O presidente falou e foi aplaudido durante a abertura de um seminário, na capital argentina, que reuniu mais trezentos empresários dos dois países – a maioria, no entanto, brasileiros.
Lula comparou relação dos dois países a um casamento e ressaltou a posição geográfica privilegiada do Brasil e da Argentina.
"Por que Deus nos colocou grudados? A gente quando se casa, não é para a mulher olhar para um lado e o homem para o outro. É para estarem juntos", disse.
Segundo Lula, durante muitos anos os dois países olharam, individualmente, para Europa e Estados Unidos e “é hora de avançar conjuntamente”, afirmou.
Relações
A presidente argentina, Cristina Kirchner, que também participou do encontro, voltou a elogiar o potencial industrial brasileiro.
"A Argentina não teve a sorte do Brasil. No Brasil, entenderam a importância de um modelo de continuidade, de acumulação produtiva. Na Argentina, onde ocorreram incertezas políticas, entenderam que nosso país poderia se limitar a ser um país de serviços. Mas esse sistema acabou afetando as nossas instituições", disse.
Cristina destacou ainda a importância da integração com o Brasil e sua "convicção de que as negociações multilaterais sejam conjuntas".
Esta é a primeira visita de Lula ao país vizinho após a pior crise vivida no governo de Cristina, há sete meses no poder.
No mês passado, o Congresso argentino derrubou um imposto sobre as exportações agrícolas que vinha sendo defendido pela presidente e que havia provocado uma queda-de-braço entre a Casa Rosada e o setor ruralista.
Esta também é a décima segunda viagem do presidente brasileiro à Argentina desde que foi eleito, em 2002. A Argentina é o país que Lula mais visitou em seus seis anos de governo.
"O Brasil continua apostando na Argentina, nos seus trabalhadores, em seus empresários e em seu governo", disse o líder brasileiro.
"Não me canso de repetir: juntos seremos mais soberanos (...). Temos um imenso potencial pela frente. Vamos juntar forças para estarmos juntos no cenário mundial", afirmou.
Aliança
A visita do presidente ao país vizinho é feita num momento em que a Argentina acumula 62 meses de déficit na balança comercial com o Brasil e quando os investimentos brasileiros batem recordes e já são o terceiro mais importante do país.
Depois de ler seu primeiro discurso, Lula aproveitou a oportunidade para improvisar e reforçar a importância da relação comercial entre os dois países.
“A corrente de comércio entre Brasil e Argentina cresceu 35% entre janeiro e junho. Se este ritmo for mantido e estou seguro que será, vamos fechar 2008 com o recorde de mais de US$ 30 bilhões de comércio entre os dois países”, afirmou o presidente.
Lula comentou ainda o fracasso das negociações da Rodada de Doha e afirmou que a integração entre os Brasil e Argentina é “decisiva” para a inserção dos dois países na economia mundial.
“A frustração da Rodada de Doha exige que nos metamos em outros tabuleiros, e temos que superar distorções e barreiras ao comércio internacional. Nossa aliança estratégica é a espinha dorsal desse projeto”, afirmou Lula.
A pesquisa revelou que Lula tem 56,1% de imagem positiva e 5,8% de negativa. Em segundo lugar, com quase 20% a menos que o líder brasileiro, aparece a presidente do Chile, a socialista Michelle Bachelet. Ela recebeu 39,6% de positiva e 6,2% de negativa.
"Talvez entre os brasileiros essa percepção não seja a mesma que a que os argentinos têm aqui sobre o Brasil. Mas daqui a visão é a de que hoje o Brasil, presidido por Lula, é o lado oposto da Argentina", disse à BBC Brasil o analista político Jorge Giacobbe, que organizou a pesquisa.
"O Brasil é visto como um país que está mais organizado que a Argentina, com maior previsivibilidade e uma leitura correta do que está ocorrendo no mundo. Para o eleitor argentino, nada disso está ocorrendo na Argentina nesse momento".
O analista político Roberto Bacman, do instituto Ceop, concorda com a visão de que o presidente Lula tem boa imagem entre os argentinos.
"Aqui, Lula tem a imagem de um presidente estável", disse.
Para o analista econômico Dante Sica, da consultoria Abeceb.com, especializada na relação Brasil e Argentina, Lula é hoje "uma autoridade respeitada" na Argentina.
Nos últimos tempos, o Brasil passou a ter destaque na mídia deste país vizinho – seja pelo seu nível recorde de reservas no Banco Central, de investimentos estrangeiros ou pelo grau de investimento (investment grade) que recebeu de agências classificadoras de risco.
A Argentina também acumula reservas recordes na autoridade monetária, mas, como observou, nesta quinta-feira, o ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, o país tem outros problemas.
"Os investimentos estão em baixa e a inflação muito em alta. Nos últimos doze meses, a estimativa é de que ela esteja em torno dos 30%", afirmou.
Oficialmente, este indicador é de cerca de 8%, mas a oposição questiona o dado.
Para os analistas, a "postura" do governo brasileiro frente a seus problemas é entendida como um "diferencial" na Argentina.
No setor político, enquanto a oposição intensifica elogios ao Brasil, parlamentares da situação ressalvam que o "gigante do continente" tem problemas como a desigualdade social.
Na pesquisa de opinião sobre a imagem dos presidentes entre os argentinos, em terceiro lugar está o presidente da Bolívia, Evo Morales, com 29,1% de imagem positiva e 16,8% de negativa.
Em quarto lugar, Tabaré Vázquez, do Uruguai, com 25,2% positiva e 20,8% negativa.
Em quinto, Hugo Chávez, da Venezuela, com 21,1% positiva e 32% de negativa.
Em último lugar, neste ranking, surge o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, com 9,1% de imagem positiva e 60,9% negativa.
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