OPERAÇÃO EICHE (OAK) - ITÁLIA - 1943
Fonte: Site Tropas de Elite
No dia 24 de julho de 1943, exatamente duas semanas após o desembarque Aliado na Sicília, o Grande Conselho Fascista Italiano se reunia pela primeira vez, desde dezembro de 1939. Tomando uma decisão sem precedentes, seus membros produziram um documento, pedindo a renúncia de Benito Mussolini. O ditador italiano, agora uma figura enormemente impopular, não teve outra alternativa se não concordar com o pedido do conselho, e o Marechal Pietro Badoglio foi indicado líder do governo em seu lugar.
Inicialmente, Badoglio estimulou o povo italiano a continuar lutando, mas a pressão era tão grande, que logo viu-se obrigado a assinar um armistício com os aliados, no dia 8 de setembro de 1943, vinte e quatro horas após a tomada de Salerno pelas tropas aliadas. No mês seguinte, o governo de Badoglio declarava guerra à Alemanha.
Na verdade os alemães não foram pegos de surpresa por esta decisão, e reagiram rapidamente, com a costumeira velocidade e vigor, enviando tropas, especialmente pára-quedistas, e equipamentos para ocupar o flanco sul da Europa que estava desprotegido.
Para Adolf Hitler, entretanto, a deserção italiana apresentava um problema de natureza pessoal e imediata. O Führer determinou que o Duce, seu velho amigo e companheiro de muitas lutas, fosse imediatamente resgatado das garras do novo regime italiano.
Mussolini fora colocado sob custódia protetora e era constantemente transferido de um lugar secreto para outro. Monitorar seu paradeiro e planejar um resgate efetivo não seria tarefa fácil. Hitler então, reuniu-se com seis experientes oficiais no seu Quartel General, na Toca do Lobo no interior da floresta de Prússia Oriental, para escolher o homem mais adequado para a missão.
O oficial escolhido foi um conterrâneo austríaco seu. Tendo mais de 1,80m, de complexão atlética e com cicatrizes de combates de esgrima na face, o SS-Haupturmfüher (Capitão) Otto Skorzeny, foi o escolhido. Ele havia servido na 1ª Divisão Panzer SS na Rússia, e agora estava em Friedenthal, próximo a Berlim, onde comandava uma unidade de voluntários SS, semelhante aos Commandos britânicos, que estava sendo treinada para operações especiais atrás das linhas inimigas. Após a reunião Skorzeny se reuniu por muito tempo com Dollman, representante das SS, Kappler, chefe da polícia alemã, e vários oficiais da Gestapo.
Inicia-se as buscas
Embora fosse o representante pessoal de Hitler na busca por Mussolini, Skorzeny não possuía mais de 70 homens, ou seja, 60 oficiais e soldados de Friedenthal e 10 oficiais bastante experimentados em inteligência. Toda essa estrutura era nada diante da grande tarefa de encontrar Mussolini, por isso Skorzeny recebeu toda ajuda necessária do General Kurt Student, comandante dos pára-quedistas alemães, que tecnicamente comandaria a operação de resgate e cuja tropa pára-quedista fora alertada para participar da ação de resgate do deposto líder italiano. Apesar de Student ser o "comandante", Hitler deixou bem claro que era de Skorzeny a responsabilidade de resgatar Mussolini sob quaisquer condições, pois muitos consideravam Student "cavalheiresco demais" para esta missão.
O grosso da força operacional do XI Fliegerkorps havia sido retirado do front russo no final da primavera de 1943, sendo reposicionado no sul da França, onde estariam bem colocaados como reserva móvel, pronta para responder a um futuro movimento aliado no Mediterrâneo. Com suas forças derrotadas no Norte da África, os alemães esperavam que os aliados invadissem a Sardenha ou a Sicília, como de fato aconteceu. Ao mesmo tempo em que os He-111 rebocavam os Go-242, transportando homens e equipamentos da 1ª Divisão Aeroterrestre da Luftwaffe para a Sicília, a aeronave do General Kurt Student, levando Skorzeny, decolava do QG de Hitler na Prússia Oriental em direção a Roma, onde o Duce havia desaparecido há 72 horas. Skorzeny, chegou a Roma disfarçado de assistente do general Student, para não chamar atenção. Logo ele e seus homens começaram a buscar informações sobre o paradeiro de Mussolini, e apesar de inúmeras informações falsas, alguns detalhes começaram a aparecer.
