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Crise entre Brasil e Equador pode afetar integração

Analistas afirmam que Correa age de olho nas eleições de fevereiro.

Da BBC - Via G1

O debilitamento das relações diplomáticas entre Brasil e Equador depois da expulsão da construtora brasileira Odebrecht poderia ser prejudicial para integração e economia dos dois países, na opinião de analistas ouvidos pela BBC Brasil.

A primeira reação de descontentamento por parte do governo brasileiro com a crise foi expressada nesta quinta-feira, com o adiamento da visita de uma missão chefiada pelo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, prevista para o dia 15, na qual seriam discutidos temas ligados a obras de infra-estrutura viária no Equador.

Para Mark Weisbrot, diretor do Centro de Pesquisas de Política Econômica (CEPR, na sigla em inglês), de Washington, essa é a primeira medida de pressão do Brasil para tentar proteger seus interesses, ente eles a Petrobras, que também está sob ameaça de expulsão.

"Isso significa uma medida de pressão por parte do Brasil para tentar frear a desativação de outros contratos em andamento", afirma Weisbrot.

No sábado, Correa ameaçou nacionalizar o Bloco 18, no qual opera a Petrobras, se a empresa não aceitar as novas regras determinadas pelo governo equatoriano para a exploração petrolífera.

O chanceler brasileiro Celso Amorim respondeu às declarações de Correa nesta quinta-feira, ao afirmar que a Petrobras só deixará o país se for indenizada.

"A maior ameaça é que esse desacordo possa frear o processo de integração regional", afirmou.

Grandes projetos

Entre os projetos que correm risco de adiamento por causa da crise está a construção do eixo hidro-rodoviário Manta (Equador)-Manaus, que poderia estar na pauta de discussão da missão brasileira que seria enviada a Quito no dia 15.

"Se as relações diplomáticas se complicam, as negociações para a construção do eixo poderiam ser afetadas e, com elas, a possibilidade de o Brasil ter uma saída comercial para o Pacífico", afirmou Julio Oleas, professor da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso), no Equador.

O projeto, que ainda está em fase de negociações, prevê a criação de um corredor inter-oceânico rodoviário até o porto de Manta, ao qual poderiam se incorporar também Bolívia, Peru e Venezuela.

O projeto tem um custo total estimado em US$ 1,5 bilhão.

Na área de energia, a Petrobras era umas das empresas que poderiam participar dos projetos de exploração em águas profundas no campo petrolífero ITT, maior reserva de petróleo do Equador, cuja licitação está paralisada devido à disputas entre setores do governo e ambientalistas que se opõem ao desenvolvimento de campos petrolíferos na região amazônica.

Além deste projeto, o governo do Equador também negocia a compra 24 aviões Super Tucanos da Embraer.

"Todos esses projetos e acordos podem estar sob ameaça", disse Oleas.

Eleições

Na opinião de Julio Oleas, o presidente do Equador, Rafael Correa, elevou a tal ponto o nível da crise com a Odebrecht que voltar atrás na decisão poderia ocasionar ao presidente perda de credibilidade entre a população.

Apesar de ter vencido com 67% dos votos o referendo que aprovou a nova Constituição, Correa continua em campanha eleitoral. Isso porque as regras do processo constituinte prevêem a realização de novas eleições gerais antecipadas, que deverão ocorrer em fevereiro de 2009.

Correa novamente será candidato à Presidência.

Debilitar-se politicamente em meio à campanha seria o menos indicado para o presidente, avalia Oleas.

"O custo político para Correa de permitir, depois da crise, que a Odebrecht continuasse no país poderia ser mais grave que se desentender com o Brasil", afirmou Oleas.

O governo equatoriano responsabiliza a construtora de cometer falhas estruturais na construção da usina hidrelétrica San Francisco e de cometer irregularidades no processo de financiamento desta e de outras obras.

Os projetos da Odebrecht no Equador totalizam US$ 650 milhões.

Ao mesmo tempo, Oleas adverte que o governo equatoriano terá de assumir as conseqüências da paralisação das obras de infra-estrutura que haviam sido projetadas com a construtora brasileira.

"Duas hidrelétricas, um projeto de irrigação e um aeroporto afetam consideravelmente os projetos do governo na área", disse.