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O caça americano F-18 Hornet, um dos finalistas da concorrência da FAB. (Foto: Wikipedia Commons)

FAB seleciona três finalistas para concorrência de compra de caças

Novo caça da Aeronáutica será escolhido entre F-18, Rafale e Gripen.
Vencedor será anunciado até 2009, segundo Força Aérea.

Do Valor OnLine - G1

A Aeronáutica anunciou nesta quarta-feira (1º) que selecionou três empresas entre as seis concorrentes para o fornecimento de novos caças supersônicos para Força Aérea Brasileira (FAB), o chamado Projeto FX-2.

Fazem parte da nova etapa da concorrência de fornecedores a americana Boeing (fabricante do F-18 Super Hornet), a francesa Dassault (Rafale) e a sueca SAAB (Gripen). Foram excluídas do processo a russa Sukhoi (SU-35) - considerada pelos especialistas a favorita no processo, a americana Lockheed Martin (F-16) e o consórcio

De acordo com comunicado divulgada pelo comando da Aeronáutica, o vencedor do processo será escolhido até 2009, da nova lista de três, para que o Brasil compre 36 aeronaves que integrarão o primeiro lote para entrega a partir de 2014.

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O francês Rafale (acima) e o sueco Gripen: Brasil vai comprar 36 aparelhos.
(Foto: Wikipedia Commons)

Os novos caças multi-emprego deverão ter expectativa de vida útil de, no mínimo, 30 anos. De forma gradativa, a FAB deverá substituir os atuais caças Mirage 2000, F-5 e AMX. O valor total do processo não foi definido.

A Aeronáutica comunicou que, para a seleção, foram avaliadas as informações fornecidas pelas empresas participantes da concorrência, "considerando aspectos referentes às áreas operacional, logística, técnica, Compensação Comercial (offset) e transferência de tecnologia para a Indústria Nacional de Defesa".

A instituição também informou que pretende aprofundar a avaliação dos sistemas de armas à luz dos requisitos operacionais estabelecidos pela comissão gerencial do Projeto F-X2, criada em maio deste ano, para a nova frota.

F/A-18, Gripen e Rafale na reta final para o FX
Su-35, Typhoon-2 e F-16E/F fora da corrida !


A Força Aérea Brasileira divulgou nesta Quarta-feira uma nota em que informa que o programa de escolha de um novo caça para a FAB, que foi iniciado em Maio deste ano com o pedido de informações aos fabricantes dos caças Boeing F/A18, Dassault Rafale, Eurofighter Typhoon, Lockeed MArtin F-16, Saab Gripen e Sukhoi Su-35, passou para uma segunda fase.

O principal resultado do processo que entretanto terminou, foi a escolha de três dos seis caças para continuarem para a fase seguinte de avaliação, que resultou de uma «Short List» ou lista reduzida de que constam o caça norte-americano A/F-18E/F da Boeing, o caça francês Rafale da Dassault e o caça sueco Gripen-NG da SAAB.

A FAB pretende adquirir um total de 36 unidades da aeronave multi-função que for escolhida e a escolha dos três concorrentes para passagem à fase seguinte, resultou de uma cuidada análise de toda a documentação que a Força Aérea solicitou às seis empresas, e que foi fornecida após o pedido de informação emitido.

A FAB pretende começar a incorporar os aviões a partir de 2014, e os novos caças vão substituir não só os Mirage-2000 que estão presentemente ao serviço, como também os Northrop F-5M e Aermachi/Embraer AMX. Esta afirmação poderá levar a que futuramente, mais exemplares do avião escolhido no FX-2 sejam adquiridos.

Rafale: Trunfo da França
Rafale, a independência ao estilo francês

De entre os três caças agora escolhidos, parece apresentar-se como favorito o Rafale francês, por razões que têm a ver com a pressão que os franceses têm feito recentemente tanto para vender o seu caça, como para vender equipamentos para a marinha brasileira. A tradição que a FAB já tem de operar aeronaves daquela origem e a possibilidade de futuramente a própria marinha do Brasil utilizar a versão naval desse avião, aparecem como pontos a favor da aeronave francesa.

