Rússia e Venezuela
estreitam laços militares
O porta-voz da Marinha da Rússia, capitão de navio Igor Digalo, anunciou que navios russos farão manobras conjuntas com embarcações venezuelanas em águas do Atlântico.
Pouco antes, o representante oficial do Ministério de Exteriores, Andrei Nesterenko, informou que a Rússia enviará, provisoriamente, aviões a uma base aérea venezuelana, cujo nome não especificou.
Nesterenko disse que os navios que participarão da travessia são o cruzeiro nuclear "Piotr Veliki" e a fragata anti-submarino "Admiral Chabanenko", uma embarcação de resgate e um navio-cisterna.
Na véspera, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou a visita de uma frota naval russa à Venezuela em "finais de novembro ou dezembro", e destacou a possibilidade de manobras conjuntas com a Marinha venezuelana.
No sábado, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, expressou a irritação de Moscou com a presença de navios da Otan em águas do Mar Negro, os quais acusou de fornecer armamento à Geórgia sob a bandeira de assistência humanitária.
Os Estados Unidos, que consideram a Geórgia seu principal aliado no Cáucaso, anunciaram que destinarão US$ 1 bilhão a um plano de assistência humanitária a Tbilisi para a recuperação da economia do país, após o recente conflito armado com a Rússia pela Ossétia do Sul.
Para Dmitri Orlov, diretor da Agência de Comunicações Políticas e Econômicas, "os planos de cooperação militar com a Venezuela significam que a Rússia aumentará sua influência e possivelmente, na medida do possível, sua presença militar em diferentes regiões do mundo".
"A crescente atividade da Rússia neste sentido não significa que Moscou vá desenvolver uma política antiamericana agressiva. Simplesmente, a Rússia dará os passos que considerar necessários para a defesa de seus interesses geopolíticos", disse Orlov, citado pelo jornal digital "Newsru.com".
Rússia vai estacionar na Venezuela aviões anti-submarinos
Da France Presse - Via G1
MOSCOU, 8 Set 2008 (AFP) - A Rússia estacionará temporariamente na Venezuela aviões de ataque contra submarinos, afirmou nesta segunda-feira o porta-voz do ministério russo das Relações Exteriores, Andrei Nesterenko.
Da Reuters - Por Conor Sweeney - (Reportagem adicional de Dmitry Solovyov) - Via G1
MOSCOU (Reuters) - A Rússia anunciou na segunda-feira que enviará um poderoso cruzador movido a energia nuclear para as águas do Caribe a fim de realizar um exercício naval com a Venezuela, anunciando assim suas primeiras manobras de grande escala a serem realizadas às portas dos EUA desde a Guerra Fria.
Autoridades russas negaram que a missão tenha qualquer relação com a presença de navios de guerra norte-americanos no mar Negro, mas reconheceram que as manobras ocorrerão em um momento de nervos à flor da pele nas relações entre os EUA e a Rússia por causa do conflito na Geórgia.
O governo russo criticou os norte-americanos por enviarem um navio de comando militar e duas outras embarcações para a Geórgia a fim de distribuir material de ajuda ali e dar mostras de apoio ao presidente georgiano, Mikheil Saakashvili, depois de a Rússia ter colocado seus soldados dentro do país vizinho.
O presidente russo, Dmitry Medvedev, perguntou no sábado como os EUA se sentiriam se "nós enviássemos ajuda humanitária para o Caribe usando a nossa Marinha".
Andrei Nesterenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, disse na segunda-feira que a missão naval para a Venezuela incluiria o cruzador movido a energia nuclear "Pedro, o Grande," um dos maiores navios de guerra do mundo.
O destróier mais moderno dos russos, o "Almirante Chabanenko", também rumará para o Caribe junto com outras embarcações, entre as quais um navio-tanque, acrescentou.
O exercício naval, que deve ocorrer em novembro, contará com o apoio de aviões anti-submarino estacionados na Venezuela, disse.
A Rússia negou que a manobra seja algum tipo de retaliação pelo fato de os EUA terem enviado navios de guerra para a Geórgia.
