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Korolev, o criador das grandes naves espaciais

Jornalista Externo - Paraná Online - Por:Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, escreveu mais de 80 livros, entre outros, Anuário de Astronomia e Astronáutica 2007. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com.


Em 12 de janeiro de 2007, o presidente Wladimir Putin homenageou, a véspera do centenário de nascimento de Korolev, o pai da astronáutica soviética. O engenheiro Serguei Pavlovitch Korolev, nascido em Jitomir, na Ucrânia, em 30 de dezembro de 1906 (12 de janeiro de 1907, no calendário gregoriano atualmente em uso na Rússia), era filho de uma família de mestres de escolas. Terminou seus estudos secundários em Odessa em 1924. Estudou no Instituto Politécnico de Kiev e, mais tarde, na Escola Superior Técnica de Moscou, onde obteve o diploma de engenheiro em construção aeronáutica, em 1929. Simultaneamente, concluiu o seu curso na Escola de Pilotos de Moscou. Durante um ano, em 1927, trabalhou no departamento de projetos da indústria aeronáutica.

Aos dezoito anos, construiu seu primeiro planador. Regularmente ia a Koktebel, na Criméia, um dos principais centros aeronáuticos, onde anualmente se realizavam competições nacionais de vôo com planadores, para participar e apresentar os diversos modelos de planadores que construiu, ao longo de sua vida, nos seus momentos de lazer. Os mais notáveis foram A estrela vermelha, a bordo do qual executou, em 1930, suas mais ousadas acrobacias aéreas, e o planador com dois lugares SK-9, apresentado em 1935. Esse último seria, mais tarde, dotado de um motor-foguete com combustível líquido. Todos os engenhos que realizou distinguiram-se por sua construção e inovação.

Na realidade, diante dos seus sucessos, Korolev logo começou a se dedicar à concepção de aparelhos rápidos que voassem nas mais elevadas altitudes. Assim, criou uma série bem-sucedida de veículos para vôo sem motor.

Depois de se familiarizar com os trabalhos de K. Tsiolkovsky, apaixonou-se pela idéia de criar um veículo espacial com foguete de vários estágios. Com esta determinação, em 1930, Korolev deixou a escola de pilotos e abandonou a aviação para se consagrar inteiramente aos foguetes, como subchefe na construção de motores de aviões de guerra. Após um encontro, em outubro de 1931, com Fridrikh Arturovitch Tsánder (1887-1933), apaixonou-se pelos vôos interplanetários, o que o levou à organização do Instituto de Estudo do Movimento a Reação de Moscou, quando os primeiros foguetes soviéticos de combustíveis líquidos começaram a ser projetados, construídos e experimentados. Nesse grupo, lançou-se, em agosto de 1933, o primeiro foguete soviético de combustível líquido. Em 1934, publicou Um vôo de foguete pela estratosfera.

Além de ter elaborado uma série de projetos de foguetes destinados à exploração espacial - um dos seus sonhos -, Korolev defendeu sempre que esta deveria ser a prioridade do grupo, em oposição às idéias do chefe Ivan Kleïmenov e dos responsáveis do Departamento de Defesa do Ministério da Indústria que defendiam o desenvolvimento de mísseis com objetivos militares. Em conseqüência dessa divergência, Korolev foi demitido do posto de direção, permanecendo no instituto na qualidade de engenheiro, o que lhe permitiu prosseguir os suas pesquisas.

Em 1936, nomeado o principal projetista do Departamento de Foguetes, criado junto ao instituto, estava prosseguindo, com avanços significativos, suas pesquisas, quando, em virtude de sua personalidade brilhante, ativa e independente, foi acusado de atividades anti-soviéticas, durante a onda do Grande Terror, que dominou os anos de 1937 e 1938, quando vários cientistas foram presos. Julgado culpado, foi preso e torturado. Em um dos interrogatórios, teve o seu maxilar inferior fraturado quando perdeu todos os dentes. Ele deve a sobrevida à iniciativa do famoso engenheiro aeronáutico Andrei Tupolev (1888-1972), que solicitou e obteve a sua transferência para uma equipe designada para elaborar e conceber aviões de combate, em regime carcerário.

