A força militar da Venezuela pode levar os EUA a fazer o impensável: ceder tecnologia militar para o Brasil e, assim, mudar os rumos da licitação da FAB
Por Joaquim Castanheira - Isto é
Nota do Blog esse artigo ajuda a entender o porque da "nova" flexibilidade dos americanos em conceder contra partidas ao Brasil na época da publicação o F-18 ainda não era se quer um concorrente ao FX2. Mas a leitura deixa claro que Hugo Rafael Chaves Frias é o "melhor ministro da Defesa" que o Brasil podia querer...
AVIÃO DA FAB E O F-16: há sobra de caças americanos, que podem ser vendidos “baratinho” para o Brasil |
Passaram-se apenas quatro anos desde que o Projeto FX, a licitação para o reequipamento da Força Aérea Brasileira, foi engavetado. Trata-se de um período de tempo curto, mas suficiente para mudar todo o cenário para a nova licitação que o governo acaba de anunciar, por intermédio do comandante da Aeronáutica Juniti Saito. As aeronaves oferecidas pertencem a uma nova geração. Não se trata mais do Mirage, por exemplo, mas sim de seu sucessor, o Rafalle, também produzido pela francesa Dassault.
Os russos vêm com o Sukhoi, mas não o Sukhoi 30. Em seu lugar, aparece o Sukhoi 35. Os suecos comparecem com o Super Grippen, que não chega a ser uma nova geração, mas uma versão mais moderna do Grippen da primeira licitação. “Zerou tudo. É uma nova licitação”, afirma um executivo de uma das empresas concorrentes. A maior reviravolta, no entanto, não se encontra no campo dos produtos. Ela aparece na posição da americana Lockheed, a fabricante dos caças F-16. No Projeto FX, as chances da empresa levar eram praticamente nulas. Isso porque não havia qualquer possibilidade de que ela atendesse a uma das principais exigências do edital: a transferência de tecnologia para o Brasil.
As chances de isso acontecer continuam diminutas, mas desta vez pode ser um pouco diferente. Nos últimos anos, ocorreu uma profunda mudança geopolítica na América Latina. E ela tem nome e rosto conhecidos: Hugo Chávez, o presidente venezuelano cada vez mais estridente em seus ataques aos EUA. Chávez tem armado a Venezuela até os dentes. Seus orçamentos militares têm crescido na faixa de 20% ao ano. O primeiro sinal veio com a compra de 100 mil fuzis Kalashnikov. Depois, adquiriu, também dos russos, 30 aviões Sukhoi 30, além de helicópteros de combate. No meio do caminho, encomendou oito navios de guerra para a Espanha – bem antes que o rei Juan Carlos o mandasse calar a boca na Cúpula Ibero-Americana. Tal poderio pode amolecer o coração dos americanos. Eles vêem Chávez como uma ameaça real na região e necessitam, segundo sua própria avaliação, um contraponto a isso. O Brasil ocuparia naturalmente esse papel. As boas relações entre os dois presidentes, George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva., também ajudam nesse entendimento.
Os EUA mantêm esse tipo de conhecimento trancado a sete chaves. Só com autorização do Congresso americano é possível que os fabricantes de equipamentos de defesa abram suas caixas- pretas para clientes de outras partes do mundo. O caso mais emblemático é o do Chile. Anos atrás, o país adquiriu uma frota de F-16. Pode parecer brincadeira, mas as armas que o abastecem ficaram armazenadas nos EUA e não em território chileno. Enfim, o Brasil tem nesse momento um razoável poder de barganha, o que pode levar a concessões maiores na transferência de tecnologia.
Há fatores comerciais que também favorecem uma posição mais liberal por parte dos americanos. Com os contratos firmados pela Venezuela, a Rússia adquire uma forte posição como fornecedora de armamentos para a região. O Brasil já tem uma antiga tradição nessa área com fabricantes franceses. Os EUA ficariam, assim, sem espaço no continente que menos investe em defesa e, portanto, maior potencial de crescimento possui (hoje, os países latinoamericanos reservam apenas 1,4% do PIB para esse item). Por isso, o fornecimento de caças para o Brasil seria estratégico para os americanos. Seria também a oportunidade de se livrar de um incômodo estoque de caças estacionados no Deserto de Monjave, nos EUA.
Nada garante, porém, que os americanos aceitarão facilmente a transferência de tecnologia de seus sistemas para o Brasil, por mais que as condições comerciais e geopolíticas assim determinem. Mas seguramente essa possibilidade hoje é maior do que há quatro anos, e o Brasil pode usar esse fator, de maneira inteligente, na negociação para reaparelhar sua área de defesa.
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kaleu