Os alemães descobriram que o Duce fora inicialmente mantido sob a custódia dos Carabinieri em Roma, antes de ser levado para a Ilha de Ponza. Daí, foi transportado de navio para a base naval de La Spezia. Com essas informações, Skorzeny recebeu ordens de Hitler para abordar o navio que transportava o Duce e resgatar o ditador italiano. A operação já estava sendo preparada, quando novas informações chegaram dizendo que Mussolini fora transferido para uma pequena vila na Sardenha, a Villa Kern, perto do porto fortificado de La Maddalena, numa pequena ilha a menos de cinco quilômetros ao nordeste da Sardenha.
O local onde estava o Duce era protegido por uma forte guarnição, apoiada por baterias AAe. Numa tentativa de confirmar esta informação, Skorzeny organizou um reconhecimento aéreo na região, mas a aeronave foi interceptada e abatida por caças ingleses. Todos a bordo do He 111 sobreviveram a aterrissagem no mar, porém Skorzeny teve três costelas quebradas.
O almirante Wilhelm Canaris, Chefe do Serviço Militar de Inteligência alemão (Abwehr), afirmava categoricamente que Mussolini estava na ilha da Elba e não em La Maddalena. Diante desta informação que Skorzeny achava pura tática de cortina fumaça, pois ele não confiava em Canaris, o oficial das SS conseguiu por intermédio de Student, uma audiência de urgência com Hitler para confirmar que Mussolini estava mesmo em La Maddalena. Da reunião participou um pequeno grupo de generais importantes e Skorzeny teve sucesso em convencer Hitler da sua versão.
Desta forma Skorzeny recebeu então autorização para preparar um ousado ataque ao porto utilizando uma flotilha de R-Boote, velozes lanchas a diesel, e vários caça-minas que transportariam os seus homens. Com o apoio de fogo dos R-Boote, que já estariam ancorados na ilha, os SS Commandos de Skorzeny desembarcariam dos caça-minas e envolveriam a guarnição italiana. Um grupo especial comandado por Skorzeny iria diretamente para a Villa Kern e resgataria Mussolini.
Aprovado o plano, Skorzeny foi advertido por Hitler que se alguma coisa desse errado toda responsabilidade cairia sob as suas costas, pois alemães atacando violentamente uma guarnição italiana, diante do contexto em que vivia a Itália, não seria nada aceitável. Se o plano fracassasse Skorzeny seria acusado de insubordinação e de ter enganado os comandantes dos barcos alemães para seguí-lo.
Porém no dia 26 de agosto, um mês após o início das buscas por Mussolini, a apenas 24 horas antes do início da operação, o Duce foi transferido secretamente para local não identificado, sendo transportado em um hidroavião ambulância pintado de branco. Skorzeny, que já estava na ilha, descobriu a retirada do Duce, quando, usado o italiano perfeito do Tenente Warger, soube isso de um guarda numa lavanderia.
Tudo voltou à estaca zero e Skorzeny retornou a Roma. Alguns dias depois, quando Student visitava uma base da Luftwaffe às margens do Lago Bracciano, a 50 km ao norte de Roma, o general, ao conversar informalmente com o comandante da unidade, recebeu informações de que a mesma recebera uma visita interessante, quando durante um alarme aéreo, um pequeno hidroavião branco pousara no lago, e uma pessoa muito parecida com Mussolini saiu da aeronave e fora levada por uma ambulância. Student logo percebeu que o alarme de ataque aéreo fora uma dissimulação dos italianos para levar Mussolini a algum lugar secreto. Mas qual era esse lugar?
Alguns dias depois os homens de Kappler, interceptaram uma mensagem de rádio do Ministério do Interior italiano que dizia: "Todas as medidas de segurança em torno de Gran Sasso completadas!" Não parecia grande coisa, mas a mensagem tinham sido enviada pelo General Carabiniere Giuseppe Cueli, que era responsável pela segurança de Mussolini. Este informação foi repassada imediatamente para Skorzeny e Student.
O Hotel no topo da Montanha
Situado a 160 km ao nordeste de Roma, Gran Sasso d’Italia ficava na área dos Montes Abruzzi, que formavam a parte mais alta dos Apeninos Central. Era nesta região, num platô a 1.800 metros, que ficava localizado o Hotel Campo Imperatore muito utilizado pelos praticantes de esportes de inverno, cujo único acesso era um trem que partia do vale abaixo. Skorzeny tentou obter mais informações sobre o hotel, mas como ele havia sido construído pouco antes do início da guerra, não havia informações disponíveis, o hotel nem aparecia nos mapas militares.
