Entra em funcionamento colisor de partículas na Suíça
Primeiro feixe de partículas foi injetado às 4h30; minutos depois, foi realizada uma segunda tentativa
Agências internacionais - Via Estadão
SÃO PAULO - Pesquisadores do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) iniciaram, às 9h30 desta quarta-feira, 10, horário de Genebra (4h30 em Brasília) a ativação do LHC, o maior e mais caro experimento de Física de todos os tempos. Num túnel de 27 km de circunferência, 100 metros abaixo do solo na fronteira entre França e Suíça, o primeiro feixe de partículas foi injetado no Grande colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês). Alguns minutos depois, foi realizada uma segunda tentativa de injetar feixes de prótons, informaram responsáveis do CERN.
O objetivo desta quarta-feira é conseguir que as partículas dêem uma volta completa no enorme túnel de 27 quilômetros do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), antes de realizar experimentos com colisões de prótons para tentar identificar novas partículas elementares.
A evolução dos testes ainda é desconhecida, reconheceu Lyn Evans, diretor do projeto do LHC, que disse que "não é possível saber quanto tempo será necessário" para fazer com que os prótons circulem de maneira estável.
O primeiro lançamento de partículas no acelerador foi no sentido horário, disse Evans. "Vamos ter de comprovar que cada um dos elementos da máquina funciona", acrescentou.
Nesta terça-feira não serão realizados lançamentos em sentidos opostos, por isso não ocorrerão colisões de partículas.
Após este primeiro teste, será possível saber se o maior acelerador de partículas do mundo funciona, mas os primeiros choques de prótons não acontecerão pelo menos nos próximos meses.
Se tudo der certo, o LHC terá os feixes circulando em ambos os sentidos a uma energia de 450 GeV (bilhões de elétron-volts, unidade usada para medira energia de partículas elementares), ainda bem abaixo de sua energia máxima, 7 TeV (trilhões de elétron-volts).
Ainda nesse ano, o sistema de aceleradores do LHC deverá elevar a energia até 5 TeV para, a partir de 2009, começar a operar na energia máxima projetada. Quando isso acontecer, os cientistas começarão a reunir dados que, nos próximos anos, poderão levar à confirmação - ou derrubada - de ousadas previsões teóricas, como a existência de partículas até hoje não observadas e de dimensões ocultas no espaço-tempo.
As energias do LHC
Energias de 7 trilhões de elétron-volts parecem um bocado, mas o elétron-volt é uma unidade especialmente pequena: uma lâmpada de 100 W emite 100 quintilhões de elétron-volts - ou milhões de vezes mais energia que um próton acelerado à energia máxima do LHC - a cada segundo. O que torna o experimento tão excepcional, então?
O físico Sérgio Novaes, do Instituto de Física da Unesp, que tomou parte do projeto de um dos detectores do acelerador, explica que no LHC circularão feixes contendo, cada um, 2.808 aglomerados de prótons, cada aglomerado com centenas de bilhões de partículas, cada partícula com a energia individual de 7 TeV.
A energia acumulada em um só feixe é da ordem de 400 milhões de joules, ou pouco menos que o consumo mensal médio de uma residência no Brasil.
Outro fator importante é a concentração da energia em um espaço muito pequeno. "Estamos procurando investigar distâncias muito menores que os prótons ou nêutrons", diz Novaes.
Dividindo a energia de um único próton a 7 TeV pela área efetiva das colisões que ocorrerão no acelerador, o resultado é uma energia por metro quadrado que chega a ser um quatrilhão de quatrilhões de vezes maior que a transferida para a bola durante o chute de um jogador de futebol profissional.
(Colaboraram Carlos Orsi, do estadão.com.br; e Jamil Chade, de O Estado de S.Paulo)
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Para Hawking, acelerador de partículas não ameaça a Terra
Fonte: BOL
O físico britânico Stephen Hawking afirma que não há perigo de que, ao ser acionado nesta quarta-feira, um gigantesco acelerador de partículas construído sob os Alpes suíços possa criar um buraco negro capaz de engolir o planeta (e o resto do sistema solar) em questão de minutos - como temem alguns cientistas.
O acelerador, construído pela Organização Européia para Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) em um laboratório subterrâneo na fronteira franco-suíça, perto de Genebra, foi batizado de LHC (sigla em inglês de Large Hadron Collider - Grande Colisor de Hádrons). O equipamento é o maior e mais complexo instrumento científico já construído, e também o mais caro - com um custo estimado em US$ 8 bilhões. O teste será transmitido ao vivo, pela Internet, no site da Cern.
O LHC foi projetado para atirar partículas de prótons umas contra as outras quase à velocidade da luz. Os cientistas esperam que a liberação maciça de energia causada pelo choque das partículas seja capaz de recriar as condições que existiam no universo imediatamente após o Big Bang.
