma firma de comércio exterior. Na ocasião, anunciou a demissão de 350 funcionários, um terço do total. A empresa enfrenta, agora, sua mais dura batalha.

Fundada em 1961, a Avibrás tem 70% do seu capital nas mãos da família Carvalho Leite. O filho do fundador, João Brasil, é quem responde atualmente pela família. Ele indicou para a presidência da empresa Sami Hassuani, executivo de carreira na Avibras. Seu principal desafio é tentar conter a crise. "Fizemos o pedido de recuperação judicial para proteger a empresa, já que a falta de garantia bancária nos impede de concluir uma venda importante", disse Sami Hassuani à DINHEIRO. Ele conta que fechou a venda de sistemas de defesa Astro II (baterias de foguetes) para um país da Ásia, no valor de R$ 500 milhões, mas o cliente exige o aval de um banco privado ou estatal. Hassuani não revela o nome do governo comprador, mas afirma que a salvação da empresa depende desta venda. "Como o contrato é grande e há a crise americana dos créditos subprime, os bancos privados não se interessaram", afirmou Hassuani. "Por isso, estamos recorrendo ao governo brasileiro, mas enfrentamos uma burocracia enorme." Na quarta- feira, dia 16, o presidente da Avibras esteve em Brasília para tentar falar com as autoridades. "Não estamos pedindo dinheiro, mas um aval", disse ele. "O Brasil não pode jogar fora o parque industrial e tecnológico da Avibras." Até o fim da semana passada, ele não obteve uma resposta do governo.

Para especialistas, a crise da Avibras decorre de um modelo de negócio com extrema dependência do governo federal, que é seu cliente e também é quem autoriza ou não vendas para o Exterior. No final dos anos 80, a Avibras enfrentou problemas e pediu concordata, mas seu fundador soube aproveitar a Guerra do Golfo, em 1991, para recuperar as vendas. "A empresa está pagando o preço pela ausência de um projeto de defesa nacional", diz Salvador Raza, diretor do Centro de Tecnologia, Relações Internacionais e Segurança (Cetris), instituto especializado no assunto. Em sua avaliação, o País precisa saber o que quer de empresas como a Avibras, considerada estratégica. "É preciso modernizá- la, torná-la competitiva e transparente. É necessário elaborar um projeto de força que orientará a indústria e definir as regras da relação com o governo", diz Raza. "Sem isso, a empresa corre o risco de fechar as portas. Neste caso, o País vai pagar um preço no futuro em segurança e atraso tecnológico." Outras empresas que vendem equipamentos de defesa, como a Embraer e a Helibras, conseguiram diversificar o portfólio e não dependem tanto do setor bélico. Mas há uma luz no fim do túnel para a Avibras: dia 7 de setembro será lançado em Brasília o Plano Estratégico de Defesa Nacional. Um dos pontos mais importantes é a criação de uma indústria de defesa nacional, com incentivos à produção de armamentos no País. Quem sabe não vem daí munição para a Avibras vencer sua maior batalha.

Colaborou Denize Bacoccina