"Estamos falando sobre um evento planejado que não tem ligação com as circunstâncias políticas atuais e que não está de forma nenhuma relacionado ao que ocorreu na Geórgia", afirmou o porta-voz em uma entrevista coletiva. Os exercícios "não serão direcionados contra os interesses de outros países."
Os navios participarão de "manobras conjuntas, exercícios de busca e resgate além de rotinas de comunicação", afirmou Igor Dygalo, porta-voz da Marinha russa, em um comunicado. Dygalo acrescentou que o exercício está sendo planejado há um ano.
O "Pedro, o Grande" é uma embarcação imponente e fortemente armada que carrega tanto mísseis terra-terra quanto cerca de 500 mísseis terra-ar, segundo Jon Rosamund, editor da revista Jane's Navy International, especializada nessas questões.
"No papel, trata-se de um navio imensamente poderoso", afirmou. "Não temos muita certeza sobre se isso é uma demonstração de força ou se representa de fato uma alternativa operacional viável naquela região", disse Rosamund.
"Esses navios possuem muito mais poder, em teoria, do que os destróiers norte-americanos que foram para o mar Negro, mas é difícil comparar o poderio de cada um", afirmou o editor. "A Marinha russa deseja ser vista atuando em vários palcos de operação do mundo."
visitará a Venezuela
Decisão de enviar navios seguiu-se a abertura por parte de Chavez
ÁREA MILITAR
Quando em Agosto o presidente da Venezuela Hugo Chavez declarou que se uma esquadra russa chegasse a um porto da Venezuela seria recebida de braços abertos já teriam sido acertados os detalhes da visita.
Na altura alguma imprensa chegou a noticiar que a Rússia colocaria uma base naval na Venezuela, o que foi desmentido pelo presidente venezuelano.
Embora a notícia sobre a base militar não se confirmasse, a possibilidade de uma esquadra russa visitar a Venezuela foi agora confirmada com o anuncio de que pelo menos quatro navios, dois deles da esquadra russa do Mar do Norte deverão visitar o Caribe em Outubro.
O principal navio da esquadra será o cruzador Piotr Velikiy ou «Pedro o Grande» em russo. Trata-se do único navio do tipo que está operacional na marinha da Rússia de um total de 5 navios construídos.
Ao contrário do que foi noticiado pela imprensa generalista, nenhum dos navios russos transportará qualquer armamento nuclear, uma vez que a marinha russa assumiu o compromisso de não colocar armamentos nucleares nos seus navios, embora ainda recentemente tenha afirmado que poderia voltar a fazê-lo.
A confusão, reside no facto de o cruzador «Pedro o Grande» ser movido a energia nuclear, pelo que como os porta-aviões norte-americanos é um navio com propulsão nuclear, embora não transporte mísseis equipados com ogivas nucleares.
Comentadores russos afirmaram que a Rússia não pode enviar para a Venezuela o seu único porta-aviões, porque o navio (que chegou a ser apontado como estando a caminho da Síria) está neste momento em estaleiro, onde deverá ficar até pelo menos Abril de 2009.
Além do cruzador de 27.000 toneladas, deverão ser enviados junto, um contra-torpedeiro e duas fragatas, embora ainda não sejam conhecidos detalhes exactos sobre a constituição da força.
Embora a sua passagem pelas águas das Caraíbas tenha sido determinada já há algum tempo, a visita dos navios russos é tida como um desafio para com os Estados Unidos.
A visita terá acima de tudo a função de «mostrar bandeira» e servirá para – junto da Opinião Pública russa – reforçar a imagem de líder forte que é cultivada por Vladimir Putin.
De resto, se durante a guerra-fria a frota soviética nunca esteve à altura da frota norte-americana, presentemente é ponto assente que a frota da Rússia é apenas uma sombra do que foi a frota da União Soviética.
Não é conhecida qualquer reação por parte dos Estados Unidos, não sendo mesmo previsível que venha a ser tomada qualquer decisão relativamente a esta questão. Navios norte-americanos estarão também em exercícios no Caribe no final de 2009.