Além disso, o Brasil, vê na França um exemplo de independência relativamente aos Estados Unidos, que o país gostaria de replicar. Mantendo o país alinhado no essencial com as posições da Europa e dos Estados Unidos, os meios políticos brasileiros já mostraram por diversas vezes o seu desconforto com as restrições que especialmente os norte-americanos colocam à venda de equipamentos que incluem componentes de alta tecnologia para o Brasil.

F-18: Os Estados Unidos estarão interessados em não perder a América Latina ?
F-18E/F O reconhecimento da «maioridade» por parte dos E.U.A.

O problema das limitações à utilização de armamentos e sistemas de armas que os norte-americanos consideram «sensíveis» tem colocado fora da corrida equipamentos de origem norte-americana. Esta limitação já tem sido discutida nos próprios Estados Unidos, onde fabricantes têm explicado à comissão de defesa do Senado, que a indústria do país é muitas vezes prejudicada pelos problemas das licenças de exportação.

Não se sabe até que ponto foi «aberto o livro» por parte da Boeing, fabricante do F-18E/F «Super Hornet», o caça de referência da marinha dos Estados Unidos. Mas é impossível ignorar o fato de o caça ter conseguido chegar à segunda fase do FX-2.

Como o Rafale, que tem uma versão naval, o F-18E/F foi feito propositadamente para operar a partir de porta-aviões convencionais, e embora com limitações, ele pode ser utilizado a partir do A-12 São Paulo, o porta-aviões da Marinha do Brasil, que o país comprou da França no inicio da década.

Os dois caças têm esta vantagem sobre o terceiro

Gripen: Meio termo com possibilidades de futuro
Gripen, inovação tecnológica e meio-termo

Não é possível afirmar que o caça da Saab não tenha hipótese e seja um carta fora do baralho, embora em principio e efetuando análises comparativas básicas ele tenha características inferiores aos outros dois e não tenha uma versão com capacidade para operar a partir de porta-aviões.

Porém, o Gripen NG «Nova Geração» é um caça bastante moderno e que tecnologicamente não fica a perder para os seus concorrentes, tanto em integração de armamentos como em sensores.

A FAB afirmou que pretende que o avião que venha a ser escolhido, permita ao Brasil criar as estruturas necessárias para participar na construção de um verdadeiro caça de 5ª geração. Neste caso, o Gripen seria uma das apostas mais lógicas. A Boeing já tem um caça de 5ª geração, o F-22, que os Estados Unidos não vendem nem para os seus mais próximos aliados e a França ainda não conseguiu sequer exportar um Rafale. A possibilidade de a SAAB e a Dassault virem no futuro a produzir em parceria o primeiro caça de 5ª geração europeu, coloca o Gripen na corrida, se o Brasil não quiser colocar todos os ovos no cesto da França.

Os derrotados

Três aeronaves ficaram fora da corrida. Não foram adiantadas razões para nenhuma exclusão, no entanto há várias questões a considerar. Parte delas são informações desconexas e outras não confirmadas por fonte independente, no entanto merecem um comentário.

F-16 : proposta pouco sólida
F-16E New Generation

O F-16 é o mais antigo de todos os caças que fizeram parte do P.I. «Pedido de Informação» da FAB. Embora seja o mais antigo, ele é na sua última versão um equipamento sofisticado e com características temíveis. O fabricante no entanto, não parece conseguir satisfazer as dúvidas dos eventuais clientes quanto à continuação e manutenção da operacionalidade e modernização das aeronaves. Todo o avião tem um ciclo de vida e o F-16 também tem o seu. É verdade que uma aeronave pode ser continuamente modernizada, o problema para o F-16 é porém outro:

Esse problema chama-se F-35. O novo caça «Stealth» dos Estados Unidos, deverá substituir o F-16, e receberá no futuro toda a preferência no que diz respeito a modernizações upgrades e manutenção.
A FAB, que quer uma aeronave para 30 anos não parece estar interessada em optar por um avião que poderá ser dentro de alguns anos relegada para uma posição secundária. O F-18 tem o mesmo problema, mas o F-18 tem uma versão naval (o que pode ser interessante também para a MB).

