Experiência em guerra assimétrica
Israel tenta corrigir parte dos erros do passado
AREA MILITAR

Alguns analistas militares têm afirmado que o exército de Israel parece ter efectuado algumas alterações e modificações tácticas, que influíram de forma determinante no progresso nas operações contra a região de Gaza.

O actual conflito é em grande medida parecido com o que ocorreu em meados de 2006 contra o Sul do Líbano.

Naquele conflito, a utilização maciça de meios aéreos contra as forças do Hezbolah e contra a sua capacidade para efectuar ataques com foguetes sobre o sul de Israel não teve os resultados esperados.

A presente operação parece ter sido tratada e planeada de forma diferente. Nos primeiros dias dos ataques aéreos contra as forças do movimento Hamas, foram efectuadas mais de 500 missões de bombardeamento.

Mas para lá dos ataques aéreos - e ao contrário do que tinha acontecido em 2006 - o exército de Israel estava preparado para intervir no terreno, tendo forças preparadas e organizadas para entrar em território de Gaza, para destruir alvos que de outra forma não estariam a ser destruídos.

Mesmo depois de ter decorrido uma semana de bombardeamentos aéreos, o Hamas continuou a demonstrar capacidade para disparar foguetes de artilharia, mas desta vez as forças israelitas não parecem ter ficado surpreendidas.

Pelas imagens disponibilizadas pelas televisões, foram pela primeira vez utilizados operacionalmente os novos UAV do tipo «Heitan». Estas aeronaves permitem dispor de informação sobre o terreno muito mais precisa, embora continue a ser impossível evitar as movimentações subterrâneas dos militantes islâmicos. Os Eitan estão equipados com um pequeno radar de abertura sintética que permite obter uma imagem 3D do terreno, reduzindo a vantagem que pequenas forças podem ter em terreno urbano.

Também estão a ser utilizados radares de vigilância do campo de batalha, os quais estão ligados a sistemas de artilharia que utilizam artilharia de 155mm e também morteiros de 120mm.

Este tipo de sistema é igualmente preciso e pode determinar a origem de um ataque de foguetes de artilharia com uma precisão muito elevada.
Conhecendo esta característica dos sistemas, os militantes islâmicos tentaram efectuar os seus lançamentos de foguetes a partir de instalações onde era conhecida a presença de civis, nomeadamente crianças.

Guerra nos média

Não tendo capacidade militar para enfrentar Israel, e estando em desvantagem militar clara, a única forma que o movimento Hamas tem para afrontar Israel, é tentando criar problemas junto da opinião pública, provocando grandes morticínios cuja culpa é normalmente atribuída ao exército de Israel.

As emissoras de televisão árabes, também têm colaborado nesta guerra de propaganda, mostrando até à exaustão as imagens de crianças mortas durante o conflito, recusando pura e simplesmente mostrar imagens de lançamento de foguetes de artilharia por parte do Hamas.

As montagens televisivas organizadas pelos terroristas islâmicos foram já várias vezes desmascaradas, nomeadamente durante as operações contra o sul do Líbano em 2006.

Gheto de Gaza

No entanto, não é apenas por causa da propaganda do Hamas que a situação de Israel tende a piorar perante a comunidade internacional. À frente da lista de razões que tendem a colocar Israel no Banco dos Réus está a situação de cerco a que a região de Gaza tem sido submetida.

A contínua situação de cerco, faz lembrar um Gheto de judeus durante a II guerra mundial, onde sempre que um militar alemão era morto, isso implicava uma punição de 100 judeus mortos por cada alemão.

As operações militares de Israel debatem-se com o problema da opinião pública internacional, que como é normal nestes casos acaba por tomar posição pela parte mais fraca, que neste caso é nitidamente o Hamas.

Os objectivos das forças de Israel, também parecem ser bastante menores. Ao contrário de querer degolar o Hamas, Israel pretende pelo menos para já reduzir a sua força militar, matando tantos militantes quanto possível.
Além disso, pretendem isolar a região sul da faixa de Gaza, que tem fronteira com o Egipto. Nessa região onde foram construídos muitos túneis [1] que são a principal fonte de abastecimento da faixa de Gaza, quando Israel isola a região cortando os acessos.

Com o corte dos túneis, a população de Gaza ficará completamente isolada e a possibilidade de o Hamas receber armamento para continuar os ataques reduz-se consideravelmente.


[1] - Não há consenso quanto à quantidade de túneis construídos. Os números apontam para 6 a 50. Também se sabe que os túneis variam muito em dimensão, comprimento, largura e condições de construção. Enquanto alguns túneis permitem o transporte até de animais de grande porte (Há notícias que apontam para o transporte de vacas pelos túneis), outros permitirão apenas passagem de uma pessoa e são de construção frágil.