Com a venda de 20% do capital da Trip à americana SkyWest, a família Caprioli espera dar o maior salto de sua trajetória no setor de aviação
ROSENILDO GOMES FERREIRA - Isto é dinheiro
CÉU DE BRIGADEIRO: Caprioli (à dir.) e o sócio Chieppe planejam levar a Trip para além das fronteiras do País |
EM 1995, O EMPRESÁRIO José Mario Caprioli, então com 25 anos, surpreendeu o patriarca da família com a seguinte proposta: "Pai, vamos abrir uma empresa aérea regional". Entre incrédulo e assustado, Antonio Augusto Caprioli disse um rotundo não. Afinal, o clã possuía uma longa tradição no segmento de transporte rodoviário e não fazia sentido entrar em uma área desconhecida, intensiva de capital e na qual muitos fracassaram. Zé Mario, como ele é mais conhecido, não desanimou. Montou um minucioso plano de negócios para defender seu ponto de vista. O trabalho ficou tão bem feito que a família topou levar a empreitada adiante. Na quinta- feira 4, ele anunciou o acordo com a gigante americana SkyWest Inc. A maior potência da aviação regional do planeta, com faturamento de US$ 3,37 bilhões, vai pagar US$ 30 milhões por 20% do capital da Trip. O montante será repassado em três anos. Com isso, os americanos terão direito a um assento no conselho de administração da empresa. Mais que uma injeção de capital, a SkyWest dará à Trip o acesso a uma moderna tecnologia de gestão do setor. Sem contar a possibilidade de negociar, em melhores condições, os contratos de seguro e de manutenção de suas aeronaves. "Foi um casamento perfeito", diz José Mario Caprioli. Entre namoro e noivado foram 16 meses.
Com o respaldo da SkyWest, a primeira aérea estrangeira a se tornar acionista de uma empresa do setor no Brasil, Zé Mario poderá ampliar ainda mais os horizontes de sua pequena Trip. Uma das alternativas é explorar rotas no Mercosul, mas sempre longe dos grandes centros. "Hoje, um fazendeiro de Dourados (MS), com negócios no Paraguai, precisa vir para São Paulo para chegar em Assunção", exemplifica Zé Mario. A Trip começou a ser idealizada em 1990, durante uma temporada de estudos nos EUA. Formado em administração, Zé Mario pretendia seguir carreira no mercado financeiro. Fez até um curso sobre o tema na Columbia University, em Nova York. Mudou de idéia quando se debruçou sobre o fenômeno de expansão da aviação regional nos Estados Unidos e na Europa. "Vislumbrei que a substituição do trem e do ônibus pelo avião, para viagens de média e longa distância, também poderia ser possível no Brasil." Voltou ao País decidido a montar a Trip. Afável no trato pessoal e adepto do estilo de gestão participativa, Zé Mario é um gestor que valoriza o funcionário que "veste a camisa". Marca, aliás, comum do Grupo Caprioli, em cujas empresas não é difícil encontrar profissionais que atuam há mais de 40 anos. Para compensar a falta de conhecimento em áreas técnicas, Zé Mario foi atrás do que existia de melhor no mercado. "Boa parte dos meus executivos são graduados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica", conta.
Outro grande ativo de Zé Mario é a capacidade de fazer alianças estratégicas. Em 2006, ele vendeu metade do controle ao Grupo Águia Branca, especializado em logística e que fatura R$ 2,2 bilhões. Com isso, ganhou fôlego para avançar sobre a rival Total Linhas Aéreas, adquirida em novembro do ano passado. A Trip também se aliou à TAM, para a qual transporta passageiros em conexões no interior dos Estados do Centro- Oeste. Segundo Renan Chieppe, do grupo Águia Branca, a expectativa é de que a Trip feche 2008 com ganho operacional de R$ 50 milhões, seu primeiro resultado positivo. "A Trip reúne todas as credenciais para ser um personagem importante desse setor. Tem capital para investir e um foco definido de atuação", avalia Paulo Sampaio, especialista em aviação. "Exatamente o contrário dos empresários que se aventuraram nessa área e quebraram a cara", completa.
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