Typhoon-2: Derrotado pelo preço ?
Thyphoon-II – Um concorrente poderoso abatido pelo preço

O Eurofighter, desenvolvido por um consórcio de industrias aeronáuticas da Europa, é um dos mais sofisticados aviões de combate da atualidade, e a versão que poderia ser fornecida ao Brasil, poderia fazer dele por muitos anos o mais avançado caça de toda a América Latina. O problema principal da proposta europeia, parece ser o preço. Prejudicado pela alta do Euro e por um desenvolvimento complexo e demorado, o Typhoon-II não tem o apoio de um país específico, como acontece com a França, que também tem o problema do preço mas pode apresentar propostas completas.











Su-35: Proposta pouco credível e sem suporte























Su-35 – de fora, sem surpresas


Embora alguns analistas tenham ficado surpreendidos com a eliminação do caça russo, a opção por excluir o Su-35 não é inesperada.
Embora durante o programa FX inicial, ainda durante o mandato do presidente Fernando Henrique o caça russo tenha-se mostrado muito capaz, as qualidades da aeronave russa, que pareciam muito interessantes para uma FAB armada de Mirage-III, começaram a parecer mais comuns, quando ao longo dos programas FX-1 e FX-2 começaram a aparecer outros caças que tinham outros trunfos.

O Su-35 é uma aeronave que em vários aspectos ultrapassa muitos dos seus concorrentes. Em termos de propulsão, os russos são conhecidos por conseguirem extrair o máximo de potência de seus motores e a grande dimensão da aeronave permite uma considerável autonomia operacional.
A favor dos russos jogavam também as excelentes qualidades aerodinâmicas do avião, juntas a motores com vetorização de impulso. Além dessas vantagens os russos também apresentam normalmente preços muito interessantes e abaixo dos preços dos seus concorrentes.

A exclusão do Su-35 num processo de escolha que se baseou na documentação pedida pela FAB, explica-se quando a Força Aérea Brasileira apresenta requisitos e exigências claras, específicas e concretas sobre prazos de entrega, desenvolvimento dos sistemas e capacidade do cliente para efetuar essas entregas em tempo.
A industria russa, tem demonstrado sérios problemas no que respeita ao cumprimento dos contratos assinados. Têm sido fornecidas aeronaves a vários países, que embora vendidas como novas são construídas a partir de células que ficaram nas fábricas após o colapso da União Soviética. A Índia ainda hoje tem problemas com a capacidade de produção russa, com um porta-aviões que continua em estaleiro, depois de várias promessas não cumpridas.
Para piorar as coisas, o Su-35 não foi escolhido por nenhuma Força Aérea que a FAB pudesse ter como referência em termos de requisitos operacionais.
Nem a força aérea russa escolheu a aeronave para sua utilização e um dos derivados da família Su-27 (versão original), conhecido como Su-34, recebeu uma encomenda de apenas 24 unidades, mas nem assim a industria teve capacidade para entregar os aviões. Dos 24, apenas 4 foram entregues mas não estão completamente operacionais.

Acima de tudo, a FAB apresentou exigências de «primeiro mundo», para manutenção, garantia de peças de reposição, garantia de prazos de entrega. Em concursos internacionais, perante este tipo de exigência, é comum os russos responderam de forma evasiva, dado conhecerem esta deficiência. E a ter ocorrido, esse tipo de resposta, não foi seguramente suficiente para a Força Aérea Brasileira.

Ao contrário do que será possível especular, a opção brasileira não terá sido influenciada pelos últimos acontecimentos na Venezuela e no envio de aeronaves russas para a América do Sul. O Su-35 já tinha saído das «boas graças» da FAB há muito tempo.