O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente argentina, Cristina Kirchner.
Kirchner voltou a elogiar o potencial industrial brasileiro

Brasil e Argentina devem conquistar mercados juntos, diz Lula



Em visita à Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta segunda-feira, que os dois países devem “aprofundar a relação comercial” e atuarem juntos para conquistar novos mercados.

O presidente falou e foi aplaudido durante a abertura de um seminário, na capital argentina, que reuniu mais trezentos empresários dos dois países – a maioria, no entanto, brasileiros.

Lula comparou relação dos dois países a um casamento e ressaltou a posição geográfica privilegiada do Brasil e da Argentina.

"Por que Deus nos colocou grudados? A gente quando se casa, não é para a mulher olhar para um lado e o homem para o outro. É para estarem juntos", disse.

Segundo Lula, durante muitos anos os dois países olharam, individualmente, para Europa e Estados Unidos e “é hora de avançar conjuntamente”, afirmou.

Relações

A presidente argentina, Cristina Kirchner, que também participou do encontro, voltou a elogiar o potencial industrial brasileiro.

"A Argentina não teve a sorte do Brasil. No Brasil, entenderam a importância de um modelo de continuidade, de acumulação produtiva. Na Argentina, onde ocorreram incertezas políticas, entenderam que nosso país poderia se limitar a ser um país de serviços. Mas esse sistema acabou afetando as nossas instituições", disse.

Cristina destacou ainda a importância da integração com o Brasil e sua "convicção de que as negociações multilaterais sejam conjuntas".

Esta é a primeira visita de Lula ao país vizinho após a pior crise vivida no governo de Cristina, há sete meses no poder.

No mês passado, o Congresso argentino derrubou um imposto sobre as exportações agrícolas que vinha sendo defendido pela presidente e que havia provocado uma queda-de-braço entre a Casa Rosada e o setor ruralista.

Esta também é a décima segunda viagem do presidente brasileiro à Argentina desde que foi eleito, em 2002. A Argentina é o país que Lula mais visitou em seus seis anos de governo.

"O Brasil continua apostando na Argentina, nos seus trabalhadores, em seus empresários e em seu governo", disse o líder brasileiro.

"Não me canso de repetir: juntos seremos mais soberanos (...). Temos um imenso potencial pela frente. Vamos juntar forças para estarmos juntos no cenário mundial", afirmou.

Aliança

A visita do presidente ao país vizinho é feita num momento em que a Argentina acumula 62 meses de déficit na balança comercial com o Brasil e quando os investimentos brasileiros batem recordes e já são o terceiro mais importante do país.

Depois de ler seu primeiro discurso, Lula aproveitou a oportunidade para improvisar e reforçar a importância da relação comercial entre os dois países.

“A corrente de comércio entre Brasil e Argentina cresceu 35% entre janeiro e junho. Se este ritmo for mantido e estou seguro que será, vamos fechar 2008 com o recorde de mais de US$ 30 bilhões de comércio entre os dois países”, afirmou o presidente.

Lula comentou ainda o fracasso das negociações da Rodada de Doha e afirmou que a integração entre os Brasil e Argentina é “decisiva” para a inserção dos dois países na economia mundial.

“A frustração da Rodada de Doha exige que nos metamos em outros tabuleiros, e temos que superar distorções e barreiras ao comércio internacional. Nossa aliança estratégica é a espinha dorsal desse projeto”, afirmou Lula.


Lula
Lula aparece à frente de Bachelet, Morales, Vázquéz e Chávez

Lula é o presidente com melhor imagem entre argentinos, diz pesquisa



O presidente Lula aparece à frente numa pesquisa de opinião sobre a imagem dos líderes americanos entre os argentinos. O dado surgiu no levantamento realizado pela consultoria Giacobbe e Associados, entre os dias 18 e 25 de julho, a partir de entrevistas feitas nas casas de 1 mil argentinos, que vivem na capital federal, Buenos Aires, e nas províncias de Buenos Aires, a maior do país, Santa Fé, Córdoba, Mendoza, Corrientes e Rio Negro.

A pesquisa revelou que Lula tem 56,1% de imagem positiva e 5,8% de negativa. Em segundo lugar, com quase 20% a menos que o líder brasileiro, aparece a presidente do Chile, a socialista Michelle Bachelet. Ela recebeu 39,6% de positiva e 6,2% de negativa.

"Talvez entre os brasileiros essa percepção não seja a mesma que a que os argentinos têm aqui sobre o Brasil. Mas daqui a visão é a de que hoje o Brasil, presidido por Lula, é o lado oposto da Argentina", disse à BBC Brasil o analista político Jorge Giacobbe, que organizou a pesquisa.

"O Brasil é visto como um país que está mais organizado que a Argentina, com maior previsivibilidade e uma leitura correta do que está ocorrendo no mundo. Para o eleitor argentino, nada disso está ocorrendo na Argentina nesse momento".

O analista político Roberto Bacman, do instituto Ceop, concorda com a visão de que o presidente Lula tem boa imagem entre os argentinos.

"Aqui, Lula tem a imagem de um presidente estável", disse.

Para o analista econômico Dante Sica, da consultoria Abeceb.com, especializada na relação Brasil e Argentina, Lula é hoje "uma autoridade respeitada" na Argentina.

Nos últimos tempos, o Brasil passou a ter destaque na mídia deste país vizinho – seja pelo seu nível recorde de reservas no Banco Central, de investimentos estrangeiros ou pelo grau de investimento (investment grade) que recebeu de agências classificadoras de risco.

A Argentina também acumula reservas recordes na autoridade monetária, mas, como observou, nesta quinta-feira, o ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, o país tem outros problemas.

"Os investimentos estão em baixa e a inflação muito em alta. Nos últimos doze meses, a estimativa é de que ela esteja em torno dos 30%", afirmou.

Oficialmente, este indicador é de cerca de 8%, mas a oposição questiona o dado.

Para os analistas, a "postura" do governo brasileiro frente a seus problemas é entendida como um "diferencial" na Argentina.

No setor político, enquanto a oposição intensifica elogios ao Brasil, parlamentares da situação ressalvam que o "gigante do continente" tem problemas como a desigualdade social.

Na pesquisa de opinião sobre a imagem dos presidentes entre os argentinos, em terceiro lugar está o presidente da Bolívia, Evo Morales, com 29,1% de imagem positiva e 16,8% de negativa.

Em quarto lugar, Tabaré Vázquez, do Uruguai, com 25,2% positiva e 20,8% negativa.

Em quinto, Hugo Chávez, da Venezuela, com 21,1% positiva e 32% de negativa.

Em último lugar, neste ranking, surge o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, com 9,1% de imagem positiva e 60,9% negativa.