A única informação que encontraram foi numa agência de viagens de Roma, numa brochura velha. Utilizando um ardil particular, Student tentou confirmar a presença do Duce nesta prisão sem barras. Ele ordenou que um oficial médico visitasse o hotel, sob o pretexto de utilizá-lo como local de convalescença de alguns soldados pára-quedistas com malária. O Tenente Krutoff, médico enviado, nem conseguiu entrar no trem e chegar até o hotel, sendo convidado a dar o fora do local, por um truculento oficial Carabiniere.
No dia 8 de setembro – dia em que os italianos se renderam aos aliados – Skorzeny, numa nova tentativa de descobrir a realidade dos fatos, realizou mais um vôo de observação por sobre Gran Sasso, mas desta vez as câmeras fotográficas automáticas não funcionaram, e eles foram obrigados a utilizar um equipamento menos sofisticado para obter algumas fotos da área. Quando reveladas, as fotografias, embora não muito boas, revelaram a existência de uma área triangular, por trás do hotel.
Um assalto por terra alertaria os italianos, que matariam Mussolini imediatamente, e um assalto pelas encostas íngremes, realizado por tropas de montanha, custaria muitas vidas e não garantiria nenhum sucesso.
Restava um assalto com pára-quedistas ou planadores. Porém os peritos da Luftwaffe, acreditavam que de uma força de 100 pára-quedistas lançados na faixa de pouso atrás do hotel só uns 20, devido o ar rarefeito, conseguiriam chegar lá, e esta pequena força não seria suficiente para enfrentar os cerca de 200 homens da forte unidade de Carabinieri, que os alemães calculavam que guardavam o Duce. Para os oficiais da Luftwaffe uma força lançada de planadores também não teria nenhum sucesso.
Mesmo diante de tanto pessimismo Skorzeny decidiu prossegui com o ataque e optou pelos planadores, pois esta opção possibilitaria uma maior concentração de tropas no local do assalto, o que poderia resultar em vitória, mediante a surpresa.
Skorzeny e seu fiel companheiro Capitão Radl, que acompanharia o austríaco por toda a guerra, iniciaram o planejamento da operação, que ficou conhecida como Operação Eiche (Oak). No planejamento eles fizeram cuidadosos cálculos das distâncias a serem percorridas e a quantidade de homens e os tipos de armas que seriam usadas no assalto. Entre as armas usadas estava o fuzil-metralhador FG-42 de 7,92mm, especialmente projetado para as tropas pára-quedistas alemãs.
A força de ataque seria composta pelos homens das Waffen-SS de Skorzeny e por pára-quedistas da 1ª Companhia, 1º Batalhão (Fallschirm Lehr Battalion - Batalhão de Treinamento) do 7º Regimento, integrante da 1ª Divisão de Pára-quedistas alemã, que já se encontravam na Itália. Esta Companhia seria comandada pelo Oberleutnant Georg von Berlepsch.
Os homens da SS e Skorzeny e os pára-quedistas de Berlepsch, aterrisariam de planador e realizariam o assalto propriamente dito. Duas outras companhias do 1º Batalhão, sob o comando do Major Otto-Harald Mors, iriam por terra, e capturariam a extremidade inferior do Funicular e a estrada para aeródromo de Aquila de Abruzzi.
A principio o planador Go-242 da I/LLG 2 seria utilizado no assalto, mas ele era muito grande para pousar na área disponível, e por isso Student ordenou o envio de planadores DFS 230 da III./LLG 1, que estavam no sul da França. Cada um desses planadores podia carregar o piloto e nove pára-quedistas completamente equipados e, como se dispunha de apenas 12 planadores, a força seria de no máximo 108 homens, cerca de dois terços do número de defensores italianos.
Skorzeny acreditava na surpresa e no maior poder de fogo da tropa alemã. Foi acordado que Otto Skorzeny e seus homens ficariam encarregados de procurar o Duce, enquanto que von Berlepsch e sua tropa ficariam encarregados de combater os defensores. Os soldados das SS iriam nos planadores de Nº 3 e Nº 4.
