Derrocada das Farc permite missão afegã, diz Colômbia
Fonte: UOL
Bogotá confirma convite para integrar forças da Otan no país centro-asiático Ministro diz que país tem de repensar papel do Exército diante do fim iminente do conflito interno; haiti também está nos planos
DA REDAÇÃO
A Colômbia deseja participar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do haiti, liderada pelo Brasil, e avalia a cooperação com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Afeganistão, confirmou ontem o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos.
"É necessário começar a pensar no pós-conflito [contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Farc] e no papel que as tropas colombianas podem desempenhar em missões de paz em todo o mundo", disse Santos, que confirmou a possibilidade de integração de seus homens ao contingente da Espanha no Afeganistão.
Segundo o presidente Álvaro Uribe, a Colômbia foi convidada a cooperar com a missão da Otan pela experiência militar em campos minados e em erradicação de cultivos ilícitos -o país lidera a produção de cocaína, e o Afeganistão é o principal produtor global de heroína.
Uma delegação de sete oficiais avalia, no Afeganistão, as possibilidades de apoio à aliança militar ocidental na luta contra a insurgência islâmica. Nota do Ministério da Defesa diz que o país tem tido contatos com a Otan e com os governos da Espanha, dos EUA e do Reino Unido para realizar trabalhos coordenados, mas ainda não decidiu se enviará soldados.
Caso o acordo se concretize, a Colômbia será o primeiro país latino-americano a enviar militares ao Afeganistão, num momento em que o Pentágono tenta convencer aliados a aumentarem seus efetivos. Sete anos após a derrubada do regime do Taleban, a insurgência continua ativa, e a média mensal de americanos mortos no Afeganistão supera a do Iraque.
Os EUA têm 36 mil soldados no país da Ásia Central, parte deles fora da bandeira da Otan, que conta com mais de 50 mil militares no Afeganistão.
No passado recente, apenas a Argentina manteve cooperação tão estreita com Washington. Em 1997, o país se tornou aliado extra-Otan dos EUA, numa recompensa pelo alinhamento que marcou a política externa do então presidente Carlos Menem (1989-99).
Era, na expressão cunhada por Guido di Tella, chanceler de Menem, o ápice das "relações carnais" entre a Casa Branca e a Casa Rosada, que tentou sem sucesso integrar plenamente a Otan e foi o único governo da região a envolver-se na Guerra do Golfo (1990-91).
A crise de 2001, que culminou com a queda do presidente Fernando de la Rúa, afastou Buenos Aires de Washington.
No caso colombiano, os bilhões destinados pelo governo George W. Bush ao combate à guerrilha e ao narcotráfico fortaleceram Uribe, que assinou também um Tratado de Livre Comércio com os EUA, pendente de aprovação pelo Congresso americano.
Com agências internacionais
Colômbia cogita enviar tropas ao Afeganistão
País seria o 1º da América Latina a colaborar com forças da Otan em território afegão.
De Caracas para a BBC Brasil - O governo da Colômbia estuda a possibilidade de enviar soldados ao Afeganistão para se incorporarem às operações militares comandadas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que atua no país asiático desde 2003.
Se isso for confirmado, a Colômbia, principal aliado dos Estados Unidos na América Latina, poderá se tornar o primeiro país da região a colaborar com as tropas no Afeganistão.
As Forças Armadas colombianas afirmam que um grupo de militares de alta patente viajou nesta quarta-feira ao Afeganistão para "estudar" a situação e que seus efetivos poderiam atuar juntamente com o contingente do governo espanhol.
"Estamos estudando a possibilidade de incorporar as forças militares da Colômbia como unidades da Otan", afirmou o comandante das Forças Armadas, o general Freddy Padilla de León, de acordo com o jornal El Espectador.
"Existe a possibilidade de que esta (missão) se faça sob a bandeira do governo da Espanha", disse.
Autoridades colombianas afirmam que seus militares atuariam em batalhões especializados para a desativação de minas. Já o jornal espanhol El País disse que os soldados colombianos seriam incorporados às operações de combate às milícias do Talebã.
Missões de paz
O ministro de Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, disse acreditar que seu país - que está submerso em uma guerra civil de mais de 50 anos - pode colaborar com "missões de paz no mundo".
"Acreditamos que é preciso começar a pensar em um cenário pós-conflito (na Colômbia) e no papel que as tropas colombianas podem ter em missões de paz no mundo", disse Santos nesta quinta-feira.
Se for concretizada a cooperação, as tropas poderiam ser enviadas ao Afeganistão no início de 2009, de acordo com os militares colombianos.
A polícia colombiana já treina a efetivos militares afegãos no combate ao narcotráfico em uma base militar localizada no Estado colombiano de Tolima.
Para Marcelo Rech, editor do site Inforel, especializado em assuntos de defesa, as negociações mostram o "quão estreitas" são as relações dos governos da Colômbia e dos Estados Unidos.
"O governo colombiano não colocaria tropas em um país onde não há nenhum interesse cultural ou econômico direto se não fosse pela relação que mantém com os Estados Unidos", afirmou à BBC Brasil.
"Isso dá a dimensão do quão estreitas e fortalecidas estão essas relações", disse Rech.
Os Estados Unidos financiam desde 2000 o Plano Colômbia, para combater o narcotráfico, e auxiliaram o governo colombiano com informações de inteligência e aviões de espionagem durante a "Operação Xeque", que resgatou 15 reféns que estavam em poder do grupo rebelde Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), entre eles a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt.
Conselho de Defesa
Na avaliação de Expedito Carlos Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), esta aliança militar com a Otan contraria o projeto do Conselho Sul-americano de Defesa, encabeçado pelo Brasil.
"Enquanto Brasil, Argentina e outros países pretendem se afastar dos Estados Unidos, formando seu próprio Conselho, a Colômbia caminha para o lado oposto", afirmou Bastos à BBC Brasil.
O Afeganistão foi ocupado em 2001 por uma coalizão de tropas liderada pelos Estados Unidos, que derrubaram o governo comandando pela milícia Talebã, no marco da campanha de "combate ao terrorismo".
Em 2003, a Otan passou a operar no país. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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