Aeronáutica receberá proposta para jatos
Márcio de Morais - Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 5
Brasília., 30 de Outubro de 2008 - A aeronáutica brasileira programou realizar esta tarde, em Brasília, uma reunião com as fabricantes de aviões Boeing (Estados Unidos da América), Dassault (França) e Saab Gripen (Suécia) na qual formalizará o pedido de oferta para aquisição de aviões do tipo caça multiemprego, em substituição à frota de combate da Força Aérea Brasileira (FAB), considerada superada desde a década passada.
As aeronaves que disputam o mercado militar brasileiro são o F-18 Super Hornet (Boeing), o Rafale (Dassault) e Gripen NG (Saab). A entrega do primeiro lote (36 unidades) está prevista para 2014, com vida útil de 30 anos, em substituição aos modelos Mirage 2000, F-5M e A-1M.
No despacho desta tarde, a Comissão Gerencial do Projeto FX2, que conduz o processo de seleção e aquisição da frota, vai formalizar a entrega do Request for Proposal (RFP) e estabelecer o prazo para a devolução da proposta pelos fabricantes. A definição do vencedor só será anunciada pelo governo no próximo ano, pois a avaliação técnica das propostas passará nos próximos meses por uma bateria criteriosa de análises.
A Assessoria de Comunicação da FAB informou que a definição do prazo de entrega das propostas vai depender, porém, da negociações com as fabricantes no decorrer da reunião desta tarde.
As fornecedoras foram selecionadas entre seis empresas internacionais que se candidataram na primeira fase do processo, em meados do ano, e da qual foram excluídas as fabricantes Eurofighter Typhoon, Lockheed Martin (F-16) e Sukhoi (SU-35). Os investimentos iniciais estimados para o programa alcançam US$ 2,2 bilhões.
O número total de aviões pode ser ampliado para 120, mas nenhum desses dados tem confirmação oficial da Aeronáutica. A justificativa é que tudo vai depender da RFP. No documento, diferentes configurações e os interesses militares envolvidos serão confrontados com o orçamento disponível para o Programa FX2, para avaliação e escolha de um modelo que ofereça o máximo possível de comodidades e dispositivos tecnológicos de alta performance.
O Programa FX teve início no governo Fernando Henrique Cardoso, com o lançamento de uma licitação que acabou suspensa em 2003, logo após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na retomada do processo, em 15 de maio deste ano, o programa foi rebatizado de FX2.
A FAB informou à Gazeta Mercantil que a reunião, embora prevista no cronograma da Comissão Gerencial do Projeto FX2, ainda pode ter a data alterada, pois o processo negocial com as empresas permite mudanças no cronograma a qualquer momento, razão pela qual preferiu não informar o local e o horário onde a reunião será realizada.
Em jogo, o novo papel do Brasil no continente
Marcelo Ambrosio - Jornal do Brasil
A qualificação dos três caças para o projeto FX-2 mostra como o programa de reaparelhamento da Força Aérea Brasileira mudou de eixo, sobretudo pela ausência russa na reta final. Na concorrência anterior, o Sukhoi russo era favorito pela formidável combinação de poderio aéreo, aviônicos estratégicos (radar do tipo BVR, ou Beyond Visual Range, capaz de abater um alvo a 80 milhas de distância), capacidade de manobra e pacote offset (a contrapartida comercial).
Vários pilotos brasileiros que o testaram surpreenderam-se com a capacidade do jato de desafiar a física, fazendo movimentos impossíveis graças à Vetoração de Empuxo, na qual a ponta das duas turbinas mexe 45 graus para qualquer lado. Os russos fazem até cavalo-de-pau no ar com esse equipamento. Outro ponto positivo era o raio de alcance, que permitia ao Sukhoi chegar à Venezuela, interceptar e retornar a Anápolis, onde fica a 1ª Ala de Defesa aérea, encarregada desse controle.
Sukhoi 35
A reviravolta mostra que os americanos fizeram o dever de casa para serem favoritos – tanto o Rafale (pelo preço) quanto o Gripen (pela pequena autonomia) tinham poucas chances antes. Há seis meses dois graduados nomes do programa F-18 Super Hornet (um deles veterano da primeira Guerra do Golfo) estiveram em Brasília para conhecer a real necessidade da FAB. Anotaram tintim por tintim, principalmente o interesse por um equipamento capaz, a esta altura, de se contrapôr aos Sukhoi 35 que a Rússia havia entregue a Hugo Chávez, fator que teria pesado na desclassificação. O F-16 oferecido antes estava, por isso, fora de cogitação.
A decisão de transferir tecnologia (BVR e mísseis ar-ar) para o Brasil se insere na contenção enxergada pelos EUA na América do Sul, na qual o Brasil passou a ter peso. Além de criar a configuração necessária, a Boeing também investiu em outro campo: deslocou uma engenheira brasileira para o programa para trazer o F-18 Super Hornet o mais para dentro da cultura brasileira. O jato é made in USA, mas feito sob medida para os padrões operacionais da FAB.