Em resumo o plano era o seguinte: Dois planadores aterrissariam na frente do hotel para assegurar o local de aterrissagem; esses seriam seguidos por outros quatro planadores (Skorzeny iria no terceiro), que transportavam a força que tomaria o hotel; os planadores restantes aterrissariam no fundo da montanha, e os seus ocupantes se moveriam rapidamente por terra e tomariam a estrada de ferro para impedir que reforços chegassem até o hotel.
O dia do resgate
A operação estava planejada para ter início no nascer do sol do domingo, 12 de setembro de 1943. Às 05:00 horas, Skorzeny marchou com seus 17 Waffen-SS (alguns falavam italiano), selecionados entre os mais de 60 que se voluntariaram, em direção à pista de poso de Pratica di Mare, aeródromo localizado no litoral sul de Roma. Mas haveria um atraso, visto que os Hs 126, que rebocariam os planadores, tiveram que realizar diversas paradas para reabastecimento em seu vôo de Valence, no sul da França, até Roma, aonde só chegariam às 10:00 hora. Skorzeny, aproveitou este atraso, para solicitar a presença do General Carabinieri Soleti, um pró-nazista, cuja presença junto à tropa de assalto, poderia induzir os defensores a se renderem. Skorzeny enviou Radl para trazer Soleti, que ficou muito surpreso quando entendeu em que estava envolvido.
Os primeiros Hs 126 chegaram às 11:00 horas, e enquanto Student orientava os pilotos quanto a natureza da missão, as aeronaves eram reabastecidas. Então, às 12:30h, as sirenes antiaéreas começaram a tocar, anunciando um ataque de bombardeiros americanos (B-25), mas nenhuma aeronave envolvida no assalto foi destruída. Finalmente às 13:05, as aeronaves decolaram. Sentado atrás do assento do piloto, no Hs 126 número 1, ia o Hauptmann Gerhard Langguth, oficial de inteligência de Student, que quatro dias antes, estivera com Skorzeny a bordo de um He 111, realizando mais uma missão de observação sobre Gran Sasso. No planador de Skorzeny, o Nº 3, também ia Soleti, sentado entre as suas penas.
Sabendo que as ordens de Student eram para que os planadores fossem soltos a cerca de 8 km do alvo, numa altura de 3.200 metros, Langguth avaliou que os Hs 126 não conseguiriam atingir a altura adequada, nesta uma hora de vôo, por estarem rebocando uma carga pesada, e por isso ordenou que a formação fizesse uma volta e voasse em direção contrária, de modo a ganhar tempo e altura. Houve uma certa confusão na manobra, visto permanecerem com silêncio rádio, sendo que por causa das nuvens, alguns aviões realizaram a volta e outros não. Quando conseguiu recobrar a visão, o piloto do rebocar do planador de Skorzeny, o Oberleutnant Heidenreich, disse que os planadores Nº 1 e Nº 2 tinham sumido de sua frente (provavelmente não fizeram a curva) e perguntou: "Quem lidera agora?" Sem se abalar Skorzeny disse: "Eu lidero!" Na verdade a força de planadores tinham agora apenas 9 deles, pois dois se acidentaram na decolagem, por causa das crateras abertas pelos bombardeiros americanos.
Os planadores são soltos
A confusão durante o vôo e as nuvens que cobriam os picos das Montanhas Abruzzi, criaram certo tumulto ao plano de Skorzeny. Às 14:03, Heidenreich soltou o planador de Skorzeny, a menos de 3 km da Zona de Pouso e a uma altitude de apenas 400 metros em relação ao hotel. Heidenreich não notou atividade alguma no solo, quando retornava com seu Hs 126 para Pratica di Mari, onde chegou 30 minutos depois. O último rebocador a regressar a Pratica (três foram obrigados a pousar em outros lugares, por falta de combustível), relatou ter visto oito planadores próximos ao objetivo. O nono realizou pouso de emergência nas laterais da montanha, mas seus ocupantes saíram ilesos e avançavam em direção ao hotel.
Entretanto, uma surpresa esperava os planadores e seus ocupantes. A Zona de Pouso, embora estivesse limpa de obstáculos, não era plana como se esperava, muito pelo contrário, era uma ladeira razoavelmente inclinada e coberta de pedras – deveria fazer parte da pista de ski, descrita nas brochuras turísticas. Skorzeny, que antes do pouso, fez uso de sua faca de combate para abrir a lateral de tecido dos planadores, de modo a ter ventilação e uma melhor visão da operação, ao observar o terreno, avisou a seus ocupantes que seria um pouso complicado e ordenou o piloto, a pousar o mais próximo possível do hotel.