Entre 1939 e 1940, o preso Korolev escreveu várias cartas aos dirigentes do seu país tentando em vão convencê-los de aceitá-lo para trabalhar nos projetos de aviões a jatos, uma vez que esse tipo de arma era uma inovação fundamental. No fim do ano de 1940, seu nome foi inscrito numa lista de especialista, que Andrei Tupolev precisava para conceber e desenvolver um bombardeio. Todo desenvolvimento desse aparelho deu-se num escritório de estudos carcerários, quando Korolev trabalhava paralelamente no projeto de um avião a jato, o que lhe valeu trabalhar num outro projeto, ainda em regime carcerário, onde sob a sua direção um míssel foi criado. Após a sua liberação, em 1944, Korolev trabalhava num míssel de longo alcance, quando foi enviado a Alemanha para conhecer os projetos alemães. Ao retornar a URRS concebeu um projeto de míssel balístico inédito, com um alcance duas vezes superior ao das V-2 da Alemanha nazista, projetada por Von Braun. Nessa ocasião, um Centro de Indústria Balístico NII-88 foi instalado nas proximidades de Moscou. A direção deste centro de estudos foi confiada a Korolev.


No início, o centro tinha como objetivo principal realizar pesquisas relativas à construção de míssil terra-ar, assim como o desenvolvimento de motores que usassem combustível líquido. A iniciativa criadora de Korolev assumiu uma tal envergadura que o projeto NII-88 passou a ser a meta essencial do grupo. A partir de então Korolev tomou parte direta na construção de foguetes.

O talento de Serguei Korolev se manifestou também na criação do Instituto Politécnico Baouman, próximo à cidade de Moscou, destinado a formação de engenheiros em balística. Ele foi igualmente aquele que estabeleceu ligações estreitas entre a indústria balística e os responsáveis pelo programa nuclear. Esses dois setores tinham um mesmo objetivo: construir um míssel balístico de longo alcance capaz de transportar cargas nucleares e termonucleares. Consciente da importância dos mísseis intercontinentais para prevenção de uma guerra nuclear, ele fez todo possível para que o seu país possuísse essa arma o mais rapidamente possível. Após a criação do míssel balístico intercontinental R-7 que deu início à era espacial, Korolev lamentava que os esforços sobre humanos para impedir que a corrida armamentista não se estendessem ao espaço.

Em 1940, o planador-foguete monotripulado RP-318-1, concebido a partir do SK-9, foi testado em vôo com sucesso. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial (1941-1945), Korolev dedicou-se ao aperfeiçoamento dos aviões militares a reação, ao mesmo tempo desenvolveu foguetes com motores de combustível líquido.

Após o término da guerra, em 1946, Korolev foi encarregado de dirigir os trabalhos sobre foguetes balísticos de longo alcance. Os primeiros testes ocorreram no outono de 1948.

A crescente tensão entre EUA e a URSS que marcou os anos posteriores à Segunda Guerra Mundial. Era o início da Guerra Fria, quando engenheiros de ambos os lados procuravam desenvolver foguetes de grande alcance usando combustível líquido. Era o início da corrida para construir o Míssel Balístico Intercontinental (IBM).


Essa corrida se tornou mais competitiva a partir de 1949, quando os soviéticos testaram a sua primeira bomba nuclear. Enquanto os engenheiros norte- americanos, sob a orientação de Von Braun, desenvolviam seus foguetes, do lado soviético Korolev conduziu os esforços destinados à construção do Míssel Balístico Intercontinental. Com a criação pela equipe chefiada por Korolev de um poderoso foguete, oficialmente designado de R7, no entanto, mais conhecido pela sua designação russa Semyorka (que se significa número sete), os soviéticos assumiram a liderança no espaço. A partir de então até 1956, quando os primeiros mísseis estratégicos com cargas nucleares entraram no arsenal do exército soviético, grandes aperfeiçoamentos foram desenvolvidos sob a direção de Korolev. Finalmente, em 21 de agosto de 1957, o que poderia ser considerado o primeiro míssil balístico intercontinental de dois estágios foi lançado com sucesso. Na realidade, tratava-se de um Semyorka que alcançou uma distância de 2.480 km, o suficiente para classificá-lo como um foguete intercontinental. Este resultado deu um novo alento aos sonhos de Korolev: as viagens interplanetárias estavam cada vez mais próximas de se tornarem uma realidade. Com efeito, simultaneamente com os projetos desse míssil balístico, desenvolveu-se o programa de um lançador destinado a colocar em órbita um satélite artificial.