FAB quer mais detalhes de caças
Pedido de Oferta acirra concorrência entre as três finalistas para a venda de 36 aviões
Vasconcelo Quadros - Jornal do Brasil
Encarregada de operar a substituição da frota de caças supersônicos da Força Aérea Brasileira (FAB), a Comissão Gerencial do Projeto F-X2 entregou ontem aos representantes da três empresas finalistas – a americana Boeing, a francesa Dassault e a sueca Saab – um Pedido de Oferta, conhecido em inglês como Request For Proposal (RFP), sobre as propostas de cada uma das fabricantes. O projeto de reaparelhamento da Força aérea Brasileira envolve gastos de US$ 2,5 bilhões na primeira fase, com a compra de 36 caças de multi-emprego, cuja entrega deve começar em 2014 em substituição à atual frota de Mirage 2000, F-5M e A-1M.
Os três caças finalistas são F-18 E/F Super Hornet (peso vazio 13,830 toneladas, 4,88 metros de altura e 13,62 metros de envergadura), da Boeing; o Rafale (9,060 toneladas, 5,3 metros de altura e 10,80 metros de envergadura), da Dassault; e o Gripen NG (6,622 toneladas, 4.5 metros de altura e 8,4 metros de envergadura), da Saab. As empresas devem responder ao pedido, com detalhamento das especificações sobre aspectos comerciais, técnicos, operacionais, logísticos, industriais, compensação comercial e de transferência tecnológica até o dia 2 de fevereiro do ano que vem, data em que começa uma nova etapa deste que deverá se transformar no maior negócio da história da aviação militar brasileira.
Além da substituição, o governo brasileiro quer ampliar seu exército do ar, completando, a médio prazo, uma frota de 120 aeronaves. A Aeronáutica não fala em valores, mas no mercado de aviação estima-se em cerca de US$ 56 milhões o preço de cada caça.
A partir de fevereiro os especialistas da Aeronáutica definem uma nova etapa do negócio, que será composta por visita aos fabricantes e avaliação das aeronaves. Uma vez definidos e atendidos os requisitos operacionais, a comissão passará a considerar também os valores estimados pelos fabricantes.
Um termo de confidencialidade assinado entre a Aeronáutica e as três finalistas evita que vazem detalhes técnicos do projeto, mas sabe-se que os dois pontos mais importantes para o governo brasileiro obrigam que a vencedora se comprometa a transferir toda a tecnologia empregada na fabricação da aeronave e ofereça compensações comerciais atraentes. Ao garantir esses dois itens no negócio, o Alto Comando da Aeronáutica quer o Brasil conquiste espaço para desenvolver sua indústria de aviação para fabricar ou participar do processo de produção de caças de 5ª geração.
O resultado da concorrência deverá ser conhecido até outubro do ano que vem, quando então será assinado o contrato de compra do primeiro lote de 36 aeronaves. O Alto Comando da Aeronáutica quer um avião de ataque moderno, adaptado à realidade brasileira e que o negócio estimule o desenvolvimento de uma indústria nacional de aviões de defesa. Vencerá a empresa que atender o conjunto de exigências da Aeronáutica, cujos detalhes são mantidos em sigilo. Os três finalistas são apresentados em nota do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica em ordem alfabética para evitar especulações sobre quem está com vantagem. A novidade nessa nova fase do projeto, que começou a ser discutido em 1992, mas teve de ser suspenso em 2000, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é a inclusão do F-18 E/F Super Hornet, da Boeing.
As três empresas se dizem aptas a atender as exigências operacionais da FAB. A direção da Boeing chegou a destacar, assim que foi incluída entre as finalistas, que o governo americano havia adotado uma "avançada postura" ao concordar com a transferência de tecnologia. A francesa Dassault contava com a vantagem de ser a fabricante dos caças Mirage que integram a atual frota brasileira. E a sueca Saab, controladora da Gripen International, chegou a inaugurar, na semana passada, um escritório em Brasília, com a finalidade de "estabelecer um relacionamento mais duradouro com o governo brasileiro, com o objetivo de proporcionar o fortalecimento das parcerias tecnológicas com o país". Como se vê, as três estão preparadas para a guerra comercial.
O Alto Comando da Aeronáutica informou, através do Centro de Comunicação Social, que todas as empresas disputam em igualdade de condições e que no final vencerá quem atender os requisitos apresentados pela Comissão Gerencial do Projeto F-X2. O Pedido de Oferta formalizado ontem abre uma nova etapa na seleção, acirrando a concorrência entre as finalistas. No início de outubro, quando decidiu-se pela lista reduzida, a comissão eliminou três empresas que desejavam participar: a americana Lockheed Martin, fabricante do F-35 Lightning II, o consórcio europeu Eurofighter, do Typoon, e a russa Rosoboronecxport, que concorria com o Sukhoi SU 35, o modelo de caça considerado favorito disparado entre os pilotos.
As autoridades brasileiras negam, mas os rumores que circularam no mercado apontam que o motivo da eliminação da Rosoboronecxport teria sido o medo do governo americano de que a presença russa na América do Sul pudesse ser ampliada em função da parceria já existente entre Moscou e o governo Hugo Chaves, na Venezuela. Fontes do mercado acreditam que a rapidez com que a Venezuela adquiriu os caças também pesou na eliminação. O Ministério da Defesa informou, em nota, que a seleção seguiu critérios técnicos exaustivamente analisados e elaborados pela comissão, onde um dos itens que mais pesou foi a transferência de tecnologia.
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