O Brasil precisa ter um escudo de defesa forte para poder traçar um caminho rebelde e "defender a possibilidade de dizer não" ao mundo, afirmou o ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, em entrevista à BBC Brasil sobre o Plano Nacional de Defesa.
"Eu prego a rebeldia, a afirmação vigorosa da nossa originalidade coletiva", afirmou o ministro. "Em vez de fazer o que os americanos dizem, façamos o que eles fizeram, que foi rebelar-se contra as potências da época em que emergiram. Para que tudo isso aconteça, precisamos de escudo."
"Gostaria que os inimigos da estratégia de defesa apontassem um único caso na história do mundo de um país grande que conseguisse se engrandecer ou afirmar um caminho original e rebelde sem um escudo forte de defesa", acrescentou. "Não há nenhum caso, não existe isso."
O PAC da Defesa ou, nas palavras de Mangabeira, "a mais ambiciosa proposta de reconstrução das Forças Armadas da história do país", foi apresentado nesta semana para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A divulgação nacional estava inicialmente prevista para o feriado de 7 de setembro, mas foi adiada.
O documento foi elaborado pelo Comitê Ministerial de Formulação da Estratégia Nacional de Defesa, coordenado por Mangabeira Unger e presidido pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Ao encomendar o plano, há um ano, Lula pediu que o comitê formulasse uma estratégia nacional de defesa que ao mesmo tempo reafirmasse a soberania nacional e promovesse o desenvolvimento econômico e tecnológico do país.
Reorientação
Estruturado em três vertentes, o plano prevê a definição das grandes opções estratégicas, da doutrina das Forças Armadas e, em função dessa reorientação, a reconstrução da indústria nacional de defesa (privada e estatal) e a discussão do serviço militar obrigatório.
Na vertente da reorientação, o plano prevê um monitoramento do território "que não dependa de tecnologias estrangeiras", uma hipermobilidade dos militares e a defesa das fronteiras de maneira integrada.
Para Mangabeira, há duas questões essenciais em jogo: qual é o nível das ambições brasileiras e que preço o país está disposto a pagar por isso - a começar, pelo orçamento.
Estruturado em três vertentes, o plano prevê a definição das grandes opções estratégicas, da doutrina das Forças Armadas e, em função dessa reorientação, a reconstrução da indústria nacional de defesa (privada e estatal) e a discussão do serviço militar obrigatório.
Na vertente da reorientação, o plano prevê um monitoramento do território "que não dependa de tecnologias estrangeiras", uma hipermobilidade dos militares e a defesa das fronteiras de maneira integrada.
Para Mangabeira, há duas questões essenciais em jogo: qual é o nível das ambições brasileiras e que preço o país está disposto a pagar por isso - a começar, pelo orçamento.
"Nada disso será possível sem aumento da parte do PIB (Produto Interno Bruto) que o Brasil dedica à Defesa", afirma o ministro.
"O Brasil gasta 1,5%, terá que gastar muito mais para ter um escudo sério de defesa, está muito abaixo da média dos países, grandes, ricos ou pobres, e das chamadas potências médias ou regionais."
Sacrifício
Mangabeira afirma que a "moeda da defesa é o sacrifício" - de recursos e "na última instância, de vidas". Segundo o ministro, o Brasil também tem que repensar a composição das suas Forças Armadas ou, na prática, se quer tornar o serviço militar formalmente obrigatório realmente obrigatório.
Ele diz haver um consenso entre as lideranças civis e militares sobre a conveniência de manter ou aprofundar a obrigatoriedade, mas ressalta que é preciso conciliar isso com as exigências do profissionalismo nas Forças Armadas.
"Não estamos propondo o aumento do número de efetivos", afirmou. "Estamos propondo capacitá-los, mas uma possibilidade seria as Forças Armadas escolherem quem elas querem, em vez de permitir apenas que sirvam só os que querem servir."
"Temos de decidir se queremos Forças Armadas formadas só por jovens trabalhadores pobres, ou se queremos que representem o país", acrescentou. "Esta é uma decisão para a nação, não só para o governo. É a nação que terá que acalentar o sacrifício."
O ministro diz já prever críticas apontando desperdício de recursos ou a abertura de uma corrida armamentista, mas diz que as considera importantes para detonar um debate nacional sobre a defesa.
"Nenhuma estratégia nacional de defesa vai perdurar apenas por decisão de um presidente, só perdura se abraçada pela nação", disse o ministro. "O que importa agora é uma obra de conscientização nacional a respeito da defesa, e essa obra vai ser fornada pela polêmica que eu espero que se instaure."
Fonte: Estadão
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