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Brasil e Argentina vão criar empresa binacional nuclear

Da Agência Estado Via G1

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner, da Argentina, recebem no dia 6, no Recife (PE), o projeto de uma empresa binacional na área nuclear. Essa instituição atuará, além do enriquecimento de urânio, na produção de radiofármacos, em projetos nas áreas de saúde e agricultura e no desenvolvimento de reatores de pesquisa e tecnologia de materiais. No entanto, ela será criada com a restrição de não abarcará a transferência da tecnologia brasileira de enriquecimento de urânio por centrifugação.

Lançada em fevereiro, essa empreitada comum antecipou-se à definição do novo programa nuclear brasileiro e forçou o governo Lula a travar um ríspido debate interno, ainda sem conclusão. Refratária a qualquer acordo internacional no setor, por temor de ver devassado o segredo da tecnologia que desenvolveu, a Marinha do Brasil informou que não participa de parceria nessa área com o governo argentino. "Não existe qualquer diretriz Brasil-Argentina envolvendo a Marinha do Brasil", limitou-se a responder o Centro de Comunicação da instituição.

A cooperação na área nuclear é o sétimo dos 17 tópicos da diretriz Brasil-Argentina assinada por Lula e Cristina no dia 22 de fevereiro para alavancar a relação bilateral. O texto previu a criação de uma comissão de especialistas argentinos e brasileiros - o Comitê Binacional de Energia Nuclear (Coben) - para desenvolver um modelo de reator nuclear de geração de energia elétrica para atender às necessidades dos dois países. Também determinou a criação de uma empresa binacional de enriquecimento de urânio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Projeto de binacional nuclear está pronto. Mas sem a Marinha

Brasil e Argentina vão criar empresa binacional para enriquecimento de urânio e produção de fármacos

Denise Chrispim Marin - Fonte: Estadão

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner, da Argentina, recebem no dia 6, no Recife (PE), o projeto de uma empresa binacional na área nuclear. Essa instituição não atuará somente no enriquecimento de urânio, como imaginado inicialmente, mas também na produção de radiofármacos, em projetos nas áreas de saúde e agricultura e no desenvolvimento de reatores de pesquisa e tecnologia de materiais. Mas será criada com uma restrição intocável: não abarcará a transferência da tecnologia brasileira de enriquecimento de urânio por centrifugação.

Lançada em fevereiro, essa empreitada comum antecipou-se à definição do novo programa nuclear brasileiro e forçou o governo Lula a travar um ríspido debate interno, ainda sem conclusão. Refratária a qualquer acordo internacional no setor, por temor de ver devassado o segredo da tecnologia que desenvolveu, a Marinha do Brasil informou ao Estado que não participa de parceria nessa área com o governo argentino. “Não existe qualquer diretriz Brasil-Argentina envolvendo a Marinha do Brasil”, limitou-se a responder o Centro de Comunicação da instituição, sete dias depois de o Estado ter solicitado uma entrevista.

A cooperação na área nuclear é o sétimo dos 17 tópicos da diretriz Brasil-Argentina assinada por Lula e Cristina no dia 22 de fevereiro para alavancar a relação bilateral. O texto previu a criação de uma comissão de especialistas argentinos e brasileiros - o Comitê Binacional de Energia Nuclear (Coben) - para desenvolver um modelo de reator nuclear de geração de energia elétrica para atender às necessidades dos dois países. Também determinou a criação de uma empresa binacional de enriquecimento de urânio.

Do seminário, em maio, saiu um plano bem mais ambicioso. “Concluímos que seria mais eficiente criar uma empresa binacional abrangente, voltada não só para o enriquecimento de urânio, mas também para outras oportunidades e necessidades dos dois países e do mercado ampliado da América do Sul nas áreas de saúde, agrícola, de radiofármacos”, afirmou Alfredo Tranjan Filho, um dos participantes do Coben e presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que opera a unidade de enriquecimento de urânio de Resende (RJ). “Esse é o panorama que vamos apresentar (a Lula e Cristina) em setembro, além de 61 outros projetos.”

A idéia tem clara conotação política. Para o Palácio do Planalto e o Itamaraty, essa parceria conferirá maior credibilidade internacional ao caráter pacífico dos projetos brasileiros e à ambição de consolidar o País como um dos provedores mundiais de urânio enriquecido até 2030. Não à toa o Brasil e a Argentina tiveram o cuidado de registrar o projeto de parceria na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em março.

“Trabalhar com a Argentina só fortalece a posição brasileira”, defendeu um técnico do governo. “Se conseguirmos montar com a Argentina uma estrutura de fornecimento de urânio enriquecido, estaremos um passo à frente de potenciais concorrentes.” A mesma fonte argumenta que essa lógica impediu que a diretriz Brasil-Argentina na área nuclear acabasse na gaveta de um gabinete oficial e fosse tocada com celeridade. Nos cálculos do governo brasileiro, entre 12 e 15 centrais nucleares estarão em operação na América do Sul até 2030. Além dos planos de Chile, Uruguai, Peru e Venezuela de instalar centrais nucleares, a Argentina conta hoje com duas usinas em operação (Atucha 1 e Embalse, cuja vida útil deverá ser estendida, a partir de 2011), pretende concluir Atucha 2 até o fim de 2010 e planeja construir outras duas usinas.

O Brasil, segundo Tranjan, mantém Angra 1 e Angra 2, deverá pôr Angra 3 em operação até 2014 e planeja outras seis usinas até 2030. Nos atuais planos brasileiros, o País deverá tornar-se auto-suficiente na produção de combustível nuclear até 2014. Apenas para suprir Angra 1 e Angra 2, o Brasil atualmente importa US$ 15 milhões por ano de urânio enriquecido da européia Urenco.

Diante desses mercados potenciais, o governo brasileiro avalia que vale a pena arcar com o custo de montar uma empresa nuclear com um país (Argentina) cuja tecnologia de enriquecimento é considerada superada, a de difusão gasosa. O modelo por centrifugação, do Brasil, exige 800 kw/h de energia para o enriquecimento de uma unidade de urânio a 5%.