Buraco negro
Temerosos, grupos de cientistas foram duas vezes a tribunais europeus tentar impedir o acionamento do aparelho. Mas, em entrevista à BBC, Hawking - um dos físicos mais respeitados do mundo - afirma que o experimento não representa perigo.
"Se as colisões no LHC criarem um micro buraco negro, e isso é pouco provável, ele apenas evaporará novamente, produzindo padrões característicos de partículas", disse o físico.
"Colisões com essas, e ainda maiores, quantidades de energia ocorrem milhões de vezes por dia na atmosfera da Terra e nada terrível acontece", acrescentou. Físicos esperam que o LHC ajude a resolver algumas das questões mais fundamentais sobre a natureza do mundo, revelando os segredos da chamada matéria escura.
Partícula 'Deus'
Uma das questões que despertam maior expectativa diz respeito à partícula de Higgs, também conhecida como "partícula Deus", a mais procurada pelos físicos.
Cientistas acreditam que ela dê massa a tudo o que existe, e encontrá-la seria crucial para a nossa compreensão do universo. Hawking, no entanto, diz ter apostado cem libras (cerca de US$ 170) que o acelerador não vai encontrá-la.
"Acho que vai ser muito mais interessante se não encontrarmos (a partícula de) Higgs. Isso vai mostrar que algo está errado, e que precisamos pensar de novo", afirmou. "Fiz uma aposta de cem libras que não vamos encontrar a Higgs." Na opinião de Hawking, o LHC também pode ajudar na identificação de partículas que os físicos chamam de "super-parceiros", ou "parceiros supersimétricos" para as partículas que conhecemos hoje.
"Sua existência seria uma confirmação importante da Teoria da Corda, e elas podem compor a misteriosa matéria escura que mantém as galáxias juntas", afirma o físico britânico.
"O que quer que o LCH encontre, ou não encontre, os resultados vão nos dizer muito sobre a estrutura do universo", acrescentou. "O LHC vai aumentar quatro vezes a energia com que podemos estudar interações entre partículas."
Altos custos
Na entrevista à BBC, Stephen Hawking também rebateu as críticas dos que reclamam dos altos custos do projeto. "Ao longo da história, as pessoas têm estudado ciência pura por causa de um desejo de conhecer o universo, mais do que por aplicações práticas, ou ganhos comerciais", afirma o físico. "Mas suas descobertas mais tarde trouxeram grandes benefícios práticos." "É difícil ver um retorno econômico da pesquisa do LHC, mas isso não significa que não haverá algum", acrescentou.
Quando perguntado se seria capaz de escolher entre o LHC ou o programa espacial, Hawking disse que seria o mesmo que escolher "qual dos filhos escolher para o sacrifício".
"Tanto o LHC como o programa espacial são vitais para que a raça humana não se embruteça e, finalmente, morra", afirma o físico. "Juntos, eles custam menos do que 0,1% do PIB mundial." "Se a raça humana não puder sustentar isso, não merece o epíteto 'humana'", comparou Hawking.
Universos Paralelos
Cientistas tem comentado, embora com cautela, que os experimentos da CERN estão se aventurando pelo terreno da ficção científica especulativa: universos múltiplos, mundos paralelos e buracos negros no espaço funcionando como elos entre esferas diferentes de existência.
Hawking afirma que um universo paralelo pode ser muito diferente do que o que conhecemos. "De acordo com a idéia da soma de histórias, de Richard Feynman, o universo não apenas tem uma única história, como poderíamos pensar, mas tem todas as histórias possíveis, cada uma com seu proprio peso", diz o físico.
"Algumas dessas histórias conterão criaturas como eu, fazendo coisas diferentes, mas a vasta maioria das histórias será muito diferente." Prêmio Nobel Em 1974, Stephen Hawking defendeu a idéia de que devido a efeitos quânticos, buracos negros primordiais criados durante o Big Bang poderiam "evaporar" por um processo hoje chamado de Radiação Hawking, em que partículas de matéria seriam emitidas.
De acordo com esta teoria, quanto menor o tamanho do micro buraco negro, mais rápido o índice de evaporação, resultando em explosões repentinas de partículas.
No passado, Hawking fez piadas e chegou a dizer que se o LHC realmente criasse buracos negros, e mesmo se eles durassem muito pouco tempo, isso poderia lhe valer um prêmio Nobel. Hoje, no entanto, o físico britânico diz não acreditar que isso seja iminente.
"Se o LHC produzisse pequenos buracos negros, não penso que haja qualquer dúvida de que eu ganharia um prêmio Nobel, se eles mostrassem as propriedades que eu prevejo", afirma Hawking.
"No entanto, acho que a probabilidade de que o LHC tenha energia suficiente para criar buracos negros é menor do que 1%", acrescentou. "Então, não estou contando com isso."
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