O oficial que pilotava o planador era o Tenente Elimar Meyer. O planador não conseguia perder altura, mesmo com seus freios aerodinâmicos abertos, mas não havia indício de movimentação das tropas de defesa. Tudo permaneceu quieto e calmo até que o planador cruzou o hotel a menos de 150 metros de altura, quando então alguns homens aparecerem, mas não mostraram sinal de hostilidade.
Meyer foi obrigado a realizar uma curva à esquerda muito fechada, fazendo com que Skorzeny e seus homens ficassem grudados aos assentos. O planador conseguiu perder altura e quase caiu quando o arame farpado que havia sido colocado sob a aeronave, para diminuir a corrida de pouso, bateu numa pedra e arrebentou. Finalmente o planador pousou a cerca de 40 metros do hotel. Mesmo antes dos demais planadores aterrissarem, o grupo de Skorzeny já havia entrado no prédio. Diante da alguns guardas italianos atônitos. Mas até o momento nenhum tiro havia sido disparado, o que tranqüilizou Skorzeny, que ordenou que seus homens só abrissem fogo se fossem atacados.
Tudo aconteceu muito rapidamente. Galgando o terraço lateral do hotel, Skorzeny logo vislumbrou a figura de Mussolini, olhando calmamente a paisagem por uma janela. Gritando para que ele saísse dali e entrasse no prédio o mais rápido possível – Skorzeny temia que os Carabinieri tivessem ordem para matá-lo, no caso de uma tentativa de resgate – seus homens entraram rapidamente pelo hall do hotel. Não houve oposição praticamente alguma, nem tiros foram dados. Quando Skorzeny entrou nos aposentos de Mussolini, viu dois jovens tenentes italianos e imediatamente os homens de Skorzeny entraram pela porta e outros apareceram nas janelas.
Compreendendo que estavam cercados e que não havia necessidade de mortes os italianos se renderam. Momentos depois, Skorzeny face a face com Mussolini falou: "Duce, o Füher enviou-me. Você está livre!" Tinham-se passados apenas cinco minutos desde que os planadores tinham pousado. Entendendo que qualquer resistência era inútil o comandante da guarnição italiana também se rendeu.
Retorno ao Reich
Tudo o que Skorzeny tinha a fazer agora, era transportar o ditador de volta a Roma. Mas por terra, atravessando um território hostil, seria impossível realizar a operação, restava então três alternativas.
A primeira seria o lançamento de pára-quedistas sobre o aeródromo de Aquila de Abruzzi, onde eles controlariam a pista de pouso até que um He 111 pudesse pousar e levar Mussolini, mas como as comunicações eram muito ruins, esta hipótese foi logo descartada. Apesar dos problemas de comunicação, os pára-quedistas alemães foram enviados para capturar o aeródromo.
A segunda seria a retirada de Mussolini por meio de uma aeronave leve, que voaria até o sopé do Gran Sasso, onde ficaria sob a guarda do Major Mors, mas o trem de pouso da aeronave se partiu quando ela pousou e não conseguia mais decolar.
A única alternativa agora, seria preparar uma pista perto do hotel, limpando as pedras, solicitar um Storch e voar com Mussolini até Pratica di Mari. Com ajuda dos Carabinieri, as pedras maiores foram removidas de parte do platô, formando uma pista rudimentar e sob o controle do Hauptmann Heinrich Gerlach, piloto pessoal de Student, o Storch chegou. As ordens de Heinrich eram para que o Duce fosse levado até o Quartel General em Roma. Skorzeny não quis deixar seu prêmio, viajar sozinho, e exigiu ir junto, embora o Storch só tivesse um lugar, além do piloto. Apesar das objeções de Heinrich, Skorzeny entrou na aeronave, sentando-se por trás de Mussolini. A decolagem foi dramática, 12 pára-quedistas seguravam a aeronave, que levantava muita poeira, enquanto o piloto acelerava o máximo. Com o sinal do piloto os homens largaram a aeronave e o Storch iniciou a sua corrida pela pista improvisada, saltado e não conseguindo decolar, até que num último salto ela se fez ao ar, para alívio de todos.
Após pousarem em Pratica di Mari, Skorzeny e Mussolini foram transferidos para um He 111, que voou até Viena. O Duce foi então, imediatamente transferido para Berlim. Naquela mesma tarde, o comandante das tropas de Viena, realizou uma cerimônia no Hotel Imperial, onde em nome do Führer, promoveu Skorzeny a Cavaleiro da Cruz de Ferro. A propaganda nazista utilizou muito essa missão para exaltar Skorzeny. Sua reputação como o homem mais perigoso da Europa se iniciava.
