Um submarino russo do tipo Akula, uma classe de submarinos nucleares que está em fase de modernização sofreu um acidente no Sábado que levou à morte de 20 pessoas.
O acidente ocorreu depois que um sistema de combate a incendios despoletou uma resposta automática que levou a que fosse libertado na secção frontal do submarino gás Freon, destinado a reagir quimicamente com o Oxigénio do ar. O objectivo ao consumir o Oxigénio é o de apagar as chamas.
Segundo a imprensa russa não chegou a haver qualquer incêndio e o problema deveu-se apenas a um sistema de segurança defeituoso.
Por explicar está o facto de o submarino ter ido para o mar com um total de 208 pessoas a bordo. Os submarinos do tipo têm uma tripulação standard de 63 militares. O submarino tem máscaras de apoio para toda a tripulação, mas não para um numero de pessoas quase atinge o triplo desse numero.
Segundo os dados divulgados, trata-se do submarino Nerpa, cuja construção foi iniciada em 1986. O lançamento do navio ocorreu em 1994, mas não chegou a ser entregue à marinha russa. Trata-se alegadamente de um submarino que faz parte de um acordo com a marinha da Índia para o fornecimento de dois submarinos nucleares àquele país.
Segundo os dados disponíveis, o submarino encontrava-se em fase final de testes.
O sistema de extinção química de incêndios dos submarinos russos, já provocou outros acidentes.
A autoridades russas noticiaram que o navio não está danificado e que o acidente ocorreu na proa do navio, longe do reactor nuclear.
Os navios da classe Akula, são submarinos de ataque movidos a energia nuclear. Eles estão armados com torpedos e mísseis anti-navio. A classe foi lançada nos anos 80 e o primeiro navio foi entregue em 1990. Os Akula são os mais recentes e sofisticados submarinos russos de ataque da actualidade. Deslocam 9500 toneladas em imersão têm um comprimento de 110 metros e uma tripulação de 62 homens. O seu reactor nuclear permite ao navio atingir uma velocidade de 28 nós em imersão.
As principais armas do submarino são os mísseis SS-N-21, com capacidade para atacar alvos terrestres e torpedos de 533mm e 650mm.
Os submarinos estão também armados com mísseis anti-aéreos SA-N-5/8 «Strela» e mísseis anti-navio SS-N-15.
Acidente com submarino nuclear contraria as ambições militares da Rússia
Fonte: AFP
A morte de 20 pessoas a bordo de um submarino nuclear por causa de um acidente ocorrido no sábado representa, segundo os analistas, uma nova contrariedade para Moscou, que está apostando tudo em reafirmar sua força militar e seu papel de grande potência no cenário internacional.
O acidente também acontece num momento ruim porque o presidente russo, Dimitri Medvedev, deve assistir, no final de novembro, junto a seu colega venezuelano, Hugo Chávez, algumas manobras marítimas frente às costas da Venezuela.
Além disso, na quarta-feira passada, no dia seguinte à eleição de Barack Obama como novo presidente dos Estados Unidos, Medvedev pronunciou seu primeiro discurso do estado da Nação centrado numa salva de críticas antinorte-americanas.
E também fez uma velada ameaça ao anunciar a instalação de mísseis Iskander na região russa de Kaliningrado, entre a Lituânia e a Polônia, como resposta ao projeto de escudo antimísseis que Washington pensa colocar na Polônia e na República Tcheca.
"Depois da catástrofe do Kursk, em 2000 (118 mortos), e os vários incidentes sucesivos, o ocorrido no sábado éum duro golpe para a indústria militar russa", declarou à AFP em Moscou Pavel Felgenhauer, analista de temas de defesa.
Para Felgenhauer o acontecido representa um grave dano para esse setor, principalmente porque o submarino acidentado, da classe Akula, o mais rápido e silencioso da marinha russa, estava destinado a ser alugado com opção de compra pela Índia.
"No que diz respeito à opinião pública internacional, há pessoas que sabem muito bem que a Rússia não se fortaleceu", enfatizou Alexandre Goltz, especialista em temas militares da revista russa on-line Iejednevny Journal.
"Nossas forças armadas readquiriram em grande parte seu potencial de combate, mas a direção militar deve, no entanto, analisar não apenas os êxitos, como também os fracassos", declarou Medvedev na quarta-feira.
Quanto às exportações de armas russas, "é fácil ser fabricante de armas se se produz tecnologia que data dos anos 40", ironizou Bob Ayers, analista do centro de pesquiasas Chatham House, de Londres.
"A questão é saber quem quer comprar armas russas", enfatizou.
Os dirigentes russos tentaram usar dos grandes recursos petroleiros do país para reavivar a indústria militar russa, que, nos anos 90, depois da queda da URSS, entrou quase em colapso.
No entanto, o setor se encontrou em situações delicadas nos últimos anos e, inclusive, teve dificuldades para satisfazer uma encomenda da Índia de um porta-aviões da época soviética modernizado, o "Almirante Gorchkov".
