EUA, Índia e China derrubam Doha
Conflito entre ?novas? e ?velhas? potências impede acordo para liberalização do comércio internacional
Jamil Chade, GENEBRA
Fonte: Estadão
O Brasil tentou até o último minuto mediar uma solução, mas não conseguiu convencer os parceiros a aderir ao pacote e um acordo agora poderá ser retomado, na melhor das hipóteses, em 2010. Os americanos recusaram-se a fazer concessões para tentar acomodar os interesses dos emergentes e o presidente George W. Bush concluirá o mandato sem o acordo comercial. Para os demais ministros, faltou vontade política, sobretudo de Washington, Nova Délhi e, de certa forma, de Pequim.
"Vai levar anos para que as pessoas voltem a negociar", afirmou o chanceler Celso Amorim, visivelmente chateado diante do resultado. "É um fracasso coletivo", definiu o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson.
Países ricos e pobres apostavam na Rodada Doha como forma de mandar um sinal positivo à economia mundial, em plena crise. Para ministros e para a própria OMC, a idéia era de que a conclusão do processo abriria novos mercados e reduziria as distorções. Agora, o fiasco é considerado um sinal negativo para a economia mundial. "Esse fracasso é doloroso e terá um impacto negativo para a economia global", afirmou Mandelson.
A rigor, a Rodada Doha não acabou definitivamente e outras rodadas também acabaram adiadas no passado. Mas, desta vez, a crise pode ser bem mais profunda, já que o acordo redesenharia a estrutura do comércio diante das novas potências emergentes. A Rodada Doha poderia ser retomada pelos governos e mesmo o conteúdo que se negociou poderia ser preservado. Mas poucos acreditam que isso possa ocorrer no curto ou médio prazo.
"A vida continua. Não está sob nossas capacidades manter o que conseguimos até agora intacto. Não vamos nos iludir. Crises ocorrerão no mundo e os interesses protecionistas vão aumentar", alertou Amorim.
Em jogo, porém, não estavam apenas as tarifas de frango ou têxteis, mas uma nova fase da globalização, baseada não apenas em duas potências, mas em uma constelação. Não por acaso, o grupo formado para tentar um acordo incluía tradicionais potências, como EUA, UE e Japão, mas também Brasil, China e Índia. "Perdemos a possibilidade de fechar o primeiro pacto de uma ordem global redesenhada", lamentou Mandelson.
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