Russos cancelam venda do submarino Nerpa

Acidente cancela negociação com a Índia


ÁREA MILITAR

Desde pelo menos 2006, que a Índia e a Rússia tinham iniciado um processo de negociações que tinha como objectivo a cessão por empréstimo ou por venda de dois submarinos nucleares russos do tipo Akula-II por parte da Rússia à marinha da União Indiana.

Os indianos, que se encontram numa não declarada corrida naval com a China, consideraram a possibilidade de adquirir um submarino nuclear, que pudesse posteriormente ser utilizado como referência ou modelo para a construção pela Índia do seu próprio submarino nuclear.

A marinha da Índia pretende queimar etapas, pois a sua industria militar está relativamente atrasada relativamente a outros países. Os indianos só na última década é que passaram a ter real capacidade para construir os seus próprios navios de maior porte e estão neste momento em condições de construir e desenhar os seus próprios navios, tendo partido de desenhos ocidentais e também de desenhos russos.

Porém, o acidente ocorrido na semana passada com o submarino «Nerpa» que alegadamente deveria ser um dos dois submarinos alvos das negociações parece ter levado o projecto de negociação a um fim abrupto.

Não foram dadas mais explicações, ainda mais porque a Rússia nunca declarou oficialmente que aquelas negociações sequer existiam, embora a imprensa indiana nunca tenha feito qualquer segredo a propósito da intenção de adquirir um ou dois Akula-II à Rússia.

O submarino Nerpa, sofreu um acidente que aumentou a longa lista de desastres navais da marinha russa, que conta com centenas de mortos já depois do final da II guerra mundial, devidos a ineficiência dos sistemas, má qualidade de construção, deficiência logística, alcoolismo ou incompetência pura e simples.

Ao contrário do que aconteceu com o desastre do Kursk (onde a recusa do primeiro ministro russo Vladimir Putin em pedir auxilio ao ocidente, provocou a morte de 118 marinheiros), desta vez a comunicação social russa foi muito rápida na divulgação do acidente, e mais rápida ainda a explicar que o mesmo tinha sido provocado por um único marinheiro que terá alegadamente activado o sistema de controlo de incêndios.

A rapidez com que os russos chegaram a uma conclusão, levantou suspeitas sobre qual terá sido a verdadeira razão da catástrofe, que provocou mais de 40 vítimas, quando mais de 200 pessoas seguiam a bordo de um submarino que tem uma lotação de 68.
A responsabilidade pela existência de um número tão grande de pessoas a bordo de um navio não poderia ser imputada ao marinheiro que foi utilizado como bode-expiatório, pelo que o assunto deixou de ser acompanhado nos jornais e na televisão, que voltaram ao tema patriótico da ressurgência da Grande Rússia, sob a égide de Vladimir Putin.

Mas a divulgação de que as negociações tiveram agora o seu fim, levanta ainda mais suspeitas sobre as verdadeiras razões que terão estado na origem do acidente.



A Índia, está envolvida em polémicas negociações com outros estaleiros russos, nomeadamente com os estaleiros de Severodvinsk, onde um porta-aviões está em remodelação destinado à marinha da Índia.

Depois de assinado o contrato os russos já aumentaram por várias vezes o preço do navio, ameaçando os indianos com a não entrega do mesmo no caso de a Índia se recusar a pagar os constantes aumentos de preços que os russos exigem.


Os submarinos do tipo 971, também conhecidos como Akula-II (Designação NATO), Schuka-B ou Bars, são os mais modernos submarinos nucleares de ataque da Rússia e a eventual cessão de dois dos dez navios da classe à Índia não parecia ser do agrado de vários militares russos. O estranho acidente a bordo do Nerpa terá assim sido um argumento de peso para cancelar as negociações com a Índia e influído na decisão de manter o navio na frota russa.

Também já foram feitas várias alusões semelhantes relativas ao destino do porta-aviões Vikramaditya. Várias afirmações contraditórias foram produzidas com fontes afirmando que os russos querem manter o porta-aviões, enquanto que outras afirmam que a marinha russa está interessada em navio novos e não em navios recondicionados que não correspondem às suas necessidades estratégicas.

Os russos têm porém tido o maior cuidado em não hostilizar a Índia, pois afinal trata-se do melhor cliente para o único produto manufacturado que a industria russa consegue exportar.