Como o novo governo italiano fez as pazes em separado com os aliados, os alemães reagiram contra a Itália no seu estilo tipicamente bárbaro: os muitos milhares de soldados italianos que se renderam aos alemães foram enviados como escravos para trabalhar na Alemanha. A parte da Itália que ficou sob domínio alemão sofreu todas as violências de uma ocupação nazista. Mussolini recebeu de presente uma pequena região no norte da Itália, aonde criou a infame "República de Saló". Este simulacro de governo não sobreviveu à derrota alemã. Em abril de 1945 a resistência alemã no norte da Itália sofreu um colapso e Mussolini tentou fugir para a Suíça com sua amante, Claretta Petacci. Guerrilheiros italianos prenderam o casal, e assassinaram os dois em 28 de abril, dois dias antes de Hitler suicidar-se. Os corpos de Mussolini e Claretta foram pendurados de cabeça para baixo para exposição pública na grande cidade italiana de Milão.
Outras fotos do resgate |
O Fieseler Fi-156 Storch (Cegonha)
Nascido nos obscuros dias da década de 1930, o "Storch" teve um papel ímpar na Segunda Grande Guerra, figurando desde dos vôos arriscados de Erwin Rommel no deserto norte africano até o resgate do líder italiano Benedito Mussolini em Gran Sasso. Foi o primeiro bem sucedido avião STOL (pouso e decolagens curtos) do mundo, o Fi-156 utilizava meros 300 m de pista, graças a diversas superfícies de hiper-sustentação nas asas. Possuindo ainda um trem de pouso robusto, para terreno difícil. Cerca de 3.000 foram produzidos pela Gerhard Fieseler Werke em todos os modelos durante a guerra, com a produção continuando na Tchecoslováquia e França, no pós-guerra. Tornou-se famoso no resgate de Mussolini, quando pousou e decolou em condições quase impossíveis.
Envergadura: 14,25 m
Comprimento: 9,90 m
Altura: 2,99 m
Peso: 930 Kg (vazio) e 1.320 Kg (carregado)
Motor: Argus As 10C, refrigerado a ar, 8 cilindros (240 hp)
Velocidade: 145 Km/h (máxima, nível do mar)
Teto Máximo: 4.600 m
Alcance: 385 Km
Tripulação: 2 (piloto e passageiro ou piloto e ferido em liteira)
Planador DFS 230
O planador de assalto alemão DFS-230 foi o primeiro planador a ser usado em assaltos de grande escala durante a segunda guerra mundial. Esses planadores foram usados com grande eficiência durante a tomada pelos alemães do forte Belga de Eban Emael em 1940. Eles pousaram no telhado do forte permitindo que as tropas alemãs rapidamente dominassem o inimigo. Ele também foi usado em grande número na Rússia, no Mediterrâneo, em Creta, e na África do Norte, inclusive no resgate de Mussolini. Seguidamente quando um esquadrão se movia de um lugar a outro, era o DFS-230 que era usado para transportar peças e mecânicos.
Ele era esbelto e muito semelhante a seus antecessores esportivos. Era um planador leve com estrutura tubular e tela e tinha uma razão de planeio excelente. Modelos posteriores incorporaram um pára-quedas de frenagem e alguns modelos tinham retrofoguetes que auxiliavam a decolagem. O trem de pouso era alijado após o planador deixar o solo, permanecendo apenas o patim. Normalmente a tripulação consistia de um piloto e nove passageiros. Os passageiros sentavam em linha ao longo da fuselagem. Os últimos quatro homens ficavam sentados de costas. A única porta ficava na traseira, mas existiam painéis laterais nos dois lados da fuselagem que podiam ser facilmente removidos para uma saída rápida.
Os últimos modelos tinham uma metralhadora montada no alto, acionada pelo primeiro passageiro. Leve o suficiente para ser rebocado por um monomotor Ju-87, também era rebocado por aviões tipo Ju-52, Bf-110 e o He-111. Mais de 2000 DFS-230 foram construídos. Seu peso descarregado era: 860 Kg, máximo peso de decolagem 2100 Kg sua velocidade de cruzeiro era: 180Km/h e a velocidade máxima 290 Km/h.
0 Comentários