Os Boeing 707 na Força Aérea Brasileira

Fonte: Cultura Aeronáutica por JONAS LIASCH


Em 1986, a Força Aérea Brasileira resolveu adquirir quatro aeronaves Boeing 707 para aumentar sua capacidade REVO (Reabastecimento em Voo), até então atendida pelas aeronaves turbo-hélice Lockheed KC-130 Hercules.

As quatro aeronaves foram adquiridas da Varig, que estava substituindo sua frota de 707 por modelos mais econômicos e com maior capacidade, como os DC-10 e Boeing 767.

Os aviões escolhidos foram os que operavam na Varig com as matrículas PP-VJK, PP-VJY, PP-VJX e PP-VJH, que seriam convertidas como aviões tanques KC-137 e levariam os números FAB 2400, 2401, 2402 e 2403, respectivamente. Posteriormente, o PP-VJK, operando seu último voo pela Varig, caiu na Costa do Marfim em janeiro de 1987, foi substituido pelo PP-VLK em março do mesmo ano, e levou o número FAB 2404.

Todas as quatro aeronaves voaram para os Estados Unidos para serem convertidas em reabastecedores. Foram equipadas com pods de abastecimento Beech 1080 nas pontas das asas, os quais possuem mangueiras retráteis de 12 metros de comprimento e um "cesto" estabilizador, no qual as aeronaves podem encaixar suas sondas para receber o combustível. As aeronaves não possuem tanques extras de combustível, já que a sua capacidade original é grande o suficiente para cumprir suas missões na FAB.


A aeronave 2401 (foto abaixo) foi equipada para servir como transporte do Presidente da República em voos mais longos, nos quais os Boeing 737, denominados na FAB VC-96, deixavam a desejar. O FAB 2401 se distinguia externamente dos demais pela sua pintura VIP, em branco com uma faixa preta na altura das janelas. O primeiro voo do 2401 como presidencial ocorreu em 1986, transportando o Presidente José Sarney, e mais de 2500 missões de transporte presidencial ocorreram depois disso.

O FAB 2401 possuia um interior VIP, com uma suíte a bordo para o presidente, sala de reuniões e poltronas para as comitivas presidenciais. Apesar disso, o interior era simples e austero, sem ostentação, mas bastante confortável. Esse "kit" presidencial podia ser instalado nas outras aeronaves KC-137 da FAB.

Durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, houve alguns incidentes com o FAB 2401, e em uma dessas ocasiões o avião foi apelidado pelo então Chanceler Luiz Felipe Lampréia de "Sucatão". O apelido infelizmente caiu no agrado da imprensa e "pegou". O Presidente Fernando Henrique Cardoso passou a evitar o avião e contratou aeronaves Airbus A-330 da TAM para suas viagens intercontinentais, mas o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a utilizar o FAB 2401 até adquirir uma aeronave Airbus A319 ACJ para atender à Presidência em fevereiro de 2004. O ACJ da Presidência foi entregue em janeiro de 2005, mas o velho 2401 continuou no serviço de apoio e reserva aos voos presidenciais, e voa normalmente como reabastecedor.
Os KC-137 revelaram-se aeronaves muito úteis na FAB, pois podem cumprir muitas missões de transporte de passageiros e cargas, além de sua função de reabastecedor. A FAB utilizou as aeronaves em missões humanitárias, como no Timor Leste, resgate de cidadãos brasileiros em países conturbados pela guerra e até para suprir empresas aéreas com falta de equipamento, como aconteceu com a TAM no final de 2006.

Quando foram adquiridos em 1986/87, os Boeing 707 tinham menos de 20 anos de uso, sendo o mais antigo o 2401, fabricado em 1968. Como voam na FAB muito menos do que voariam na aviação comercial, todas as aeronaves ainda possuem uma grande vida útil de célula pela frente e devem permanecer em serviço ativo por muitos anos. A maior dificuldade é conseguir peças de reposição para uma aeronave que teve sua produção encerrada há 30 anos, em 1979, o que obrigou a FAB a adquirir pelo menos 3 aeronaves civis e canibalizá-las para manter a frota voando.