Os analistas assinalam um amplo leque de problemas dentro do exército russo, como o moral baixo das tropas, a prática de trotes violentos e a diminuição do número de especialistas técnicos na indústria militar.
"Está claro que a desorganização que reina há muito tempo nas forças armadas e no setor militar-industrial e a ausência de normas de segurança rígidas têm um impacto negativo nas forças militares russas", comentou, por sua parte, Evgueni Volk, analista da Heritage Foundation.
"Como se isso não bastasse, o recente acidente com o submarino levanta muitas perguntas sobre a segurança da eneriga e das armas nucleares russas", acrescentou.
Os acidentes com submarinos nucleares russos desde 1992
Fonte: AFP
Os acidentes com submarinos nucleares russos não são raros e pelo menos nove ocorreram desde 1992:
- 29 maio 1992: Explosão do compressor elétrico de um submarino nuclear da Frota do Norte. Um morto e 5 feridos.
- 30 maio 1997: Naufrágio de um submarino nuclear russo da Décima Frota de Kamtchatka, na baía de Avatchninskaia (extremo oriente russo).
- 26 janeiro 1998: Acident do sistema de resfriamento com vazamento de amoníaco do submarino "Tomsk". Seis mortos.
- 5 maio 1998: Grave acidente a bordo de um submarino nuclear da classe "Delta-IV" equipado com 16 mísseis intercontinentais. A marinha russa não deu nenhum informação sobre o ocorrido.
- 12 agosto 2000: Explosão de um torpede dentro submarino de propulsão nuclear Kursk, durante manobras no Mar de Barents. 118 mortos.
- 30 agosto 2003: Naufrágio do submarino nuclear K-159 no Mar de Barents. Nove mortos.
- 14 novembro 2004: Explosão do reservatório a bordo de um submarino nuclear durante trabalhos de reparos. Um morto.
- 1o agosto 2005: Incêndio durante trabalhos de soldagem num submarino desmontado no canteiro naval militar de "Zvezdotchka", em Severodvinsk. Um morto.
- 6 setembro 2006: O submarino de propulsão nuclear da Frota do Norte São Daniel de Moscou sofre um incêndio perto da ilha de Rybatchiï, no Mar de Barents. Dois marinheiros morreram asfixiados.
- 8 novembro 2008: defeito no sistema antiincêndios de um submarino nuclear enquanto realizava testes no Pacífico. Mais de 20 mortos.
Vida ou morte num submarino acidentado é uma questão de segundos
Da France Presse - AFP - Via: G1
Uma questão de segundos: disso depende a vida ou a morte da tripulação de um submarino onde qualquer falha ou defeito pode se transformar numa tragédia num abrir e fechar de olhos, segundo os especialistas.
Foi exatamente isso que aconteceu para as 20 pessoas que morreram ao aspirar o gás freón liberado pelo sistema antiincêndios do "Nerpa", um submarino nuclear que acaba de sair dos estaleiros russos.
"Todo mundo sabe que, quando se navega num submarino, em um espaço tão fechado, se corre muitos riscos", explicou o capitão de navio Antoine Beaussant, chefe de operações da Fuerza Oceânica Estratégica (FOST), que comanda dez submarinos nucleares franceses.
"A bordo, a segurança de todo mundo depende da capacidade de cada um um cumprir com seu trabalho depois de realizar ensaios quase diários em situações de incêndio ou entrada de água, os dois pesadelos de todo submarinista", enfatizou.
No entanto, o comandante diz que o panorama não é tão sinistro e recorda o último acidente fatal ocorrido a bordo de um submarino francês, em 1994, no qual morreram dez marinheiros, vítimas de uma sucessão de circunstâncias: um vazamento de água, sem gravidade, mas espetacular, a ordem de subir à superfície imediatamente, as máquinas à toda marcha e um conduto de vapor que explodiu no compartimento onde estavam os dez submarinistas.
"Em caso de incêndio, o principal perigo são os vapores tóxicos", acrescentou Beaussant.
Por isso, uma vez dado o alarme, as equipes de intervenção devem chegar ao local imediatamente para apagar o fogo.
Em certos compartimentos, concretamente os dos motores diesel, das baterias ou máquinas, meios de extinção fixos completam o dispositivo e difundem, segundo o caso, água, espuma ou gases inertes.
Estes últimos têm como objetivo apagar o incêndio diminuindo a porcentagem de oxigênio no ambiente. Mas é preciso evacuar todos os membros da tripulação da zona antes de empregá-los. Caso contrário, provocam asfixia, como pode ter ocorrido no "Nerpa".
O outro grande perigo em um submarino são os vazamentos de água. Se são importantes, a reação da equipe deve ser como um reflexo, imediato e sem pensar.
Um submarino que navegue a 200 metros de profundidade deve voltar para a superfície em 30 segundos para que evitar que o vazamento implique uma catástrofe.
A respeito da parte nuclear do submarino, o pior pesadelo é o que aconteceu em Chernobil: falha do sistema de esfriamento do núcleo do reator, que se torna incontrolável e entra em fusão.
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