Editorial ESTADÃO - Manobras no Mar do Caribe
A crispação das relações entre Moscou e Washington, desde a invasão russa da Geórgia e o reconhecimento da independência dos enclaves separatistas georgianos da Ossétia do Sul e Abkházia, veio a calhar para o “arruaceiro” latino-americano Hugo Chávez. Com toda a probabilidade, o surgimento da primeira grande crise diplomática em duas décadas envolvendo a Rússia e os Estados Unidos foi o que induziu o governo do presidente Dmitri Medvedev e do primeiro-ministro Vladimir Putin a embarcar, afinal, na insistente proposta do venezuelano para a efetivação do exercício naval conjunto aprovado em julho último, quando Chávez esteve em Moscou. Ele festejou à sua moda a operação prevista para novembro. “Chorem, ianques”, divertiu-se, ao anunciar a manobra em seu impagável programa de televisão, “Alô, presidente” - onde ele costuma jogar o seu videogame preferido: “O rato que ruge.”
Já os russos trataram de desvincular dos acontecimentos recentes a decisão de enviar para o Caribe quatro belonaves e uma força estimada em mil homens, além de um número indeterminado de aviões anti-submarinos a pousar na Venezuela - a primeira aparição Militar russa na área desde o fim da guerra fria. “Essa é uma operação planejada, sem conexão com eventos políticos atuais ou com a situação no Cáucaso”, disse um porta-voz do governo russo. “De nenhum modo os exercícios serão dirigidos contra os interesses de um terceiro país.” Mas, uma semana antes, Putin advertira que Moscou responderia “com calma” à movimentação de navios de guerra americanos no Mar Negro. Um deles, trazendo ajuda humanitária, atracou no Porto de Poti, na Geórgia, ainda não desocupada pelos invasores.
É provocação contra provocação, portanto - mas, do lado russo, não apenas isso. A nave capitânia da esquadra a zarpar para o Caribe será uma das maiores e mais bem equipadas embarcações de combate do mundo, o cruzador Pedro, o Grande, de propulsão nuclear. Moscou despachará também um contratorpedeiro. A intenção é demonstrar que a Marinha russa recuperou o seu poderio e não está confinada às suas águas territoriais. É de notar, a propósito, que a primeira reação americana à confirmação do exercício tenha sido sarcástica. “Se a Rússia realmente pretende enviar uma esquadra ao Caribe”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, “isso significa que eles conseguiram encontrar algumas embarcações capazes de ir tão longe.”
Mas o comentário relevante saiu do Pentágono, para explicar por que o governo dos Estados Unidos não está preocupado com a presença Militar russa na sua vizinhança. “Fazemos esses exercícios em todo o mundo e realizamos manobras conjuntas com diversas nações”, tranqüilizou um porta-voz. “Outras fazem o mesmo.” De fato, descontadas as bazófias do histriônico caudilho bolivariano e a obsessão de Putin-Medvedev com a projeção mundial de seu país, a manobra no Caribe não tem significado estratégico nenhum. Não muda a relação de forças entre os Estados Unidos e a Rússia no plano Militar nem representa um fator de agravamento das tensões provocadas pela escalada de Moscou no Cáucaso.
Chávez considera a Rússia “um parceiro estratégico”, para dar verossimilhança à sua versão do “Rato que ruge”, mas a recíproca talvez não seja verdadeira, salvo na retórica. Por mais que agrade a Moscou a sabuja russofilia do venezuelano - que se apressou a reconhecer também a independência das duas províncias georgianas - e por mais que lhe convenha cultivar um cliente de US$ 4,5 bilhões da sua indústria bélica, o Kremlin ficará longe de fazer coro com o antiamericanismo primário do caudilho de Caracas. O princípio determinante da política externa russa é o da preservação da suas históricas esferas de influência. Vista de Moscou, a causa primeira do confronto com os Estados Unidos são as iniciativas do governo Bush de minar os interesses russos no seu entorno - na Ucrânia, nos países bálticos e na Geórgia, promovendo, por exemplo, a sua filiação à OTAN.
Nem mesmo a acrimônia e o espírito de retaliação palpáveis hoje em dia no governo russo o levarão a se irmanar a Chávez - algo muito diferente de servir-se dele para marcar presença na América Latina, como sinal dos novos tempos.
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