Ao contrário do que muitos historiadores acreditam, o primeiro míssel balístico intercontinental, denominado Atlas, foi lançado pelos norte-americanos no fim de 1958; enquanto o dos soviéticos só ocorreu em dezembro de 1959.

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Os esforços de Korolev no desenvolvimento do ISBM permitiram que um dos seus maiores sonhos se tornasse uma realidade: explorar o espaço. Com efeito, foi sobre a direção de Korolev que o Semyorka tornou-se o primeiro lançador do primeiro satélite artificial - Sputnik -, em 4 de outubro de 1957.

Após o lançamento do primeiro satélite, Korolev consagrou grande parte dos esforços aos satélites de aplicação e aos vôos tripulados. De 1949 a 1955, foguetes com cápsulas recuperáveis foram regularmente lançados. Em determinados casos, as cápsulas levavam animais com objetivo de estudar as reações dos seres vivos às condições dos vôos espaciais. Todavia, os vôos tripulados só começaram, realmente, em fins dos anos 50s.

Nos anos de 1950s e 60s, os fusólogos soviéticos Mikhail Yanguel e Vladimir Tchelomeï ganharam o apoio político de Nikita Khrouchtchev, o que exigiu de Korolev um comportamento de um autêntico diplomata para que o objetivo de exploração pacífica do espaço permanecesse associado aos ideais de Konstantin Tsiolkovski, assim como a sua concepção de criação de poderosos foguetes capazes de satirizar uma grande estação espacial, bem como o protótipo de uma colônia espacial e de um veículo interplanetário dotado de um grupo de motores eletro reativo. As palavras que havia pronunciado com relação a Tsiolkovski podem encaixar em relação a sua própria pessoa: “era um homem em avanço sobre o seu tempo, como são todos os grandes pesquisadores”.

Nos anos de 1960 e 1961, vários satélites foram colocados em órbitas com animais a bordo. O sucesso desses vôos, além de permitir resolver as questões de biologia, possibilitou aperfeiçoar todos os sistemas de bordo. Em 12 de abril de 1961, Yúri Gagarin realizou um vôo de 108 minutos ao redor da Terra, iniciando a era dos vôos tripulados. No mesmo ano, Guerman Titov voou durante 25 horas. Korolev participou ativamente dos preparativos de todas as missões tripuladas, até a sua morte em 1966.


As contribuições de Korolev à astronáutica são incríveis. Seu nome está associado aos principais feitos da era espacial: o primeiro satélite artificial da Terra (1957); as primeiras fotografias da face oculta da Lua (Lunik III, 1959); o primeiro veículo espacial habitado: Yúri Gagarin (1961); a primeira mulher cosmonauta, Valentina Terechkova (1963); a primeira saída de um homem no espaço: Aleksei Leonov (1965); o primeiro impacto de uma sonda em outro planeta: Vênus (1966); a primeira alunissagem de uma sonda (Lunik IX, 1966).

Os estudos e idéias técnicas de Korolev foram fundamentais para a história da cosmonáutica soviética. Serviram para a criação das naves Vostok e Voskhod, que conduziram os primeiros cosmonautas. Também sob sua orientação foram construídas as naves lançadas em direção à Lua, Vênus e Marte, bem como as das séries Electron, Molniya-1, Cosmos e Zond.

Quando preparou os seus primeiros satélites, trabalhava até 18 horas por dia na sua oficina. Quando os testes não se ajustavam, passava longas horas modificando ele mesmo os projetos, pois os seus auxiliares não tinham a mesma garra. Em virtude de uma imperícia médica, durante uma cirurgia intestinal exploratória, faleceu em Moscou em 21 de janeiro de 1966.